Capítulo 7 - Am I a murderer?

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Me arrastei lentamente aos lados da cama tentando chegar a minha espada que se encontrava na mesinha de cabeceira. Me arrastei mais. Os passos ficaram mais próximos. Quando cheguei próximo o suficiente fui esticar minha mão para pegar a espada mas logo fui impedida por alguém que segurou meu braço. Fiquei com um grito entalado na garganta. Alguns poucos raios de luz vinham da janela e agora mais próxima eu finalmente consegui ver quem era. Era a garota que havia me encarado o tempo todo durante a festa. Era a namorada do Robb, Jeyne. Tentei soltar meu braço de suas mãos mas não consegui. Quando fiz menção de me levantar ela se jogou em cima da cama me prendendo entre as suas pernas. Comecei a me debater.
⁃ O que você está fazendo? - perguntei praticamente gritando.
⁃ Impedindo que você tire o meu Robb de mim.
Assim que ela concluiu a frase tentei empurra-lá de cima de mim novamente e nós rolamos na cama e eu cai no chão. Jeyne veio pra cima de mim e percebi que agora ela estava com um punhal em mãos. Me levantei e comecei a andar para trás porém sem olhar para ela. Acabei ficando encurralada entre a parede. Tentei derruba-lá com um chute mas ela apenas se contorceu e logo continuou vindo em minha direção. Jeyne tentou me acertar com o punhal, mas como me movi ela acabou fazendo apenas um leve corte sobre meu quadril. Passei as mãos sobre meu ferimento e senti o sangue escorrer. A golpeei no rosto e em seguida no braço, o que a fez afrouxar a mão e deixar o punhal cair. Me joguei contra ela fazendo com que nós duas caíssemos no chão. Ela me acertou um soco e eu a golpeei três vezes na barriga e com dois tapas no rosto. Como ela ainda estava desnorteada, me posicionei em cima dela e segurei seus pulsos de uma maneira que ela não conseguisse sair. A mantive imobilizada ainda pensando no que fazer. Minha intenção não era matá-la. Afinal ela era a namorada de Robb. E mesmo que ela tenha atentado contra minha vida eu não queria ter que acrescentar mais um assassinato na minha lista do dia de hoje. Três já era mais do que suficiente. Como havia a imobilizado e a garota já parecia desestabilizada resolvi que o melhor a se fazer no momento era pedir ajuda. Me levantei rapidamente e fui até a porta gritar por socorro.
⁃ Alguém me ajude, por favor! - gritei desesperada ainda no batente da porta.
Ia abrindo a boca para soltar mais um pedido de socorro quando fui violentamente puxada pelos cabelos. Jeyne havia levantado de novo e agora me jogava no chão ao lado de minha cama. Ela me deu vários socos seguidos e posicionou suas mãos em meu pescoço me enforcando. Tentei me soltar de todas as maneiras, mas nada foi eficaz. A cada segundo suas mãos estavam ainda mais apertadas ao redor de meu pescoço e meu ar se esvaía. Senti que já estava ficando roxa e sequer conseguia pensar em uma ideia para me soltar. Continuei me debatendo mesmo que lentamente e foi então que vi de soslaio um relance prateado. Ela estava completamente focada em manter força em suas mãos, e foi por isso que não percebeu quando peguei o punhal embaixo da cama. Não pensei duas vezes, essa era a única chance que tinha de sair viva dali. Cravei o punhal em seu peito e ela arregalou os olhos e logo soltou meu pescoço. Começou a perder sangue cada vez mais rápido e caiu de lado deixando uma crescente poça no chão. Quando vi que ela ainda respirava voltei a pedir por socorro, mas ainda no chão, pois não tinha sequer forças para me levantar. Um criado que trabalhava para os Starks apareceu em minha porta completamente ofegante. O encarei e em seguida olhei pra Jeyne no chão. A essa altura ela sequer respirava mais.
Eu ainda estava sentada no mesmo lugar e agora me encontrava cercada por criados dos Starks e até mesmo por Sansa que tentava a todo custo me acalmar. Eu havia acabado de matar alguém. Só hoje eu já havia matado quatro pessoas. Sem chance alguma de eu conseguir me acalmar. Eu havia corrido mais perigo hoje mais do que corri em minha vida inteira. Comecei a repensar se minha decisão de ter vindo pra Winterfell era a certa. Deveria ter ficado com Daenerys. Se bem que lá também não seria 100% seguro. Nenhum lugar seria. Mas eu já começava a me arrepender de minhas decisões. Estava tão assustada que não consegui nem soltar uma lágrima. Mais pessoas chegavam, conversavam comigo ou entre si e eu sequer as ouvia. Arya apareceu. Lauryn apareceu. Bran apareceu. Catelyn apareceu. E eu não havia conseguido prestar atenção em uma só palavra do que eles haviam dito. Conforme fui me acalmando expliquei passo-a-passo o que havia acontecido. Todos entenderam meu lado e viram que era a única coisa que eu poderia ter feito. Estava começando a ficar mais tranquila até que ele apareceu. Não direcionou os olhos para ninguém presente em meu quarto e foi direto de encontro ao corpo no chão. Robb se ajoelhou e percebi que se esforçava ao máximo para não chorar. Seu rosto estava completamente abatido. Permaneceu por alguns longos minutos apenas a olhando. Até que resolveu direcionar seu olhar a Catelyn que estava ao meu lado.
⁃ O que foi que aconteceu aqui? - Robb perguntou com um tom de voz que mesmo ressentido resplandecia raiva.
⁃ Consegue falar, querida? - Catelyn perguntou-me afagando meu cabelo.
⁃ Me desculpa, Sr Stark. - comecei falando e ele sequer me olhou. Havia voltado a encarar o corpo de Jeyne.-Ela entrou no meu quarto escondida, provavelmente com a intenção de me matar, por ciúmes, não sei... Nós lutamos e eu consegui imobiliza-la. Mas quando a soltei para pedir ajuda ela voltou a me atacar e me enforcou de um modo que eu só conseguiria sair viva se a golpeasse com o punhal. Me desculpe um milhão de vezes... Eu realmente não tinha a intenção.
Alguns minutos se passaram desde minha fala e Robb ainda não me olhava. Percebendo o clima cada vez mais tenso que se instaurava as Starks resolveram vir em minha defesa.
⁃ Era a única coisa que a Julia poderia fazer Robb.- disse Arya.
⁃ Ela não tinha intenção de mata-la, tanto que de primeira apenas a imobilizou.- Sansa complementou a fala da irmã.
⁃ Como vou saber que você não a matou de propósito? - perguntou e finalmente me encarou. Eu preferia que ele não tivesse o feito. Só de me encarar seus olhos estavam totalmente diferentes, repletos de raiva.
⁃ Robb, você está sendo indelicado. É óbvio que Julia não teria motivos para matá-la de propósito.- Catelyn veio em minha defesa. Era bom que alguém o fizesse pois eu não sabia nem o que falar, principalmente com o olhar odioso que Robb estava me dando.
⁃ É claro que não, afinal ela é uma Targaryen. É nobre, nasceu para ser uma rainha e nunca sujaria suas mãos com uma reles plebeia...- o Stark disse com a voz repleta de sarcasmo.
⁃ Meu filho, sei que está plenamente chateado. Mas Julia também passou por um trauma agora, esse não é o mo...- Cat ia falando quando Robb a interrompeu.
⁃ Um trauma que poderia ter sido plenamente evitado... Se eu não tivesse aceitado esse maldito acordo Jeyne estaria viva e sua preciosa Targaryen não teria passado por esse terrível trauma.- ele disse aumentando ainda mais o tom de voz e sendo plenamente sarcástico nas palavras após meu sobrenome ter sido pronunciado. Ele se levantou e saiu do quarto em passos duros batendo a porta com força. Senti que todos ficaram ainda mais apreensivos e com pena de mim.
Minha cabeça não parava por um só segundo. Todas as lágrimas que estavam presas começaram a entalar em nó na minha garganta e eu me senti sufocada. Ainda mais sufocada do que quando Jeyne me enforcou. Apoiei minha cabeça nos ombros de Catelyn que logo afagou meus cabelos e Sansa segurou minha mão. Respirei fundo e chorei, chorei como se não houvesse amanhã. Chorei por estar longe de Daenerys e Laegel, chorei por ter matado quatro pessoas, chorei por medo, e chorei por meu futuro marido já me odiar antes mesmo do casamento. E foi de tanto chorar que acabei dormindo.

Dois dias depois
Os poucos raios de sol que iluminavam o céu de Winterfell queimavam sob minha pele e mesmo assim ainda estava frio. Estava se tornando minha rotina vir para o jardim tentar encontrar algo parecido com o que estava acostumada. Mas Winterfell não tinha nada a ver com a Campina. Lá era ensolarado, os jardins coloridos com grama verde, tudo era florido, as roupas com tons vivos e mais abertas. Aqui, é frio, os dias são cinzas assim como as roupas, o jardim coberto por neve e o ano inteiro é dessa mesma maneira. Tentar me lembrar do meu passado era um modo de não me perder em tudo que já havia acontecido. Já haviam se passado dois dias desde minha chegada aqui e todas aquelas mortes rondavam em minha cabeça e influenciavam todo o meu dia. Pra dormir eu tomava chás soníferos e mesmo assim me revirara praticamente a noite toda. Quase não tocava na comida em meu prato e por isso já me sentia fraca. A única coisa boa era a companhia dos Starks. Com exceção de Robb, que sequer havia aparecido no Castelo. Me levantei do banco em que estava sentada e fui em direção ao meu quarto. Ao abrir a porta vi Sansa sentada em uma cadeira.
⁃ Espero não estar incomodando, vim fazer seu curativo.- disse a menina. Eu sorri e me sentei na cama. Apesar dos Starks terem um curandeiro, era ela que estava refazendo meu curativo duas vezes por dia. Ela vinha e eu aproveitava para contar a ela algo de um dos livros de minha mãe os quais tinha muito interesse.
⁃ Imagina, tudo o que tem feito é me ajudar.- falei. Sansa sorriu e se sentou ao meu lado. Meu vestido tinha uma abertura no quadril, o que facilitou seu trabalho.- Que parte quer que eu leia hoje?
⁃ Pode ser a introdução do diário da sua mãe sobre a sua família?
⁃ É claro.- peguei o livro na cabeceira e comecei a lê-lo enquanto Sansa organizava os curativos e medicamentos.- Os Targaryen eram uma das inumeras famílias de Valíria, a nobreza que controlava os dragões e detinha todo o poder na Cidade Franca. Depois de um sonho profético que Daenys teve, onde ocorria uma destruição da cidade, eles partiram para Pedra do Dragão, levando consigo cinco dragões onde um deles era o Balerion.Devido a essa mudança repentina eles conseguiram se salvar da Perdição de Valíria. Após um século Aegon, que posteriormente se tornaria o Conquistador resolveu unificar Westeros, onde houve a guerra da conquista que teve por consequência o ampliamento da influência dos Targaryen por todo o continente.
⁃ Então isso de os Targaryen terem sonhos proféticos realmente é verdade? - perguntou-me surpresa. E eu assenti positivamente. Ela retirou a bandagem e passou um algodão com um líquido sob a ferida. O corte havia sido superficial, então já estava cicatrizando.
⁃ Alguns possuem essa habilidade. Na próxima parte do livro minha mãe escreveu algumas características dos Targaryen que ela mesmo havia presenciado, ou nela ou em algum parente próximo.- assim que ela terminou de limpar a ferida e a cobriu novamente com uma bandagem eu passei para a próxima página do caderno. Olhei brevemente o que estava escrito e a entreguei. Essa próxima parte falava sobre características físicas, loucura, sangue do dragão, imunidade ao fogo, montar dragões, imunidade a doenças dentre outras coisas. Eram longas e detalhadas páginas
⁃ Pode ler pra mim? Prefiro o modo como você explica.- disse me fazendo sorrir.

Dia seguinte
Encontrei Arya na primeira fortaleza e saímos de Winterfell pelo portão leste. Não fomos mais do que 3 metros além disso para que continuássemos em uma área segura. A filha mais nova dos Starks havia pedido para que eu a ensinasse a lutar. Ela já havia aprendido algumas coisas mas teve que parar com as aulas quando fugiu de Porto Real com Sansa, assim que o Sr Eddard Stark foi assassinado. Entreguei a ela uma das duas espadas de madeira que estavam em minhas mãos.
⁃ Será que a gente já não pode lutar com espadas de verdade? Eu já aprendi com as de madeira.
⁃ Por enquanto não. Eu não sei em que nível você está e o que já aprendeu... Aliás, é melhor que inicialmente eu nem saiba e vá descobrindo com as aulas. Se você realmente aprendeu eu logo perceberei e em breve estará lutando com uma espada de verdade. Mas, por hoje, vamos fingir que essa é sua primeira aula da vida.- Arya bufou levemente e eu ri bagunçando seu cabelo. Ela realmente se empolgava com o combate. Não era comum garotas que possuíam esse interesse. Por isso mesmo estávamos treinando mais afastadas, para que ninguém ficasse fazendo comentários.
⁃ Bem, vamos lá.- retornei a falar. Ensinaria Arya do mesmo jeito que Laegel me ensinou.- Não se ganha um combate apenas com força física e uma lança afiada. É preciso ter visão, atenção, calma, planejamento, controle, confiança, inteligência e equilíbrio para ser um excelente espadachim. Preparada?
A menina assentiu. Arya me olhava atentamente, prestando atenção em cada palavra que saia de minha boca.
⁃ Hoje, vamos iniciar com a sua visão de campo e distância. A consciência situacional é um dos segredos da vitória. Você não só precisa estar ciente de que deve se preparar, mas também tem que apreender o seu entorno e calcular maneiras de usá-lo em seu favor.- falei e olhei ao nosso redor.
⁃ 1. É preciso ter atenção ao observar o ambiente, principalmente em batalhas abertas, que o oponente pode vir de qualquer direção. - voltei a falar enumerando as questões.- 2. Faça um estudo do ambiente a sua volta. Fique atento aos mínimos detalhes para calcular suas desvantagens e uma possível brecha para transformá-las em vantagens. A luz do sol, bosques, penhascos, pedras, neve, tudo pode ser usado ao seu favor, contanto que você esteja atenta à esses detalhes.

No dia seguinte acordei mais cedo que o habitual. O dia seria longo. Era o último dia anterior ao meu casamento e eu tinha muitas coisas a fazer. A primeira delas eu já estava fazendo, a última prova do vestido.
⁃ Como você está linda, milady.- disse Lauryn. Estávamos eu, ela e Catelyn em um quarto no Castelo enquanto a costureira media e arrumava meu vestido. Assim que ela acabou, se retirou e agora Lauryn e Cat me analisavam usando meu vestido de casamento.
⁃ Ela tem razão. Você está magnífica querida, amanhã todos só terão olhos para você. - disse sorrindo.
⁃ Menos Robb, é claro...- sussurrei mas mesmo assim as outras duas puderam ouvir. Me sentei em um banco acolchoado e Cat sentou-se ao meu lado. Percebendo o assunto Lauryn pediu licença e se retirou.
⁃ Ainda preocupada com isso, querida?
⁃ E tem como não estar? Ele sequer apareceu pelo Castelo nesses últimos dias. Eu entendo seus motivos... O problema é que eu sinto que ele vai demorar a me perdoar.
⁃ Não pense nisso agora. Aproveite o seu dia. Tenho certeza que meu filho logo irá entender o seu lado e as coisas entre vocês vão se acertar.
⁃ Eu espero que sim.- respondi e suspirei.

Ice and Fire [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora