Capítulo 2 - Em Casa

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Capítulo 2 - Em casa


Julia/Rhaena's POV
Tinham se passado 5 minutos que Laegel havia me contado o que viu e ouviu e eu ainda estava sem reação. Minha irmã Daenerys Targaryen, havia saído do continente que estava exilada, Essos, e agora estava na Pedra do Dragão em Westeros. Ela havia voltado para recuperar o trono de ferro que o Usurpador havia tirado de nossa família e se tornar rainha de Westeros. O corvo que havia mandado era para sinalizar que ela havia voltado e que estava em busca de aliados para tirar a coroa do Rei Tommen Baratheon e torna-la Rainha. Eu não sabia se o lorde Mace Tyrell aceitaria a proposta, já que Margaery vai se casar com o Rei Tommen e essa aliança interferiria no casamento. Também não sabia se Daenerys havia mandado essa mensagem para outras casas e quais eram. O que realmente se passava em minha cabeça é que minha irmã estava viva e no mesmo continente que eu. Ela não sabia da minha existência, mas, de uma coisa eu tenho certeza. Preciso ir até ela.
⁃ Eu preciso ir até ela, Laegel. Precisamos ir pra Pedra do Dragão urgente.- falei me levantando do banco. Estava eufórica demais pra ficar sentada.
⁃ Como, milady? - indagou.
⁃ Podemos pedir cavalos emprestados ao Lorde Mace.- respondi a primeira ideia que veio em minha mente.
⁃ Com que desculpa? Ou contaremos a ele quem a Srta. é de verdade? - perguntou-me Laegel sussurrando a última parte.
⁃ Não, não podemos contar agora. Não sei se é seguro. Ainda mais que não sei quais são os planos de Daenerys e não quero atrapalha-lá.
⁃ Pediremos então a Lady Margaery?
⁃ Também não sei ao certo. A menos que não contemos a ela os planos de minha irmã de retomar o trono de ferro. Eu amo e confio em Margaery, mas também sei o quanto ser Rainha é importante para ela.
Depois de muito pensarmos, decidimos que seria melhor não falarmos nem com o lorde Mace nem com Margaery.
⁃ Então o jeito será conseguirmos dois cavalos clandestinamente e sairmos bem cedo sem contar a ninguém.- disse por fim Laegel.
⁃ E se sairmos bem cedo de madrugada conseguiremos chegar na Pedra do Dragão e não precisaremos passar a noite na floresta.
⁃ Então vamos, vá arrumar suas coisas milady. Que amanhã partiremos antes do sol nascer.
Ao chegar em meu quarto comecei a organizar minhas coisas dentro de uma sacola de pano. Não levaria muita coisa, apenas algumas roupas, os dois livros de minha família, os dois diários de mamãe e um livro que peguei no gabinete do castelo quando era criança e até hoje não tive coragem de devolvê-lo. Era um dos meus livros preferidos. Contava a história de todas as casas de Westeros. E apesar de já saber todas as histórias na ponta da língua o carrego sempre comigo. Antes de me deitar peguei minha espada de aço valiriano que Laegel havia trazido quando fugimos quando eu ainda era um bebê e coloquei em cima da sacola de pano. Me deitei pra dormir já a à espreita do que me esperaria amanhã.
Antes do sol nascer, Laegel já havia conseguido os dois cavalos. Ele também carregava apenas uma sacola de pano com seus itens e em outra levava alguns alimentos. Coloquei minha espada valiriana na minha bainha e pendurei minha sacola atravessada pelo meu corpo e montei em meu cavalo.
⁃ Como você conseguiu os cavalos? - perguntei à Laegel enquanto acariciava o pelo marrom do animal.
⁃ Entreguei algumas moedas de veados de prata ao rapaz que estava responsável pelo celeiro.- disse me fazendo rir.- Agora vamos milady, antes que algo dê errado.
Comecei a cavalgar já pensando no enorme caminho que teria pela frente. Iríamos pela Estrada da Rosa e pouco antes de chegar a Porto Real entraríamos na Floresta Mataderrei e ao atravessarmos a floresta chegaríamos na Ponta Afiada e pegaríamos um barco até a Pedra do Dragão. Dei uma última olhada para o Castelo do Jardim de Cima. Quando eu voltaria? Será que eu sequer voltaria pra cá? Pela primeira vez, a minha vida estava tomando um rumo diferente do habitual. E há quanto tempo eu havia esperado por isso.
A Estrada da Rosa cruzava o meio da Mataderrei, e a partir de agora o caminho seria mais difícil. Iríamos atravessar a floresta e além do caminho ser mais difícil para cavalgar, também era mais perigoso.
Entrar em qualquer floresta em Westeros por si só já era uma tarefa árdua. As do sul nem tanto quanto as do norte mas ainda sim eram um tanto misteriosas. A maioria das espécies místicas já estão extintas ou vivem no além da Muralha. Porém, algumas florestas no sul espreitam tribos que se aproveitam para saquear quem passa por lá e alguns animais perigosos também. Em todas as vezes que fui em florestas e bosques na Campina nunca encontrei nenhum selvagem nem animais que me dessem medo. Já havia escurecido quando entramos na Mataderrei. Para nossa sorte o caminho foi rápido e a atravessamos em segurança. Ao chegarmos ao fim da floresta, deixamos o cavalo num estábulo próximo e caminhamos até a Ponta Afiada. O cheiro de maresia já adentrava no meu nariz e eu me senti instantaneamente bem. A ilha da Pedra do Dragão foi o primeiro lugar em que os Targaryen pisaram quando vieram para Westeros. Foi por lá que meus irmãos saíram fugidos para Essos também. E agora eu estava indo em direção a Pedra do Dragão. Só de pensar eu já ficava nervosa e meu estômago dava voltas. Eu finalmente estava começando a me sentir realmente Targaryen. Acho que eu não precisaria mais me esconder.
Ao chegarmos na Ponta Afiada alugamos um barco com um pescador por alguns veados de prata e eu e Laegel remamos em direção à ilha. Como caminho marítimo era um pouco demorado e já estávamos cansados de cavalgar e caminhar, revezamos quem remaria enquanto o outro descansava.
⁃ Pode deixar que remo primeiro, milady. Descanse um pouco.-
⁃ Obrigada pela gentileza, Laegel.- soltei as pás de remo dentro do barco e comecei a observar a imensidão escura a minha frente. Provavelmente quando chegarmos na Pedra do Dragão o sol estará começando a nascer.- Mas quando chegarmos no meio do caminho eu pego as pás e vai ser a sua vez de descansar.
Meus braços e pernas doíam, de cavalgar e andar. Meu corpo inteiro estava dolorido, devido a tensão que senti durante todo o percurso. Ao meu redor tudo estava escuro e atrás de mim em Ponta Afiada havia um pouco de iluminação, a minha frente havia um pouco mais de luzes no que já parecia ser parte da Pedra do Dragão. Olho para trás e Mataderrei me parecem apenas alguns vultos de árvores. Minha mente vai até a Campina. Provavelmente a essa hora os Tyrell e seus criados já haviam notado minha ausência e de Laegel. No entanto não deveriam entender o motivo dela, nem saber onde estávamos. A menos que o Lorde Mace houvesse contado a Margaery sobre minha irmã estar em Westeros, sabendo ela do meu segredo logo juntaria os pontos e perceberia que vim atrás da Daenerys.
⁃ Como você acha que a Margaery vai reagir, Laegel? E será que o Lorde Mace vai aceitar a proposta da Dany?- perguntei olhando para Laegel.
⁃ Para falar a verdade, milady, eu não sei. Lorde Mace aprecia muito os Targaryen desde a época da Conquista mas também há o casamento da Lady Margaery em jogo.- na época da Conquista, quem comandava a Campina eram os Gardener, mas foi o intendente dele, um Tyrell que se rendeu a Aegon Targaryen. Assim, a minha casa apreciando a atitude dos Tyrell os tornaram os Lordes da Campina.
⁃ Caso ele aceite a proposta da minha irmã, Margaery vai ter que dizer adeus ao seu casamento com o Rei Tommen.- falei e Laegel assentiu com a cabeça concordando.
⁃ Apesar de estar casando a filha dele com o Rei, Lorde Mace nunca gostou muito dos Lannister.
⁃ Mas Tommen é um Baratheon, Laegel.
⁃ Possivelmente um Baratheon, milady. Não se esqueça das histórias que circulam em Porto Real sobre o rei ser na verdade filho da Cersei com seu irmão Jaime Lannister. E o lorde Tyrell acredita levemente nesses boatos.
⁃ É, pensando por esse lado...
⁃ Mas também deve se levar em conta que Lorde Mace preza muito pela felicidade da filha e Margaery quer ser rainha mais do que qualquer coisa.
Assenti. Logo chegou a minha vez de remar e a de Laegel descansar. O caminho não foi tão longo quanto pensei e logo já estávamos na Pedra do Dragão.
⁃ Chegamos.- falei para Laegel assim que dei minha última remada. Ele levantou o olhar do livro que estava lendo pegou suas coisas e saiu do barco, logo em seguida me ajudando a sair também. Ajeitei minha sacola pendurada em meus ombros e arrumei minha roupa.
⁃ Preparada para conhecer sua irmã, milady? - perguntou-me enquanto caminhávamos.
⁃ Um pouco nervosa.- falei e Laegel sorriu.- Como você acha que ela é?
⁃ Daenerys? Presumo que só por ser uma Targaryen ela já deve ser corajosa e honrada. Isso somado ao fato de que ela pretende tomar o trono de ferro já mostra o quanto ela é destemida e determinada. O resto você está prestes a conhecer.
Assim que fui responder Laegel, dois guardas vieram em nossa direção. Logo quiseram saber quem nós éramos e pediram identificações. E obviamente quando eu disse que era irmã da Daenerys eles riram e não acreditaram. Mesmo assim conseguimos entrar no castelo, porém, acompanhados de vários guardas. A fortaleza da Pedra do Dragão era imensa e imponente, segundo as lendas que li nos livros de minha família, ela havia sido construída com pedras de dragão. O castelo estava erguido em cima do Monte Dragão, um grande vulcão. Do lado de fora haviam torres esculpidas em formato de dragões e gárgulas de basiliscos, demônios e outras criaturas grotescas. Era claramente um castelo diferente de qualquer outro em Westeros. E por dentro também predominavam os símbolos e relevos de dragão. Quando cheguei em um local que parecia a espécie de um salão principal havia um trono todo feito também de pedras. A área estava mal iluminada mas pude ver de relance um cabelo prateado. Ela era linda. Mais do que eu imaginei. Seus cabelos eram de um louro claríssimo prateado e os olhos violeta, características clássicas dos Targaryen. Os traços do rosto que consegui ver eram finos e mesmo sentada pude perceber que ela não era tão alta. Deveria ter quase o mesmo tamanho que eu, alguns poucos centímetros mais baixa. Eu finalmente estava conhecendo a minha irmã. Ao ouvir os barulhos de passos ela levantou o rosto em nossa direção e esperou que os seus guardas dissessem algo.
⁃ Encontramos esses dois no litoral, majestade. Disseram que queriam falar com a Sra.- disse um dos guardas e logo soltou meu braço com força, o que me fez dar um pequeno passo para frente com o impulso. Só então Daenerys pareceu perceber minha presença e de Laegel ali. Me olhou de um jeito estranho, parou muito tempo analisando meu cabelo, provavelmente pela cor ser quase unicamente uma característica da família Targaryen. Ela se levantou e deu alguns passos em nossa direção.
⁃ Eu sou Daenerys Targaryen, filha da Tormenta. Quem são vocês e o que querem comigo? - disse minha irmã um tanto desconfiada.
⁃ Eu sei que vai parecer estranho mas... Eu sou Rhaena Targaryen, sua irmã.- respondi a encarando. Pude ouvir alguns risos baixos de uns guardas ao meu lado e Dany me olhou um tanto assustada.
⁃ Eu não tenho irmã. Só um irmão, Viserys, e ele está morto.- falou e eu fiquei surpresa com o fim da frase. Como assim Viserys estava morto? O que aconteceu com ele? Isso eu teria que perguntar depois, primeiro precisava me explicar.
⁃ Eu não sei se você sabe, milady. Lembrar-se a Srta. não vai pois era só um bebê quando nossa mãe ficou grávida novamente. - eu disse apreensiva.
⁃ É, lembrar não me lembro. Mas sei que minha mãe estava grávida, pois onde fui criada me contavam muito sobre minha família, do seu início ainda em Valiria até sua quase extinção. - ela disse e se aproximou um pouco mais.- E também sei que minha mãe morreu grávida, então esse bebê que ela esperava morreu com ela.
⁃ É o que todos pensam, milady. Mas vossa mãe não morreu grávida. Ela teve vossa irmã um dia antes de sua morte. Enquanto fugíamos ela entrou em trabalho de parto e depois pediu que eu fugisse com Rhaena pois sabia que não conseguiria escapar dos cavaleiros do Usurpador por muito tempo. Então ela entregou sua filha a mim, seu último servo, Laegel Celeris. - ele disse e Daenerys ficou estática e a ruga de dúvida na sua testa aos poucos fora diminuindo.
⁃ Depois disso nós fugimos para a Campina e vivemos todos esses anos como vassalos dos Tyrell e eu sob a identidade de Julia Florent.- complementei o que Laegel disse.
⁃ Entendi sua história, mas o que me certifica de que vocês não estão tentando me enganar e ganhar a vida as minhas custas? Me perdoem caso os tenha ofendido, mas Westeros é cheia de oportunistas.- ela falou ainda desconfiada.
⁃ Bom, além da minha aparência, que você já percebeu ser típica de uma Targaryen, eu tenho aqui comigo uma espada valiriana. - tirei minha espada da minha bainha e quando fiz menção de me aproximar os guardas me impediram cercando-me.
⁃ Deixem-a se aproximar, quero ver de perto.- disse minha irmã.
Os guardas se afastaram e eu cheguei mais perto dela. Quanto mais pra frente eu ia, mais via o quanto ela era parecida comigo. Entreguei-a minha espada e ela logo pôs-se a analisa-lá.
⁃ De fato essa é uma espada de aço valiriano. Tem mais alguma coisa? - perguntou-me devolvendo meu objeto logo em seguida. Assenti com a cabeça enquanto guardava a espada na minha bainha. Abri minha sacola em busca dos diários de minha mãe e percebi que ela encarava todos os meus movimentos, provavelmente analisando meus traços certificando-se que eu pelo menos na aparência parecia uma Targaryen. Não é qualquer família que tem em seus genes características tão peculiares como cabelo louro-prateado e olhos violeta. Assim que achei os livros entreguei-na. Ela os pegou e me encarou como se perguntasse o que eram.
⁃ Esses dois livros são diários de Rhaella, nossa mãe. Ela os deu à Laegel para que eu pudesse ler quando fosse mais velha. - falei e Daenerys rapidamente os abriu e folheava cada página com um olhar fascinado.- Em um diário ela conta do seu dia-a-dia, desde quando Viserys nasceu até seus últimos dias de vida. No outro é como se fosse um manual que ela escreveu para você e para as outras filhas que tivesse, sobre como ser uma excelente Rainha para o seu Rei, seus filhos e seu povo.
Ela ficou alguns minutos folheando cada página do diário e o salão inteiro estava quieto. Nenhum pio dos guardas, nem de Laegel e muito menos meu. Eu sequer respirava direito, e se ela mesmo assim achasse que eu sou uma impostora? Daenerys levantou o olhar dos livros e me olhou com um semblante que jorrava surpresa. Rapidamente se aproximou de mim. E o que eu menos esperava aconteceu; ela me abraçou.
Eu finalmente estava em casa.



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