Ouço a voz de minha mãe me chamar ao fundo, solto um pequeno murmúrio em reprovação. Desde que aconteceu aquela terrível fatalidade, não consigo dormir a noite.
- Luara, seus remédios - Mamãe me alerta. Sua voz estava baixa, tristonha.
Não irei fingir não saber o porquê.
Me sento na cama, ajeito o edredom cobrindo minhas pernas. Ela vem até a mim me entregando as cartelas de compridos e um copo de suco. Em silêncio destaco cada comprimido de sua cartela, minha mãe observava tudo atentamente.
Tomar todos aqueles comprimidos era terrível, vez ou outra e via minha mãe baixar sua cabeça para não chorar.
- Já é tarde? - Pergunto afim de quebrar aquele silêncio.
- Onze da manhã. - Ela se senta na cama, passa sua mão calejada em meu braço e suspira.
Isso esta acabando comigo.
- Preciso ir buscar o resultado dos exames - Mordo o lábio, apreensiva - pegar algumas coisas no apartamento e devolver as chaves.
Era bom estar apreensiva com algo, com qualquer coisa, seja lá o que for. Ultimamente não tenho ânimo para mais nada, só estou sobrevivendo.
- Posso ir com você. Não parece que você tem dormido muito.
- E não tenho - Encaro minhas mãos, evitando contato visual. - quando fecho os olhos a noite, eu sinto a respiração dele, ouço seus... gemidos. Pode ser alucinação mas quando abro os olhos no escuro, vejo ele parado - Aponto para o lado da cômoda - bem ali.
Minha mãe reveza seu olhar atento sobre mim e a lateral da cômoda.
- Luara, posso estar enganada mas isso pode ser espiritual. Vamos ao culto comigo?
- Não, nem comece! Não quero mais acreditar nesse Deus que me deixou passar por tudo isso. - Digo ríspida.
- Deus é amor, sua misericórdia é tão grande s ponto de ter lhe deixado sair viva disso tudo. Ele não tem culpa das nossas iniquidades. Nós colhemos o que plantamos
Ouvir aquilo me deixou ainda mais indignada.
- Ta querendo dizer que eu fiz por merecer ter um homem me comendo a força? TA QUERENDO ME DIZER QUE MEUS ATOS LEVARAM AQUELE DOENTE GOZAR DENTRO DE MIM ENQUANTO EU CHORAVA... - Gritei desesperada.
Tudo aquilo não era para ofender minha mãe, e sim para desabafar. Ela percebeu, sem dizer nada ela se levantou com lágrimas presas aos seus olhos.
- Eu te amo filha, e Deus também. Ele não precisa te provar nada, o maior sacrifício Ele já fez naquela cruz. Quer uma prova do amor dele? Olhe-se bo espelho. - Disse me encarando.
Ela saiu, permaneci ali chorando por alguns minutos. Eu estava tão irritada comigo mesma que busquei um culpado... Deus, perdoe-me senhor.
Meu celular começou a tocar a maldita música da Selena Gomez, só ai me dei conta que ele estava pelo chão. Provavelmente eu dormi com ele na mão.
13h00
Após a ligação de Caio, me arrumei se muita vontade, ele se ofereceu para me levar até a clínica buscar os exames. Dentro do carro ele tentava puxar assunto de diversas formas, mas eu estava desconectada dessa terra. Não sei como esse homem não desistiu de mim, se fosse eu, desistiria.
- Talvez seja melhor você ir na consulta com o psicólogo. - Caio que antes falava sobre aviões, mudou de assunto brutalmente.
- Não quero. - Respondi seca.
- Certo. - Ele respondeu soltando um longo suspiro.
Dei por mim que fui um pouco grossa.
- Ja tenho você - Digi revertendo a situação.
Caio me lança um sorriso cativante e volta a prestar atenção na pista.
Passamos pela recepcionista e rapidamente entramos na pequena sala, onde o Doutor estava a nossa espera. Em sua mão havia um envelope branco.
- Boa tarde - Caio o cumprimentou.
- Boa tarde. Bom senhorita, Luara. Aqui esta seu exame, ele havia ficado pronto ontem - Explicou o doutor.
- Não pude vir. - Respondi acanhada. Ele me entrega o envelope. Dentro de mim eu sabia que não estava grávida, a pílula havia feito seu trabalho.
- De qualquer forma, você teria que vir. Precisamos colher mais um pouco do seu sangue - Sua voz era preocupante, mas ni momento minha atenção estava voltada para o envelope.
- Mas o que houve? - Perguntou Caio, curioso.
- Bom, é só para a confirmação. Será rápido. Hoje nosso laboratório não funciona mas pode vir na quinta. - Apenas assenti.
Dentro do carro pude sentir uma pontada de felicidade quando vi que não estava esperando um filho de um monstro. Para comemorar Caio me levou para almoçar em frente a praia, de la seguimos até meu antigo apartamento.
Assim que entramos, sai do carro e notei o olhar medroso do vigilante. Ele parecia querer me dizer algo mas a todo momento se calou. Foi o tempo de eu subir, pegar minhas coisas e o entregar as chaves. Ele não disse nada, eu também não iria dizer. Poderia ter feito como Cláudia, ela deixou o maníaco ficar em minha casa mas a pobre mulher não sabia de nada e mesmo assim me suplicou perdão.
- Pegou tudo? - Caio perguntou enquanto eu guardava as coisas mo banco de trás.
- Sim. Vamos? Esse lugar me deixa... Melancólica.
Ele me puxou depositando um beijo em minha testa enquanto o vigilante observava tudo. Quando finalmente saímos da enorme garagem ouvimos o mesmo gritar por nós, ele correu em direção ao carro desesperado. Sai do carro sem entender nada.
- Me desculpa, senhorita. - Disde chorando - Eu não sabia... Vou perder meu emprego... Eu não - Disse com dificuldade e logo voltou a chorar.
Eu queria abraçar aquele homem, mas meu coração estava tão blindado, meu corpo não se permitia ser tocado.
- Você não tem culpa. Fica bem - Abri a porta do carro e entrei rapidamente. Foi inevitável não chorar.
Aquilo acabou comigo. Muitas pessoas se culpando por minha causa.
Caio deu partida deixando aquele homem e aquele apartamento para trás. Pena que as lembranças ainda me aterrorizam.
Paramos em frente ao meu portão, eu ainda chorava.
- Deixa eu cuidar de você - Caio murmurou.
Apertei meus olhos ouvindo o barulho alto que uma moto qualquer fará, mas aquilo não me fez perder a concentração em suas palavras.
- Por que? Hein? Olha meu estado. Por que quer cuidar de mim? - Indaguei.
- Porque eu amo você, Luara.
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Neurótico uma paixão obsessiva (Concluída)
Novela JuvenilPROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS. Até onde vai a obsessão de um homem? O ser humano é capaz de coisas terríveis, apenas para ter o que anseia. Ela é dançarina de boate. Bem resolvida, ela não dá chance para malandro fazer seu coração de playground...