Capítulo 18 - Vai ficar tudo bem.

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Gisele





Seguimos juntos até  a casa da Fernanda. Todos já  haviam chegado. Faltava apenas a minha menina descer. O Nícolas  me olhava confuso.

— O que ele faz aqui? — Indagou-me meu ruivinho intrigado. — Eu nem sabia que eles eram tão  próximos. 
— Constatou. 

— Já já  vamos descobri. — Apenas lhe disse isso,e segui até  o rapaz.

— Ele deve está  me odiando.
— Disse-me o Luan, encarando o Nícolas de longe em um canto da sala.

— Ele nem faz idéia  do que se trata essa reunião. — Lhe confessei.

— Não  contou a ele?
—  Perguntou-me perplexo.

— Não.  — O afirmei com a maior naturalidade do mundo.

— Eu não vou sair vivo daqui.
— Murmurou e eu ri.

— Gi, Venha aqui por favor.
— Chamou-me a Fê.  Eu assenti e fui até  ela. — Tem como você  ir até a padaria buscar mais pães? — Eu assenti. — Obrigada. — Beijou meu  rosto em gratidão. — Não  tem nada melhor do que conversar de barriga cheia. — Sorrimos.


Meia hora depois






A padaria estava cheia e tive que aguardar na fila por dez minutos até  chegar a minha vez. Aproveitei e comprei alguns biscoitos amantegados. Na volta,deixei os pães na mesa , junto com os biscoitos e abri a geladeira atrás de uma água  gelada. Ouvi algumas vozes alvoroçadas vindo da sala. Assim que voltei para a sala com um copo de água  nas mãos, vi e ouvi todo aquele drama de família  ser executado,bem ali , na minha frente. Homens feitos, tentando afastar a menina dos olhos deles do mundo real. Da adolescência  dela. Das vontades dela.


— Isso aqui tá  parecendo um circo armado. — Minha voz saiu um pouco debochada, logo fui fuzilada com os olhos do seu Sidney em mim. E não  era um olhar bom, mais não  me importei. Realmente , eles estavam parecendo um bando de palhaços brigando por um espaço de atenção da platéia, que no caso éramos  nós.  O restante da família que só  ouvia e pouco  se metia. O coitado do Luan,não  parava de mexer as pernas. Ele estava em pânico,no lugar dele eu também  estaria. Não  somos uma família  muito fácil  de se lidar. E ele foi mexer logo com a menina mais vigiada da família. Sentei-me ao lado da Pérola , no braço  do sofá. Deu uma vontade  de abraca-la e protege-la desses bárbaros,mais se eu fizesse isso seria igual a eles e não  a rebelde da família.

Eu os olhava com um sorriso  nos lábios,os homens da casa bringando para defenderem a honra da Perolazinha. Eles a tratavam como se ela ainda fosse uma menina indefesa. Coisa que ela não  é, já  que aprendeu a se cuidar sozinha.  Eles não  suportam a idéia  de aceitar que ela não  precisa mais deles. Que ela cresceu e virou uma mulher. Minha mãe tentava parar a briga de galo alfa dos rapazes ,era uma tentativa frustada ,já  que eles imendavam em mais argumentos sem fundamentos. Chegava a ser hilário, se não  fosse tão  trágico.  Eu gostava dessa bagunça ,eu fazia questão  de está  presente no meio deles , e sentada na primeira fila. Ao lado da minha menina, como sempre foi. E será.

Meu mundo começou a desmoronar assim que a dona Marina desmaiou. Primeiro eu pensei que fosse por causa da pressão  baixa,o dia estava quente ,a sala abafada ,apesar da Fê deixar todas as janelas abertas e o ventilador  ligado. Mais ainda assim, estava abafado. Havia muita tensão no nosso meio, muitas discussões  por todos os lados,vindo de todas as partes. Era como se tivessemos no meio do tiroteio. Tentando não  se ferir, mais era impossível. As balas "comiam" soltas. Mais não  era apenas isso. Era algo mais. Me desesperei ainda mais, quando de fato vi a feição  de temor no rosto do seu Sidney.

Por sorte, ele foi ágil.  Se recompôs e fez o que devia fazer. Ele sabia que ela estava prestes a sair de nossas vidas.  Meu coração  desacelerou, meu mundo  parou. Meus ouvidos se fecharam de tal forma que eu gritava e não  me ouvia gritar.  Eu só  pensava: Minha mãe  vai morrer! Minha mãe  vai me deixar.

Senti uma mão  me puxando para perto de si. Um abraço  forte e acolhedor. Um pouco trêmulo  e desesperado , não  pela situação  em si,mais por minha reação.  Ouvi o Nícolas  sussurrar no meu ouvido : Ela vai ficar bem. Vai ficar tudo bem.  Mais eu sabia que aquilo não  era verdade. Não  era. E não  é.  Nada mais vai ficar bem. Sempre vai ter um vazio em meu peito, um aperto no coração, uma pontada de saudade nas minhas  lembranças ,na minha  vida.

— A ambulância  já  está  chegando.
— Afirmou-nos , o Erick. Ele parecia ser o mais sensato de todos nós. 

— Eu quero  ir com ela.
— Sussurrei  ,já  empurrando o Nícolas para me soltar de seus braços. 

— Gisele ,se acalme. — Pediu-me a Fernanda,mais a última  coisa que irei fazer é  me acalmar. Ninguém  consegue se manter calmo vendo sua mãe  morrer.  Eu os ignorei ,e subi as escadas com pressa e me aproximei dela. Ela estava pálida  e quase desfalecida. Meu choro se descontrolou eu me deitei ao seu lado e a abracei. Encostei meu ouvido em seu peito,e eu mal ouvia os batimentos  de seu coração. Vi que os olhares das pessoas a nossa volta se entrelaçaram. Eles também  sofriam, quietos no mundo deles. Mais eu? Eu demonstrava o meu sentimento de impotência. Virei novamente  aquela menina  pequena, que deitava na cama ao lado da mãe para se proteger dos pesadelos que tinha de noite.  Seus braços  sempre me envolvia e eu adormecia de forma tranquila. Como eu almejava, ter esse abraço  agora nesse momento.

Meu pedacinho tão esperado✔Onde histórias criam vida. Descubra agora