Capítulo 24 - Incentivadores do passado

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Gisele



O dia havia passado rápido, já  estávamos no fim do expediente. Eu havia recebido uma ligação  do Nícolas, me pedindo pra não  me preocupar,mais que ele passaria a noite fora e chegaria amanhã de manhã. Coisa de última  hora,ele disse. Eu liguei pro Artur,não  que eu não  confie  nele ,só  que achei estranho o Nícolas sair pra resolver algo fora da cidade. Raramente isso acontece, ou melhor,não  me lembro de já  ter acontecido antes. Também estranhei o fato dele não ter vindo  aqui, na empresa, me dar um beijo antes de ir.  Mesmo sabendo que eu ainda estou me sentindo mau. O italiano abrasileirado logo atendeu a ligação,achando graça do ciúmes que eu ainda tinha dele.

— Ainda existe  amor,nesse coraçãozinho? — Indagou-me, todo risonho e senti uma pontinha de amargura pelo o que ele me disse. Será  que me tranquei tanto ao ponto dele pensar que eu não  o amo mais? Mais não  me lembro de ter demonstrado isso,já  que sou absurdamente apaixonada por aquele ruivinho.

— Existe,e muito. — Lhe disse,animada e ouvi sua risada.
— Artur,essa viagem do Nico, é  verdade? — Ele gargalhou.

— E porque não  seria? — Retrucou. — Tenho cara de quem ajuda o amigo a mentir? — O Davi me olhou,do outro lado da sala terminado de guardar suas coisas na pasta.

— Deixa pra lá, nem sei porque te liguei. Tô  me sentindo envergonhada por agir como uma adolescente. — Me desculpei do meu jeito.

— A única  vergonha que você  devia ter é  de não  amar. — Me disse, todo filósofo. — A Gisele que conheço é maluca de pedra,fala sem pensar e não  liga pra opinião  dos outros. Cadê  ela? — Indagou-me. — Ainda existe?

— Óbvio  que existe,ela só  precisa acordar. — Brinquei.

— Então  chama o Davi, porque  hoje é  o dia de recordarmos dessa Gisele maldita. — Eu ri.

— Não  sei... — Murmurei. — Eu não  tô  bem pra sair. — Confessei.

— Não  quero saber. — Me disse,convicto de suas ações. — Passa o telefone pro Davi. — Pediu e eu estendi o aparelho pra ele,que logo pegou sem entender nada. Respirei fundo e pensei nas palvras que ele havia me dito. Ele tinha razão. Eu sou quem eu sou,e não  essa mentira que me tornei. O Davi ria animado. Logo finalizou a ligação  e me devolveu o aparelho. 

— Então? — Murmurei.

— Tá  confirmado. As nove nos encontramos. Te busco  na sua casa,ou você  me busca? — Indagou-me.
— Vamos Gi,vai ser legal. Como nos velhos tempos.

— E a sua esposa? Ela não  vai gostar muito de saber que o marido dela tá  saindo a noite com uma amiga que também  é  casada!

— Ela não  precisa saber. Não  farei nada de mais. — Eu ri.

— Ela não  tá  em casa,não é?  — Ele assentiu.

— Ela foi visitar  os pais,e só  volta amanhã  de noite. — Eu ri.

— Você me busca,pode ser? — Ele assentiu todo sorridente.

— Como nos velhos tempos.
— Afirmou-me,sozinho. Voltando pra mesa e puxando a pasta.




Algumas horas depois



Eu já  estava pronta,coloquei um vestido preto com brilho e uma sandália  de salto alto fino. Cabelos soltos,maquiagem pesada pra noite e um sorriso apagado nos lábios.  Eu estava sentada no sofá  de pernas cruzadas acariciando o Félix no meu colo. Triste ,ainda doía muito dentro do peito. A saudade era grande. Isolada dentro de si,fingindo está  bem pro mundo,mais não  estava. Passava longe da felicidade. Me sentia vazia sem o Nícolas  por perto. Ele me fazia falta. Tantos anos juntos,que é  estranho quando ele não  está por perto pra me encher o saco com suas manias estranhas. Puxei o meu celular de dentro da bolsa pequena de alças de finas. Disquei o número  daquele desalmado. Ele não  atendeu,eu só  conseguia ouvir a voz robotizada da secretária  eletrônica. Finalizei a ligação e devolvi o celular pra bolsa e não  demorou para que eu também  ouvisse  a buzina do carro do Davi. Coloquei-me de pé, ajeitei a bolsa nos ombros e beijei a cabecinha do meu neném de quatro patas. Segui até  a porta e a abri. Me surpreendi quando vi que o Davi,estava lindo dentro daquelas roupas alinhadas. Blusa estampada com um desenho antigo desses de mangá, calça  jeans,tênis e os cabelos desgranhados. Sem óculos? Ele ficava diferente sem eles,mais sorria animado e boquiaberto pela produção que fiz pra essa noite. Ele me esperou do lado de fora do carro. Abriu a porta,e assim que tranquei a porta de casa me aproximei dele. Beijei suas bochechas e me sentei,no banco do passageiro. Eu me sentia estranha,parecia que eu traía meu ruivinho.

— Onde vamos? — O indaguei assim que ele se sentou,e fechou a porta do carro. Sorriu,ao liga-lo e não  me respondeu nada.

— Surpresa! — Me disse apenas isso.

— Você tá  tão...—Eu não  conseguia escolher a palavra certa para lhe dizer isso. — Tão  Davi.— Ele riu.

— Isso é  um elogio ,não é?
—Indagou-me e eu ri.

— Sim,é. — Eu ri.

— Mais a lógica  dessa noite e revivermos nossos "eu" do passado.
— Constatou. — E você  fez jus ,a isso. Se vestiu como a maldita malévola que era...que sempre foi,na verdade.
— Eu o bati,levemente nos ombros.

— O Artur,ele não ia conosco? — Ele assentiu.

— O filho da mãe, tá  nos esperando lá. —Murmurou ,atento na estrada.

— Lá  onde? — Insisti.

— Onde vamos. — Me repreendeu por força-lo a dizer. — Você  vai gostar. Respirei fundo e liguei o rádio.

— Então  se é  assim, vamos botar a maldita pra fora. — Murmurei e ele abriu o maior sorrisão. —Vamos nos divertir. — Comecei a cantarolar alto,a música  que tocava. Era um pop rock antigo,do tempo em que eu ouvia bastante. Até  nisso o destino tava a favor desses incentivadores do passado não  muito longe.

Meu pedacinho tão esperado✔Onde histórias criam vida. Descubra agora