Observei Gustavo dormindo todo sem jeito naquela poltrona. Eu se quer consegui pregar meus olhos, a cada bebê que acordava para se alimentar pela madrugada, era um pensamento diferente meu.
O dia amanheceu, as enfermeiras e doutoras entraram para ver como estavam as mamães ali. Tomei o café da manhã e Gustavo não havia despertado. Juntei algumas coisas e fui tomar um banho. Sem me importar com o calor lá fora eu optei por um banho quente. Ao me ensaboar passei as mãos pela minha barriga e só de imaginar que ela poderia ficar enorme em alguns meses eu sorri. Afasto qualquer tipo de pensamento positivo em relação a este ser, me visto e saio do banheiro ouvindo alguém murmurar um "Até que fim." Sem ânimo até para discutir, eu resolvo ignorar.
Gustavo estava sentado, conversando com uma enfermeira que vestia um uniforme rosa. Me aproximei até que ambos me olharam. Gustavo não esboçou nenhuma reação, a enfermeira sorriu.
— Bom dia. Você vai subir comigo, ta bom? — A enfermeira diz sorrindo.
Será que ela sabe que irei tirar uma vida?
— Ele pode ir? — Me refiro a Gustavo.
— Pode sim. Vamos?
Eu sabia que seria difícil para Gustavo me ver passar por isso, e saber que eu estava tirando uma vida. Apesar de tudo, preciso dele comigo.
Para chegarmos ao andar de cima onde há as salas de parto normal e de cesariana, teríamos que ir de elevador. O ar condicionado estava ligado mas eu suava como nunca. Quando o elevador parou, nós saímos e passamos por um corredor repleto de salas, dali já se ouvia algumas mulheres gritando.
— Vocês são mais fortes do que eu imaginava — Gustavo finalmente se dirigiu a mim.
— É uma dor terrível — A enfermeira disse.
— Vai doer? — Pergunto curiosa enquanto caminhávamos até uma das salas.
— Vai. Nós vamos expulsar o feto.— Ela explicou, alimentando ainda mais o meu medo.
Sinto alguém segurar minha mão e apertar levemente, encaro Gustavo que me lança um sorriso tão lindo quebfoi capaz de tirar meu foco do que a enfermeira havia dito.
Entramos em uma sala, onde estava escrito "Parto normal 02" havia um banheiro, uma cama de ferro onde as mulheres acomodavam as pernas bem abertas, uma berço com diversos aparelhos.
— Já volto com o medicamento, mas antes você precisa me responder algumas perguntas. — A enfermeira diz pegando a caneta no bolso de sua calça rosa.
— Ta.— Já sofreu algum aborto?
— Não.
— Alergia a algum medicamento?
— Não que eu saiba.
Gustavo prestava atenção em tudo a sua volta.
— Esta tomando os anti-retrovirais?
— Sim, mas ainda não tomei hoje. Eles me deixam mais enjoada e parece que meus ossos doem — Me queixo um pouco triste.
— Certo, você não poderia tomar agora, apenas quando terminamos. Mas, Laura, independente dos efeitos colaterais é de extrema importância que você não deixe de tomar esses medicamentos — Diz rígida.
— Eu sei de tudo isso, infelizmente
Ela encara Gustavo por alguns milésimos de segundos.
— Assine aqui — A enfermeira me entrega sua prancheta e caneta. Assino o de estava marcado com um x
— Vocês vão fazer alguma cirurgia? — Guto pergunta.
— Não será necessário. Eu ja volto com o soro.
Assim que ela saiu eu suspirei, me sentei na cama e derramei algumas lágrimas. Gustavo iria me abraçar mas recuou, eu não estava pronta se quer para um abraço masculino. Só de pensar já me causa falta de ar.
Então ele ficou ali, assistindo enquanto eu desmoronava aos poucos. Era necessário por tudo aquilo para fora.
— Eu não queria Guto, não queria ser uma assassina — Digo entre soluços.
— Você não é se fizer, e menos ainda se desistir.
— Eu não iria suportar olhar para o bebê
— você não precisa criá-lo. — Torna a tocar no assunto sobre dar o bebê para a tal Mayara.
Antes que eu pudesse responder a enfermeira entra empurrando um objeto cujo o soro estava pendurado.
— Estique o braço — Assim eu faço ainda com os olhos cheios de lágrimas.
A mulher prepara a agulha e o soro, me lança um sorriso fraco ao ver que eu acabará de chorar. Ele toca em meu braço a procura de alguma veia.
Aquele soro, aquele líquido iria expulsar de dentro de mim um feto... Uma criança, uma vida, um bebê.
— Não — Digo antes que ela possa me furar. — Eu não quero mais.
Então eu derramo os restantes das minhas lágrimas.
— Certo.. — Diz a enfermeira me olhando.
Quebrando todas as regras, Gustavo me abraça bem apertado, aceito seu abraço por alguns segundos mas logo o afasto.
— Você é incrível. Vai moça, leva essas coisas daqui. — Ele diz se referindo ao soro.
A enfermeira ri e me encara.
— Quase todos os dias eu lido com isso, quase todos os dias eu pro pedindo a Deus para confortar o coração de vocês e não deixar que vocês façam isto. Parabéns pela sua atitude.
— Eu vou ter esse bebê e darei para Mayara — Digo sorrindo entre lágrimas.
Gustavo me encara sem entender mas logo sua ficha cai, ele viu ali que eu tinha fuxicado seu celular.
Completamente sem jeito, ele passa a mão na nuca e olha para o nada. Agora ele tem a plena certeza de que eu sei que ele gosta de mim.
No mesmo dia eu fui para casa, não precisa ser um genio para saber que mamãe ficou em uma felicidade tremenda. Sei que será difícil, uma prova muito grande mas eu estou disposta a enfrentar.
Falar com a tal Mayara através do telefone me fez ter a convicção de que fiz a escolha certa, ela estava tão alegre, falou em comprar roupas mesmo sem saber o sexo. E quando expliquei que o bebê poderia ser soro positivo ela não se importou, disse que iria amá-lo independente.
Minha mãe não gostou muito da ideia, nada tirava da cabeça dela o desejo de ser vó, meu pai pela primeira vez pareceu gostar da escolha que fiz.
Estava tudo indo bem mas era impossível não chorar ou me sentir mal ao pensar em tudo o que estava acontecendo e principalmente saber que meu agressor estava a solta e espalhando esse vírus.
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Neurótico uma paixão obsessiva (Concluída)
Novela JuvenilPROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS. Até onde vai a obsessão de um homem? O ser humano é capaz de coisas terríveis, apenas para ter o que anseia. Ela é dançarina de boate. Bem resolvida, ela não dá chance para malandro fazer seu coração de playground...