Trinta.

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Gustavo sorriu para mim, ele estava aliviado apesar do tiro de raspão que havia levado. Sabíamos que aquilo seria o fim de um terrível pesadelo.

Foram dois dias dois malditos dias prestando depoimento do que realmente ocorreu em minha residência. O cômico é que enquanto esse traste estava vivo e me fazendo de objeto, a policia pouco se importou e agora que eu o matei, tive que passar por essa burocracia. Entretanto, essa não foi nem de longe a pior parte. A pior parte foi que um tumulto se formou no meu portão, gravaram e mandaram para o jornalismo. Agora meu telefone residencial não para de tocar, meu portão vive cheio de vans dos noticiários e meu nome não para de ser falado nos mesmos. Agora todo mundo sabe que fui estuprada e estou grávida e que matei o agressor. Meus vizinhos? Vivem dando entrevistas e dizem que sou uma ótima pessoa e etc, sendo que quando aconteceu o abuso, nenhum deles vieram aqui me ver, agora vivem mandando presentes, até mesmo para o bebê.

- Mais uma manta azul. - Carol joga o embrulho completamente revirado em cima da pilha de presentes.

Não só meus vizinhos mas muitas pessoas, até mesmo de Portugal, me mandam presentes e cartas. Algumas são mulheres me contando que passaram pelo mesmo e hoje amam seus filhos, toda a vez que leio eu choro e de se emocionar. Pelo incrível que pareça, recebo cartas de homens me pedindo em casamento e dizendo que assume meu filho, isso é horrível.

Quando a situação ficou irreversível e insuportável, Gustavo resolveu me levar para Guarulhos até porque Mayara queria passar toda a minha gestação ao lado do seu futuro filho. Não relutei a sua proposta, ele é uma excelente pessoa e seu pai estava super feliz com o bebê, o problema foi minha mãe que chorou três dias sem parar. Só parou quando uma missionária teve a revelações de que via uma aliança en meu dedo e Deus limpando meu coração, e tão ela cismou que Gustavo iria ser o homem da minha vida.

Quando chegarmos da viagens Mayara a madrasta de Guto, fez questão que ficássemos em sua casa. Eu estava um pouco nervosa em conhecê-los.

- Chegamos -Ele parou o carro alugado em frente a uma enorme casa.

Juro que tentei não me impressionar com a casa.

Gustavo pegou algumas malas no porta-malas, tentei ajudar mas o máximo que ele me deixou pegar foi uma mochila.

- Ta nervosa? Não se preocupe, depois da gravidez eu vou tirar você daqui e busco suas coisas no Rio.

- Fica tr...

- ELES CHEGARAM, ARMANDO. O BEBÊ CHEGOU, VEM LOGO! - Antes mesmo que Gustavo pudesse abrir o portão uma mulher alta, com cabelos longos e negros abriu o portão. Será que ela estava de olho nas câmeras?

- Para de gritar e me ajuda, escandalosa. - Guto diz para a mulher. Eu ri pela intimidade.

- Me da aqui, palhaço. Moleque frouxo. - Ela pega apenas uma mala e vem em minha direção.

Não me abrace, por favor.

Ela me abraçou, eu recuei deixando o clima pesado. A mulher me encarou mas logo estapeou sua testa como quem lembra de algo.

- Desculpa. Olha, eu sou a Mayara, vem fica a vontade. - Diz completamente sem graça.

Me desculpe, moça. Nem sempre fui assim é que me destruíram.

Entramos naquele local onde havia um pequeno caminho de pedras redondas e uma enorme piscina de azulejos.

Vejo um coroa largar a churrasqueira e vir até nós. Senhor, como Gustavo era parecido com esse homem. Carol puxou a mãe.

- Vai guardar isso, Guto - Ele se refere as malas. - Tudo bem? Eu sou Armando - O homem aponta para si - Fique a vontade, Mayara já ajeitou o quarto pra vocês. Mais tarde vamos fazer um churrasco aqui pra comemorar a vinda do bebê e a sua, é claro.

Ele diz todo sorridente, o casal estava realmente feliz.

- Obrigada pela hospitalidade - Digo sem jeito.

Eu realmente estava cansada da viagem mas fiquei acordada conversando com Mayara, ela era alguns anos mais nova que seu marido mas sua mentalidade era tremenda. Me contou que não podia ter filhos e me agradeceu muito.

- Não quero ser indelicada mas, o que há entre você e Gustavo? - Perguntou sem fazer rodeio.

- Nada, ele é um excelente amigo. Posso dizer que o Gustavo é um exemplo de ser humano.

Quando a noite caiu a casa lotou de pessoas, era algo que me deixava um pouco agoniada, não estava contando com isto. Mas quem sou eu para reclamar de algo?! Fiquei no quarto em que Mayara me acomodou, durante um bom tempo, ela queria que eu fosse descansar. Gustavo estava ocupado demais matando a saudade de seu pai e seus amigos.

Me levanto da cama e vou até a sacada, o cheiro de comida me fez querer vomitar.

De lá pude ver Guto conversando com dois homens com posturas perfeitamente alinhadas, ele conversa com a mão no bolso de sua calça e a outra segurava o que parecia ser um copo ckm cerveja. Ri quando ele dei uma gargalhada. Até uma loira caminhar em sua direção, segurar em sua cintura e depositar um beijo em seu pescoço. Aquilo de certa forma me deixou triste.

Me afasto da sacada indo em direção a minha mala. Se acha que fiquei em um quarto presa, chorando por ser soro positiva, me vitimando por inúmeras coisaa, estão errados. Tomei um banho, me vesti e desci.

Assim que passei pela porta recebi alguns olhares. Entendo que apesar do houve, ainda sou uma mulher bonita e infelizmente chamo atenção de homens.

- Lua, achei que estava dormindo - Sinto uma mão em meu ombro, me viro rapidamente e vejo Mayara. A mesma estava com um vestido florido e descalça. A simplicidade dela me encanta.

- Ah, não. Prefiro ficar com vocês - Seus olhos percorreram meu corpo.

Optei por uma calça jeans e uma regata, na tentativa de cobrir meu corpo.

- Você tem um corpo e tanto - Balbuciou ela.

- Onde esta Gustavo? - Eu sabia onde ele estava mas quis bancar a inocente.

- Aan, ali - Ela o buscou com seus olhos e logo apontou - Esta com a Rose - Mayara entorta o lábio como quem não gostasse na tal mulher.

Nem eu gostei.

Neurótico uma paixão obsessiva (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora