Capítulo 14 - O Baile

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Prendi a presilha de borboleta no cabelo e olhei meu reflexo no espelho.

Alice, Laura e Olivia estavam prontas, rodopiando seus vestidos. Laura estava de prata, Alice, de azul marinho e Olivia, de vermelho. 

- Vamos? – perguntei.

Encontramos Victor e Gui no salão comunal.

- E o Phil? – perguntei.

- Terminamos. – Laura disse e engasguei.

- É sério?

- Uhum. Mas está tudo bem. – ela garantiu. – Estávamos distantes um do outro.

- Que honra acompanhar estas beldades. – Victor disse, fazendo várias reverências exageradas.

- Fica na sua, Melrose, que aqui só tem maldade. – Alice sorriu. – E nós somos nossas acompanhantes hoje, certo?

- Na verdade... – comecei, mas um grupo de setimanistas da Sonserina passou por nós aos berros logo que deixamos o salão comunal e meus olhos automaticamente procuraram por ele. Nada.

Seguimos juntos para o Salão Principal.

As famílias convidadas ficariam hospedadas em Hogsmeade, mas eu imaginava que já estivessem no Baile. Antes de entrarmos, Gui esticou o braço para mim e pude ver a cara de espanto das meninas.

- Meu par por uma noite. – ele disse e segurei seu braço. - Você está muito bonita, Amy.

- Você também. - sorri para ele.

Entramos.

Havia gente por todo lado, castiçais, mesas decoradas e um céu abobado de estrelas. Estava tudo realmente muito bonito, inclusive a minha família. Mamãe tinha os olhos marejados, papai, um sorriso bobo, Tiago estava com uma expressão fechada e Lilian tinha o queixo caído.

- Como assim você não me disse que tinha um par?! – ela me perguntou, assim que os abracei.

- Lil, este é o Gui.

Lilian esticou a mão para ele e ri quando ele beijou a sua mão.

- Como assim, Amy? – Alice perguntou.

- Conto para vocês já, já. – sussurrei para Alice, Olivia e Laura.

Dei um beijo em tia Hermione e tio Rony, e um abraço em Rose, Michael e Hugo.

- Onde está o Albus e o Max?

- Procurando bebidas.

Olhei em volta, procurando por algum sinal da família Malfoy.

- Eles vão precisar. – murmurei. Se Scorpius estivesse por lá, eu imagino que não seria fácil para o Albus.

- Hogwarts está exatamente igual há cinco anos atrás. – Hugo comentou.

- Há trinta anos. – tio Rony acrescentou, mas Hermione começou a nos contar tudo o que havia mudado e, pelo jeito, era bastante coisa.

Teddy surgiu trazendo uma bebida para Lilian e franzi a testa.

- Eu também não sabia que você tinha um par... – sussurrei para minha irmã.

- Ah, o Teddy me convidou hoje. – ela disse e bebeu um gole. – Ele foi um cavalheiro, já que sabia que eu viria sozinha.

- Mas não está rolando nada?

- Não. Depois da Victoire, nenhuma mulher mais existiu para ele, Amy.

Victoire Weasley, filha do Gui e da Fleur, o havia deixado para rodar o mundo como modelo.

- Hum, entendi.   

- Esta borboleta é maravilhosa. – ela disse. - Onde a conseguiu?

- Foi um presente.

Olhei em volta, buscando por ele.

- Do Gui?

Sorri, imaginando como seria dizer a verdade para a minha irmã. Talvez fosse bom esperar um tempo.

- É estranho dizer isso, - comecei. - mas eu e o Gui somos só amigos. De verdade.

- Hum... Então de quem? Não é do seu ex-namorado, é?

- Não. – fiz uma careta. Luc jamais me daria algo tão lindo assim. Depois, sorri, pensando em como eu poderia chamá-lo. - Do meu parceiro de poções.

Ela arregalou os olhos:

- Quem é este garoto, Amy?!

Encolhi os ombros e fugi. Eu precisava dizer para as meninas que estar com Gui fazia parte de um plano.

- Vocês estão fingindo? – Olivia perguntou.

- Isso. Para algumas pessoas, por causa das mentiras que o Luc andou contando.

- O que aquele idiota fez? – Alice levantou o tom de voz.

- O que ele fez já passou, Li, e a última coisa que eu quero pensar agora é nisso. Eu quero aproveitar a noite e me divertir com as minhas amigas.

Segurei o braço da Olivia e a rodopiei, girando seu vestido vermelho. Ela riu e me girou de volta.

- Você não se importa, Oli? – perguntei, baixinho. – Eu prometo que é de mentira.

- Eu sei. – ela deu de ombros. – E mesmo que fosse de verdade, nós já terminamos, Amy. Bem terminados. Agora, quero focar em outras coisas, como o Quadribol e a minha carreira.

- É como se eu estivesse me ouvindo falar. – murmurei, apesar de mal me lembrar da última vez que havia sentado para estudar.

- Foi uma atitude bem legal. – Laura se aproximou. – Do Gui.

- Huuuuuummm... – brinquei. – Será que...?

- Quieta! – ela disse assim que  Gui acabava de surgir com uma bebida.

E Luc acabava de surgir do outro lado do salão. Gui ofereceu a taça para mim e bebi. Um, dois, três goles.

- Eu não sou tão horrível assim, vai...

- Acredite. Isto não tem nada a ver com você.

- Acho melhor darmos algumas voltas para saberem que estamos juntos. – ele disse e notei que também havia visto Luc.

- Certo. Mas tem certeza que tudo bem? Vocês são amigos, né?

- Éramos, eu acho, mas discutimos feio. Ele não podia ter contado aquelas mentiras.

Engoli em seco, ainda desacreditada. Por alguns minutos, eu havia considerado a possibilidade de não ter sido o Luc a espalhar aquelas coisas horríveis. Poxa, havíamos namorado por um tempo e ainda éramos do mesmo time. Só de pensar que eu havia considerado ter a minha primeira vez com ele no Natal!

Gui ofereceu seu braço de novo e caminhamos juntos pelo salão. Encontramos alguns conhecidos dele, da Grifinória e da Corvinal, e conversamos um pouco com tio Neville também, que estava todo bonito com a professora de biologia bruxa ao seu lado.

- Que bonita esta joia. – ela disse.

- Joia? – franzi o cenho.

- Sim, isso é um diamante.

Engasguei.

- Não.

- Eu conheço. Meu pai é dono de uma loja de pedrarias. Estas pedrinhas aqui no meio da ametista são diamantes contornados por ouro branco. Você tem uma joia valiosa nos seus cabelos hoje, srta. Potter.

Arregalei os olhos e tentei disfarçar a minha surpresa. Fiquei com vontade de jogar um balde de água congelante em Malfoy. Diamantes?!

Vasculhei todos os cantos em busca de fios dourados, mas nada. Por um momento, me perguntei se Troy iria ou não ao Baile de Inverno, mas então me lembrei do seu bilhete e tive a certeza de que ele não perderia. Eu só precisava de tempo para encontrá-lo no meio de todas aquelas pessoas.

Pedi licença e caminhei até o banheiro. Em frente ao espelho, retirei a presilha com cuidado e a guardei na bolsa. Eu não podia correr o risco de perder algo tão valioso assim.

Encontrei Max e Albus perto da mesa de comidas.

- Hei, irmãzinha! – Max me abraçou. – Como Merlin conseguiu juntar tanta beleza em uma pessoa só?

- Está falando de você ou de mim? – pisquei.

- De você, é claro. E do Albus. Ele não está gato com essa gravata?

Estava mesmo.

- Uau, Al... Você fica lindo quando arruma esse cabelo.

- Você também. – Albus fez uma careta.

- Ei, eu sempre...

Mas talvez ele tivesse razão. Eu estava sempre com um rabo de cavalo meio bagunçado e não ligava muito se houvessem fios para fora, o que acontecia toda hora.

- Tudo bem. Deixamos toda a excelência da arrumação para a Lilian, ficamos apenas com a beleza natural.

- E que beleza! – Max comentou nos fazendo rir. – Vem cá, como faço para ter essas pernas aí?

Eu e Albus nos olhamos.

- Quadribol. – dissemos juntos.

- Ah, não acredito! Estava apostando que uma corridinha no parque poderia me ajudar...

Gui apareceu, envolveu meu braço e sussurrou em meu ouvido:

- Luc está vindo, com a Harriet. Aja normalmente, ok? Deixa comigo.

- Ok.

Assim que respondi, Luc surgiu ao meu lado.

- Boa noite. – disse, sério demais.

- Boa noite. – todos respondemos.

- Vocês estão ótimos juntos. – Harriet disse. – Combinam.

Eu podia ouvir a ironia em seu tom de voz.

- Vocês também. – Gui comentou.

- Eu tomaria cuidado, Stalker. – Luc disse. - À qualquer momento, seu par vai fingir dor de cabeça e sair por aí com outro cara.

Senti meu rosto esquentar e meus punhos se fecharam de raiva.

- Eu ficaria feliz se o meu par terminasse com quem não gosta para ficar com quem realmente gosta. – Gui disse. – Ah, é, eu me esqueci. – ele apertou minha mão. – Ela já fez isso. Vamos dançar?

Suspirei aliviada ao ver o rosto branco do Luc.

- Só se for agora. – respondi.

Sorri para o Max e para o Albus, que estavam com os queixos no chão e saímos para a pista. Estava tocando uma valsa e dançamos com toda pompa, giros e sorrisos. Gui me contava piadas e, rapidamente, eu não estava mais chateada com o Luc. Estava feliz por finalmente ter me livrado dele e seus olhares julgadores e então poder dançar e me divertir como eu queria. E podia.

De longe, observei Olivia e Alice rindo de alguma coisa e então vi Victor dançando com um sextanista da Sonserina, todo animado. Seu leve interesse

- Eles fazem um par incrível. – comentei, mas então vi que o Gui estava olhando em outra direção.

Para Laura, que acabara de ser convidada para dançar por Finn Riverdale. Por um momento, me dei conta de que, talvez, ele ainda guardasse sentimentos por sua ex-namorada.

- Que tal você ir salvar quem realmente importa? – eu disse e ele me olhou. – Vai logo, Gui. Eu vou ficar com minhas amigas e você já super me ajudou esta noite. Está na hora de arrumar um par que realmente combine com você.

Ele sorriu, me deu um abraço e então saiu correndo, bem a tempo de interceptar o pedido. Vi, de longe, os olhos de Laura brilharem quando Gui estendeu sua mão para ela. Caminhei para fora da pista, observando feliz quando ela aceitou e os dois rodopiaram pelo salão. Papai convidou mamãe, Albus e Max já dançavam e até Teddy e Lilian pareciam e divertir um com o outro na pista.

Aceitei a taça oferecida pelo garçom e quando girei nos próprios pés para encontrar Alice e Olivia, o vi.

Ele estava encostado à uma pilastra há uns dois metros, com os cabelos nos olhos e as mãos nos bolsos. Olhando para mim.

Apertei os lábios, tentando conter um sorriso e depois evitei o contato direto, mas ele ergueu sua sobrancelha como se soubesse de tudo. Finalmente, desisti e encarei os olhos azuis de longe, que me diziam muito mais que qualquer palavra.

Pensei em ir até ele, mas Max surgiu.

- Você está bem? – perguntou.

Entendi que se referia à cena do Luc.

- Sim... Esqueça aquilo, ok? Meu ex-namorado está agindo como um idiota. Onde está o Albus?

Olhei para o Malfoy e vi que ele continuava no mesmo lugar, com os olhos sobre mim.

- Por aí.

Rapidamente, Tiago, Hugo, Rose e Michael vieram até nós. Olhei de esguelha para o Troy e ele deixou um meio sorriso surgir, antes de levar seu copo até os lábios.

- Hogwarts é impressionante. – Michael comentou. – Rose sempre me falou, mas eu não podia imaginar.

Lilian apareceu trazendo bebidas.

- Vai me dizer que você nunca leu Hogwarts, Uma História?

- Hum... – Michael fez uma careta. – Não.

Vi Troy coçar a cabeça e fazer um gesto com os dedos, sinalizando a borboleta, girando as mãos para cima em sinal de dúvida.

Apertei os lábios e apontei para a minha bolsa, mas não consegui ser muito discreta.

- O que está fazendo? – Tiago perguntou. Eu parecia louca.

- Nada. – respondi de supetão, mas todos me encararam à espera de uma explicação. – Só que tem alguma coisa incomodando no meu vestido, ai...

Fingi estar tendo um colapso nervoso e Lilian tentou me ajudar. Puxei meus cabelos para frente, enquanto ela olhava para o fecho em minhas costas. Ergui meus olhos e notei que Troy tinha um sorriso maroto. Estava se divertindo às minhas custas, como sempre.

- Licença, gente. – eu disse, simplesmente. - Preciso ir.

Meus olhos colaram em Troy e segui em sua direção, mudando de curso logo antes da pilastra. Segui para os jardins, esperando que viesse atrás de mim. Disfarçadamente, de preferência. Caminhei mais um pouco, indo parar na frente do lago congelado, decorado por pequenas luzes que se mexiam como vagalumes. Não olhei para trás, mas pouco tempo depois ele surgiu ao meu lado.

- Boa noite, parceira.

Busquei pela borboleta em minha bolsa e a estiquei para ele.

- Aqui está.

Ele não fez menção de pegá-la.

- Foi um presente. Estava na sua cabeça há alguns minutos atrás.

Então tinha me visto, antes.

- Um presente lindo. – eu disse. - Que eu não posso aceitar.

- Por que...?

- Porque deve valer mais que esta festa inteira.

- Não mais que esta propriedade.

- Você me entendeu. – balancei a presilha no ar, insistindo para que ele a pegasse. – Diamantes? Sério?

- Eu não posso presentear quem eu quero com diamantes?

- Pode. Talvez à sua mãe, ou à sua noiva, mas não a mim, é claro. – voltei meus olhos para o lago.

- O seu par ficou chateado com meu presente?

- Eu não tenho um par.

Eu não sabia dizer porquê, mas estava um tanto na defensiva. Estava com medo de olhar para ele, de sentir mais do que eu podia conter naquela noite, principalmente depois daquele presente.

- Bom, eu não vou aceitar nada de volta. Você terá que explicar para o Stalker...

- Gui Stalker é meu amigo. Nós meio que... Queríamos dar o troco no Luc.

Os olhos dele pareceram surpresos e olha que era difícil demais que ele demonstrasse este tipo de sentimento.

- O que foi que ele fez?

- Não importa mais.

O observei balançar a cabeça, impaciente:

- Vai me dizer ou terei que descobrir sozinho?

Sua voz estava bem mais tensa, como no dia do "acidente" com a Flashlight.  

- Vai aceitar a borboleta de volta?

Ele me encarou, bravo e então a pegou.

- Agora me fala.

- Se me prometer que não vai fazer nada.

- Está colocando condições demais, parceira.

O Céu é O LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora