Capítulo 16 - O Sonho

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Fiquei a véspera de Natal inteira sem falar com o Tiago, que ficava me lançando olhares bem chateados.

Nem um pedido de desculpas, afinal. Ele estava mesmo merecendo que eu não falasse com ele pelo resto da eternidade. Mesmo quando eu tivesse filhos e eles quisessem brincar com o tio Ti, nem pensar. Até porque eles, talvez, fossem filhotes de Malfoy...

Ri alto na ceia de Natal, pensando sobre isso.

- Você podia compartilhar conosco as suas piadas. – Hugo propôs, mesmo eu dizendo que era algo bobo demais.

- Não, obrigada. – recusei, bebendo vários goles de suco de uva. Geralmente, eu teria dito que as piadas do Tiago já eram ruins o suficiente apenas para implicar com ele, mas naquele momento, eu não fiz. Não queria nenhum tipo de relação com ele.

Após o jantar, peguei um pouco de chá, vesti minhas pantufas e casaco e fui para o lado de fora da casa. Fiquei sentada na varandinha, olhando o céu. E pensando se Troy estaria olhando para as mesmas estrelas que eu. Será que havia aberto as cortinas? Será que saíra da mansão e fora observar o céu como fazia em Hogwarts? Provavelmente com o cabelos caindo nos olhos, como sempre...

Sorri e bebi mais um gole de chá, sentindo o nariz gelado.

Será que pensava em mim?

- No frio, de novo, parceira? Assim vai acabar pegando um resfriado e ficar espirrando em cima da poção... – imitei a sua voz, com pouco sucesso no tom, mas certamente muito bem na interpretação.

Ou talvez ele simplesmente me puxasse para um abraço e eu pudesse esquentar meu nariz em seu peito.

- Quer um pedaço de torta? – eu ofereceria. – Achei que nunca fosse oferecer. – ele diria.

Bebi mais um gole e abracei minhas pernas. Um tempo depois, mamãe apareceu, vestindo casaco e luvas.

- Nossa, mas que céu especial. – ela disse, sorrindo bonito.

- Está lindo. – concordei.

- Posso me sentar?

- Claro, mãe.

Assim ela fez, esfregando as mãos enluvadas para se aquecerem mais rápido.

- Quando eu tinha a sua idade, eu comecei a namorar. – ela contou. – Não o seu pai. Outro garoto.

- O Dino?

- Isso mesmo.

- Lembro que foi o período mais difícil da minha vida com o Rony. Ficamos sem nos falar por três meses.

Fiquei em silêncio, pensando. Será que ela sabia que eu estava com o Troy?

- Mãe, eu não estou namorando.

- Não está? – ela olhou para mim, espantada.

- Não.

- Eu pensei que você estivesse com um garoto que joga quadribol.

- Ah, o Luc... Nós terminamos.

Mamãe assentiu e colocou os pés em cima da outra cadeira. Comecei a sentir meu corpo esquentar e não sabia dizer se era pelo chá quente ou pela conversa. Eu sempre havia sido bem próxima da minha mãe, sempre havia contado para ela sobre as coisas da minha vida, mas passávamos muito tempo longe uma da outra e eu acabara transferindo isso para os meus amigos.

- E o Troy? – ela me perguntou, de repente. Fingi não estar surpresa com isso.

- Troy Malfoy?

Ela sorriu em concordância.

- Ele é o meu parceiro de poções e meio que meu amigo também. – respondi, olhando para as minhas mãos em volta da xícara. – Ele não é um comensal da morte, o tio Neville me disse.

Ela demorou um pouco para responder como se estivesse ponderando as palavras:

- Minha filha, eu confio em você. Muito. Se me diz que Troy é uma pessoa legal, eu também acho. E independente do que vocês forem um para o outro, o seu irmão não tem nenhuma relação com isso. Se gosta dele, Amy, você tem a minha benção para o que for.

Minha mãe segurou a minha mão e a apertou, provavelmente diante do meu espanto. Fiquei sem saber o que dizer, entendendo que ela sabia de tudo e ainda mais sem reação por saber que confiar em mim quanto ao filho do Malfoy não devia ser nada fácil.

- Obrigada, mãe. – murmurei, apertando a sua mão de volta.

- Não tem nada que agradecer. – ela sorriu. – Já conversei com o seu irmão sobre isso.

- Jura?

- Sim. Ele ficou assustado, ficou com medo que a história se repetisse.

A história fracassada de grande sofrimento de Albus e Scorpius.

- Não vai. – garanti.

- Também acho que não e justamente por isso não vejo motivo para você e seu irmão se distanciarem, Amy. Ele te ama, ele quer o seu bem... De um jeito um tanto extremo, às vezes, eu sei. Sei bem como são as coisas com o Tiago. Às vezes não sei se o acho mais parecido com seu tio Rony ou com seu tio Sirius.

Suspirei.

- Imagino...

- Isso porque você não faz ideia das histórias que sei sobre o seu avô.

- Pai do papai?

- Uhum.

- Vocês escolheram bem o nome, hein... Colocaram o nome do vovô e o nome do tio Sirius, e ainda esperavam que saísse alguém com a cabeça no lugar? – brinquei.

Minha mãe riu.

- Apesar disso... – ela disse. – Ou até por causa disso, foram pessoas impressionantes e de muito bom coração.

- Eu sei.

- Imagino que você e o Tiago tenham puxado esta parte também.

Tudo bem. Entendi, mãe.

- Eu vou tentar. – murmurei. – Eu prometo.

Ela sorriu:

- Que mão quentinha...

*~*~*~*~*

Como a nossa casa era a maior, todos vieram dormir aqui.

Assim que acordei, vi que Alice, Lilian e Rose ainda pareciam pregadas no sono. O relógio marcava sete da manhã e o sol começava a clarear o dia. Meu primeiro pensamento do dia foi ele. Como vinha sendo desde sei lá quando...

Joguei os cobertores para o lado, coloquei minhas pantufas e lavei o rosto antes de descer as escadas. Um cheiro delicioso vinha da cozinha. Vovó e vovô, tomando um grande café da manhã.

- Minha querida menina madrugadeira... – vovó se levantou para me dar um abraço. Depois, acenou a varinha e os ovos da frigideira se mexeram.

- Isso está cheirando tão bem. – eu disse. – Bom dia, vovô.

- Bom dia, querida. – ele estava se deliciando com torradas e geleias. – Venha sentar ao meu lado e comer.

- Vamos esperar todos acordarem para abrirmos os presentes. – vovó contou.

Em duas horas, a cozinha e a sala já estavam cheias de gente, falando, comendo e ansiosos para os presentes. Isso porque não éramos mais crianças.

- Que bonito pijama, Pot. – Teddy comentou e quase joguei um biscoito nele.

Mas não valia a pena perder aquela delícia.

Assim que Hugo e Tiago desceram as escadas, Lilian e Rose anunciaram que começariam a entregar os presentes.

Ganhei um kit de maquiagem da Lili, uma bota da Rose e do Hugo, um livro do Albus e do Max, um cactus do Teddy, dinheiro da vovó e do vovô, um colar do tio Rony e da tia Hermione, um quadro da mamãe e um livro enorme sobre os melhores atletas de quadribol do papai. Ah, e luvas brilhantes de quadribol do Tiago.

- Obrigada. – eu disse para ele, o mais rápido que eu pude.

- De nada. – ele respondeu, tão rápido quanto.

- Nossa, eu amei estas sandálias, Lily! – Rose disse, dando pulinhos.

- Eu sabia que você ia amar! – as duas se abraçaram.

Observei Alice abrir um embrulho curioso. O que surgiu foi tão lindo que meu olhos marejaram.

Era um globo de neve com a miniatura da nossa casa dentro!

- Meu Deus! – murmurei, me aproximando para ver, junto à ela.

- É lindo... – os olhos de Alice se ergueram e fitaram Teddy, que sorriu.

- Na verdade... – papai começou. – O presente é do Teddy, mas é a deixa para te mostrarmos uma coisa, Alice.

Vi que mamãe se aproximava, quando papai entregou um envelope dourado para a minha amiga. Assim que ela o abriu e vi a insígnia do Ministério da Magia, entendi tudo. Arregalei os olhos para a mamãe.

- O resto da família já sabe, mas queríamos fazer uma surpresa para vocês duas.

Lemos juntas.

O Céu é O LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora