Capítulo VINTE e UM

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--Você não vê como isso se tornou difícil pra mim? Sou seu anjo da guarda. Como poderei te machucar?! Eu morreria.

Petra virou-se pra ele.

--Acho uma troca justa. Não vou nessa sozinha!—disse, de modo irônico. Nicko pegou sua mão e colocou sobre seu coração.—O que está fazendo?

--Quero que veja uma coisa.

Era uma floresta densa e sombria. A névoa cobria toda a área, diminuindo a visibilidade. Caminhou, sentindo-se perdida. Sabia onde estava, em uma das lembranças de Nicko. Mas que lugar era aquele?

Ouviu um barulho baixo e se aproximou devagar, mesmo sabendo que não seria vista.

Em uma clareira pequena, um corpo machucado jazia na grama úmida. Estava coberto de sangue e gemia de dor. Petra foi até ele e agachou-se ao seu lado. Suas costas eram esguias e muito brancas apesar do sangue. Estava nu. Dois cortes profundos e verticais atravessavam suas costas. Seu cabelo era na altura dos ombros. Todo seu corpo magro tremia.

Então ele se virou, abrindo seus olhos e vendo além do rosto chocado de Petra. Era Nicko! Lágrimas se formaram em seu rosto, com cuidado, o acariciou.

--Oh, Senhor. Doí tanto. Não sabia que a dor era assim.—ele sussurrou.—Senhor? Pode me ouvir? Me ajude.

Mas Nicko não fora respondido.

Petra sentou ao seu lado. Então percebeu que o clima mudava e a noite de repente era dia e o dia noite. Dias estavam se passando. Ninguém viria ajudá-lo?

Então, ouviu passos e levantou a cabeça esperançosa.

--O que... Por que me tirou de lá?—Petra quis saber ao voltar para o presente.

--Gremor me achou. Deus atendeu ao meu clamor e enviou alguém para me ajudar. Gremor me viu e saiu a minha procura.

--Por que me mostrou isso?

--Queria que visse o que passei para chegar até aqui. E agradeço por tudo que passei. Talvez, se outro anjo tivesse sido enviado.—ele a tocou.

--Nicko, tem que haver outro caminho.

--Então vamos encontrá-lo.

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Ela saiu de casa para jogar o lixo fora, e ao virar-se o avistou, sentado numa cadeira velha de sua varanda. Ela caminhou até ele, desconfiada. Observou que diferente da postura segura de sempre, agora havia algo peculiarmente diferente nele. Subiu os poucos degraus, e encostou-se na base da varanda velha, pondo as mãos no bolso do jeans.

--Devo expressar o quanto estou surpresa com sua visita?—disparou—Sentiu saudade?!

--Amy, preciso de sua ajuda.—ele disse, sem rodeios. Ela enrijeceu ao ouvir o nome que há muito não ouvia.

--Não uso mais esse nome.

--É como sempre lhe chamei. Sabe como sou apegado ao Princípio.

--É, você sempre foi meio ultrapassado.—ela contrapôs—Então, Nithael, como posso ajudá-lo?

Ele olhou ao redor e levantou.

--Prefiro que seja em particular. O mais particular possível.—ela o olhou por algum tempo, por fim concordou, e ambos entraram na casa.

Ela o guiou até a cozinha, pegou duas cervejas na geladeira e os serviu. Ele ocultou um sorriso.

--Essa vida não combina com você.

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