Capítulo 36 - Amigas?

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Nícolas





Deixei a minha pequena em casa, depois de leva-la a uma sorveteria para tomar seu sorvete. Rimos bastante, e conversamos também. Tudo era muito recente. A perda da Marina, minha filha com o coração partido pelo filho do meu melhor amigo. Eu, desatento que sou lembrei-me do episódio horrendo que vivemos naquele dia. A perguntei como eles estavam lidando com tudo,e ela respondeu-me com um simples: Não sei. Aquele infeliz sumiu da vida dela. Tenho que me lembrar de ir atrás dele pedir explicações. Saí da casa da Fernanda e passei em um mercado próximo. Comprei algumas cervejas, e as levei comigo até a casa do Sidney Saldanha. Ele estranhou ao me ver parado na porta dele, segurando uma sacola de plástico. Convidou-me para entrar. Eu sempre o vi muito ativo. Falando alto, cheio de si. Mandando em tudo,tendo tudo sobre o controle dele. O que eu via agora era o oposto. Era apenas um homem sozinho, e triste. Tudo naquela casa lembrava dela. As fotos ainda estavam lá. A presença dela ainda era muito forte ali.

— O que te trás na minha casa?
— Ofereceu-me um espaço em seu sofá. A televisão ligada em um programa que eu antigo de comédia. Mas eu duvidava se ele realmente assistia, ou se trancava em seus pensamentos. Os olhos marejados não mentiam.

— Eu quis vim te ver.— Ele olhou-me, duvidoso do que acabará de ouvir e soltou uma risada.

— Eu vivi pra ouvir isso sair da sua boca. — Eu acabei rindo também.

— Ah, eu te trouxe isso. — Peguei uma garrafinha da bolsa e o entreguei. Abri uma, e tomei um gole.

— A Gi sabe que você veio aqui? — Eu neguei.

— Ela nem faz idéia.— Ri,e o vi tentar abrir a garrafa dele. Puxei o abridor do meu bolso,mas ele não quis e tirou a tampinha com o dente.

— Como ela está? — Tomou um gole generoso.

— Melhor. Ainda sofre, mais tá seguindo em frente. Coisa que você também devia fazer. — E foi naquela hora que eu percebi o que acabará de fazer. Aquele cara já tentou me quebrar no meio,por causa da filha dele.

— Fico feliz por ela. — E tomou outro gole.

— Desculpe-me a minha intromissão.
— Tentei tomar mais cuidado dessa vez. Ele tava velho,mais não menos perigoso. — Porque você não se desfaz dessas coisas? — Ele sorriu fraco.

— Eu devia. E vou fazer, mas não vai adiantar muito. É aqui dentro. — Tocou em seu peito. — Que dói mais. Todos os dias. — Tomei um gole da minha bebida. — Eu espero que você não sinta o que estou sentindo tão cedo.

— Nem eu. — Ele deu alguns tapas em minhas costas. E eu me tremi todo.

— Vou preparar uns petiscos pra gente.
— Levantou-se e foi pra cozinha. Eu o segui. — Como foi a lua de mel?

— Foi maravilhosa, apesar de tudo.
— Puxei uma cadeira e me sentei. Ele pegou umas linguiças da geladeira.

— Vô, a mãe deixou eu dormir aqui.
— Veio correndo até a cozinha, o Miguel e o seu cachorro inseparável. — Oi Nico.
— Veio cumprimentar com um aperto de mãos confuso. — O senhor não se importa,não é?

— Não. Mas não mexa no canal da televisão. — O Sidney riu,e o garoto bufou.

— Mais o senhor nem está vendo.
— O Sidney sorriu. E foi um sorriso tão sincero,que fazia sentido o garoto querer ficar com o avô. Fazia bem pros dois.

— Tá,mais não faça bagunça. — E o Miguel correu pra sala.

— Ele te venera. — Comentei.

Meu pedacinho tão esperado✔Onde histórias criam vida. Descubra agora