--Fiquei realmente surpreso ao saber o que aconteceu—Bob falou para a filha.
--Está tudo bem agora pai, não se preocupe.
--Nicko me tranquilizou.—o pai disse—O rapaz é alguém a se considerar, de confiança. Estou feliz que seu relacionamento com ele tenha melhorado. Ele é um bom rapaz, Petra.
--Se você diz.—ela ignorou a babação do pai, enquanto comia uma maçã.
--Pedi a Willie uns dias de folga para você.
--O que? Por que?!
--Nicko sugeriu que seria o melhor pra você.
--Ah, ele sugeriu é...—Petra assentiu entredentes. Quando o visse lhe diria onde ele deveria meter essas sugestões.—Eu vou trabalhar hoje, pai. Não tenho razões para não ir.
--Você sofreu um susto ontem, quero que fique em casa.
--Não preciso disso.
--Eu me sentiria em paz se você ficasse.
--Está bem, pai..—ela deu-se por vencida pelo pai. Mas Nicko iria ouvir poucas e boas.
Petra foi para o quarto e se despiu, indo para o banheiro. Ficou mais do que necessário no chuveiro e ao sair parou ao se olhar no espelho. Tocou em sua pele. Suas bochechas estavam um pouco coradas. Seus olhos claros brilhavam, e seu cabelo castanho caia-lhe sobre ondas pelo pescoço, até as costas. E não havia nenhuma lembrança do que acontecera ontem. Nenhum arranhão. Petra estava atordoada... como não estava machucada? Era como se nada tivesse acontecido.
Saiu do banheiro ainda confusa, vestiu sua camisola de algodão, e se deitou. Estava muito cansada, apesar de não estar com sono. Deixou a janela fechada. E adormeceu aos poucos.
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Nicko estava sentado, em seu quarto, extremamente inquieto. Levantou-se e foi até seus livros. Passou as mãos por alguns, mas nenhum lhe interessou. Resmungou, voltando-se para seus cds. Mas não sentia a mínima vontade de ouvir qualquer tipo de música.
Passou a mãos no cabelo, e chutou o sofá.
--Por que você não vai de uma vez?!—Gremory sugeriu, parado a porta.
--Não sei do que está falando.
--Não me faça perder tempo dizendo o que você já sabe. Aliás, mais do que eu.
--Eu prefiro ficar sozinho.
--Ela pode estar como você. E você não pode permitir isso.
--Ela está ótima.—Nicko sorriu, irônico.—Eu só preciso de um tempo pra me adaptar.
--Você precisa ir até lá.
--Não.
--Teimoso.—Gremory fungou—Olhe só pra você. Está num estado lamentável. Não seja orgulhoso. Isso é pecado.
--Seria se eu fosse oficialmente um anjo.—Nicko contrapôs.
--Oficialmente você é o anjo dela.
--Que bonitinho.—Nicko caçoou.
--Por que não facilita as coisas pra si mesmo?!
--Por que estou há 131 anos preso na Terra contra minha vontade. Por que tenho que conviver com escórias como Alastor e Beliel. Por que agora estou ligado há uma humana, uma caipira. E por que, nós dois sabemos como isso vai acabar.
--Faça o que tem que ser feito, Nicko. Independente do futuro, o que importa é o agora. E agora, você precisa ficar perto de Petra. Pro seu próprio bem.
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Petra se mexeu na cama, acordando aos poucos. Tinha a leve sensação que havia dormido mais do que o costume. Seu corpo nunca estivera tão relaxado, como agora. Uma leve brisa acariciou seu rosto, e ela sorriu. Se espreguiçando.
--Fico feliz que esteja confortável.—Nicko falou. Petra abriu os olhos bruscamente, e sentou olhando para a janela. Nicko estava encostado ao lado da janela que estava aberta.
--Como?!
--Coisa que não estou.
--Não estou entendendo.—ela franziu.—Você não está confortável?
--Não importa.—ele desconversou, com uma expressão fechada.
--Eu me importo.—ela contrapôs, levantando. Nicko desviou os olhos, soltando o ar, irritado.
Petra estava tão... perfeita. Os cabelos bagunçados. Os olhos grandes e expressivos. A boca rosada e macia. E aquela camisola era tão... antiga. Grande, branca e de algodão. Não tinha decotes, e ia até o joelho. Xingou Gremory por tê-lo convencido a ir até lá. Aquilo fora um erro. Mas seu corpo dizia o contrário. Estar perto dela, o acalmava de uma forma que ia além de sua compreensão. De uma forma que o revoltava.
--O que foi Nicko?—ela insistiu—Me diga.
--Eu já disse.
--E eu não ligo.—ela o interrompeu.—Quero saber o que te incomoda.
--Você.—ele disse. Petra o fitou surpresa, e deu uma risada trêmula.
--Não devia me sentir surpresa ou ofendida, né.—ela deu de ombros.—Afinal, você me odeia.—concluiu, cruzando os braços.
Nicko comprimiu os lábios.
--Não posso lhe odiar, Petra.
--Não é o que suas atitudes demonstram.
--É complicado. Você não devia nem estar discutindo isso comigo. Você não está na minha posição.
--Tem razão. Não banco o manda-chuvas sabe tudo.—ela disse. Nicko riu. A luz da lua cheia entrava no quarto, e estava completamente sobre ela.—Me explique, o que é então. Quero te entender.—ela pediu, se aproximando dele. Nicko engoliu em seco.
--Não faça isso.—ele disse, entre dentes. Petra ignorou, e continuou se aproximando. Nicko sentiu seu corpo reagir de forma inesperada a presença dela. Uma reação quase incontrolável de proteção.
--Por que eu te incomodo?
--Sua presença, seu cheiro, sua voz.—Nicko sussurrou.—Essa ligação que você causou me incomoda.
--Você não gosta.
--Não fui preparado pra isso.
--Responda direito.—ela exigiu.—Você não gosta de mim.
--Não tem nada a ver com gostar, Petra.—ele insistiu—Sou um soldado. Vi e vivi guerras inimagináveis. Meu corpo já ficou coberto por sangue. Minhas mãos...—ele hesitou—Fui criado pra isso. Anjos são soldados, e não protetores. Sem sentimentos.
--Isso não é verdade.—ela discordou—Você não é só isso.
--Acredite no que quiser.
--Você me protege agora, não é? Então significa que você não é só um soldado.—falou, tocando o rosto dele. Nicko agarrou as mãos de Petra e a afastou, bruscamente. Petra arfou, se desequilibrando e caindo no chão.
--Fique. Longe. De. Mim.—ele avisou, suas mãos tremendo. Petra o olhou assustada. Nicko arregalou os olhos ao perceber o que fizera.—Petra.
--Você passou dos limites.—ela murmurou, sentindo que ia chorar.—Pode por favor, ir embora.
--Não, não posso—ele negou-se, indo até ela, e a ajudando a levantar. Petra se afastou dele.
--Não estou pedindo. É meu quarto. Minha casa. Vá embora.
--Não preciso de sua permissão pra ficar aqui. Sou seu anjo da guarda. Mesmo que não queira, eu ainda estaria aqui, visível ou não.
--Então vou te ignorar.—ela decidiu, saindo do quarto.
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COLIBRE
ParanormalNada nunca acontece na pequena cidade de Colibre, até que a chegada de um estranho muda tudo. Petra pensava estar feliz com sua vida pacata ao lado de seu pai. Mal sabia ela, que não conhecia nada da vida e que não estava preparada para o que veio a...