Capítulo DOIS

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Petra entrou no Doze's sentindo-se muito insegura e desconfortável. Na verdade, podia até dizer que sentia-se nua. Continuava usando seu casaco grande e conservador. Mas ela sabia o que estava sob ele. O pouco que estava.

Assim que viu Willie correu em sua direção. Tentaria mais uma vez fazê-lo desistir de fazê-la usar aquilo. Assim que a viu, Willie sentiu que teria problemas. Petra o olhou num apelo silencioso.

--Por favor, Willie, não me faça usar isso.

--Ora,vamos lá Petra... Não deve estar tão ruim assim.—ele consolou-a, enquanto limpava uns copos.

--Está sim! Pareço uma dançarina barata.

Willie arqueou as sobrancelhas.

--E você já viu uma?

--Na televisão.—ela disse, empinando o nariz. Ele riu e olhou para o relógio na parede.

--Vamos, tire o casaco e vá a luta. Seu turno acabou de começar.—anunciou.

Ela gemeu frustrada, entrando na cozinha e tirando seu casaco, depois o guardou num armário. Pegou um bloco para pedidos e uma caneta e foi para o salão.

--Uh, belas pernas criança.—uma das outras garçonetes disse com malícia. Petra se encolheu e parou ao lado de Willie.

--E então, o que faço agora?—perguntou. Ele suspirou e se virou para ela.

Willie concluiu o quanto uma roupa num tamanho certo podia fazer diferença. Aquela continuava a ser Petra. Mas agora ele a via... e temeu o que viu por seu amigo e ex-reverendo Bob. Sua pequena Petra tinha um corpo esguio. Havia curvas por trás daquela magreza aparente. Petra era uma boneca. O fazia lembrar de sua falecida esposa. 

--Ahn... faça o que uma garçonete faz Petra, anote pedidos e sirva com eficiência.—ele discursou o de sempre.--Cuide das mesas da direita, e do balcão quando eu estiver ocupado.

Ela assentiu e começou a trabalhar.

Depois de quatro horas de trabalho, Petra concluiu que devia ter ouvido o pai e ido descansar. Suas pernas doíam, e sua cabeça também. O bar lotara nessas quatro horas diversas vezes. E ela teve que se multiplicar em duas, três... para atender todos com "eficiência''.

Enfim, quando teve um intervalo sentou-se no canto do balcão.

--O primeiro dia é sempre o pior—Izzy, a outra garçonete comentou.

--Eu não imaginava que daria tanto trabalho.

--E você ainda nem passou pelos clientes mais chatos e inconvenientes.—ela alertou.

--E você já?

--Trabalho aqui a sete meses. O que você acha?—Izzy riu.—Uma vez dei um soco num cara bêbado quando ele passou a mão na minha bunda.—Petra arregalou os olhos.

--Ah, meu Deus!

--Não, Petra. Fui eu mesma quem socou aquele idiota e não Deus.—ela contrapôs, e gesticulou para uma mesa recém ocupada—Bom, meu intervalo acabou.

Petra observou Izzy caminhar até a mesa e anotar os pedidos com um sorriso. Como ela conseguia? Sua boca já estava dormente de tanto sorrir. De relance ouviu a porta do bar ser aberta, e alguém entrar. Seus sentidos já estavam ficando práticos nisso. Pode sentir também quando sentaram-se na última mesa do lado direito do salão. O seu lado. Ótimo, seu intervalo acabou em menos de quinze minutos. Concluiu, se levantando.

Foi caminhando até a mesa ocupada, e ajeitou os óculos e abaixou um pouco a blusa pequena. Mas ao erguer o olhos, congelou. Na mesa, do seu lado direito do salão, lá estava ele. O forasteiro.

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