Quatorze.

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O morro estava calmo, tudo numa tranquilidade tremenda a única coisa que estava agitada por ali era o meu coração acelerado.

Paramos em frente a casa dele, as luzes estavam acesas, como eu odeio essa mania que ele tem. A sorte que é tudo no gato.

— Desce. — Mata Rindo ordena, parando a moto. Desço observando os meninos parados na esquina, estavam fortemente armados o que me faz constatar que a noite a segurança é redobrada.

Bastou o vento tocar minha pele para me causar arrepios. De longe era possível ouvir o som que o bar emitia.

Pagode

— Você não deveria se arriscar saindo assim — Ouço alguém dizer do nada. — Tua sorte é que ninguém sabe que tu tá no comando

Isso me surpreendeu, eu não sabia que ele havia tomado o comando do morro. Me deu um certo medo, ele pode ser todo errado mas é meu irmão, tudo o que tenho. Morro de medo de perdê-lo.

Pude ver Hugão. Ele cumprimenta mata rindo com um aperto de mão que mais parecia um tapa.

— O que ninguém sabe ninguém estraga, parceiro.

O amigo de meu irmão desvia seu olhar para mim, me arrependo por estar com um roupa tão colada.

— É fiel, pura verdade mas não dá mole saindo sem escolta — Avisa.

— Tem umas paradas que só diz respeito a mim, tá ligado? Agora deixa eu me adiantar

A lógica do meu irmão era idiota,  se ninguém sabe que o mesmo é dono do Chapéu mangueira ele pode ir e vir, fazer qualquer coisa mas um dia vão descobrir e é óbvio que ninguém avisa antes de matar.

— Vai lá, irmão. — Hugão se despede, e sai nos dando as costas.

Mata rindo desce da moto apoiando a mesma no descanso, caminha até sua casa e eu permaneço imóvel. Antes de abrir o portão ele se certifica que estou o seguindo e olha para trás. Aquele semblante, eu nunca esquecerei, nem do outro lado.

(...)

— FALA, PIRANHA — Recebo mais um soco, desta vez no canto do lábio inferior. — ACORDA, SUA CACHORRA.

Ele se levanta e eu apago de vez, acordo com algo gelado contra meu rosto.

Água

para... — Suplico, farta de apanhar. Meu corpo parecia estar em outra órbita, doía até os ossos. Meu nariz estava quebrado, com certeza.

— ONDE ELA MORA, PORRA. — Ele segura meu queixo com força, pela milésim vez eu choro de dor, agonia. Eu queria um hospital

Leme... — Surro sentindo meu corpo mole.

Mesmo com a visão embaçada pude ver seu sorriso diabólico. Ele jogou o recipiente que antes estava cheio de água, ao chão. Mata rindo se levanta e puxa a pistola, apontando para mim.

A obsessão que esse homem criou por Luara era inacreditável, era algo terrível e sem explicação. Talvez nem mesmo um dos melhores psicólogos conseguiria reverter isto. Era algo cruel, meu irmão era cruel, tão cruel que puxou o gatilho sem se importar com o laço que nos unia.

Matheus derramou o meu sangue, o sangue que também era dele.

Luara Oliveira

O estabelecimento se encontrava fechado, a polícia estava no local, junto a perícia. Todos nós estavamos nervosos, mas eu estava pior sem dúvidas.

Sentada no paralelepípedo eu me encontrava chorando enquanto ouvia bbstar gritando sem parar para que não fechassem seu bordeu. Foi tudo como uma avalanche, veio de uma vez só.

Irei carregar nas costas a morte de um homem, e sabe lá o que aquele homem fez com Vivian. E um provável desemprego.

— A CULPA É DELA, FOI ESSA MULHER QUE TROUXE O LOUCO PARA CÁ — Bbstar gritou para o polícial, apontando para mim.

Gabriela foi até ele e o abraçou.

A culpa realmente foi minha?

Abaixei minha cabeça chorando mais ainda.

— Ei, calma a culpa não é sua. — Dico se senta ao meu lado, passa seu braço ao redor do meu pescoço e me puxa para si.

Desabo em seus braços.

Na minha cabeça se passava  cena do segurança indo ao chão com um tiro no peito.

— Eu juro que não sei nada sobre esse homem, até tentei avisar mas ninguém me ouviu.

Ele acariciava meus cabelos tentando me acalmar. Pelo canto dos olhos vi um dos policiais se aproximar.

Tremi, eles não podem me acusar de nada, não é? Eu não tenho nada com isso e muito menos com aquele homem.

— Posso falar com a mocinha, aí? — O policial perguntou. Me levanto o encarando.

— Seu policial, eu não conheço aquele maníaco, ele me ameaçava quando vinha aqui. Eu...eu....por favor, não quero ser acusada de nada.

— Calma moça, só quero te fazer algumas perguntas mas você terá que me acompanhar, tudo bem?

Sua voz era calma e pacífica. Limpo meu rosto afim de me livrar das lágrimas. Me levanto notando o olhar nada discreto do policial.

Bbstar, Gabriela e eu fomos até a delegacia as demais garotas foram liberadas. Dez horas, dez horas de depoimento. Eu estava exausta. Bbstar não foi preso mas pagará uma multa grande, pelo menos foi isso o que ouvi os guardas dizerem, Gabriela não dirigiu a palavra a mim, ela sabia que eu estava certa desde o início, e agora está acanhada.

— Você pode ir. — Recebo a confirmação que tanto esperava, chegaram a conclusão de que eu não tinha nada a ver com o ocorrido. Sai da delegacia sob olhares maliciosos dos guardas. Meu carro ficou no estacionamento da boate, eu teria que voltar muita coisa para ir buscar.

Como faço pra ir embora?

Me encontrei completamente perdida na rua, os homens jogando piadinhas, dizendo coisas maliciosas por conta das minhas roupas.

Não tive muita opção, liguei para Caio.

Luara?

— Eu preciso da sua ajuda.

Um amigo policial já postou no grupo do WhatsApp, você saiu na foto. — Riu sem ânimo.

Pois é  — Suspirei —, acabei de sair da delegacia, não sei ir embora. Me ajuda, por favor. Estou tão cansada. -— Disse quase chorando.

Me espera em frente a delegacia.

Tá, obrigada.

Ignoro completamente os policiais dentro da cabine e fico a espera de Caio, torcendo para que o mesmo não demore.

Neurótico uma paixão obsessiva (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora