Capítulo VINTE e QUATRO

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Não podia mais correr.

Sentia que correra para uma vida toda.

Parou, soluçando um pouco. Esbarrou numa árvore, tentando voltar a respirar. Aproveitou, e olhou pra trás. Sorriu, aliviada por não ver ninguém. Mas seu sorriso morreu, ao perceber que isso não era reconfortante. Não havia ninguém que soubesse que estava em perigo. Sentou no chão, se abraçando. Seu corpo tremia por causa do frio. Seus pés descalços estavam gelados.

Fechou os olhos, com medo do que estava acontecendo. Quem era aquele homem? E por que a perseguira? De repente, lembrou do que Nicko falara: "... eu não sou o único que quer você..."

Esse era um dos outros que a queriam. Concluiu. E sabia que eles a matariam se a pegassem.

--Você não pode fugir de mim.—ouviu a voz do homem—Sinto seu cheiro, sabia que sangue virgem é o meu favorito?

Levantou assustada olhando ao redor sem ver nada.

--Me deixe em paz!—gritou, voltando a correr.

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--Nicko, o que vamos fazer?

--Você vai pra casa. Deixe isso comigo!

--Ela é minha amiga também.

--E o quão útil isso é?—ele ralhou, deixando-a sozinha.

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Não viu o tronco velho a sua frente, e tropeçou caindo no chão com tudo. Seu corpo derrapou pela grama úmida, e sentiu galhos arranhando sua pele. Arfou, sentindo o sangue em seu rosto e a dor queimar. Choramingou, tentando se levantar. Seu corpo todo protestando.

Ouviu passos lentos se aproximando, de repente perto demais. Ele se agachou ao seu lado, e tirou o cabelo do seu rosto.

--Você corre mais do que minhas últimas vítimas e eu gosto muito disso em você.—ele falou com um sorriso na voz.—Mas o sabor da perseguição... humm... me deixa extremamente excitado.

--Você veio por causa da lenda, não é?

--Está chegando seu momento. Seu grande momento.

--Não me mate, por favor.

--Não se preocupe, não vou matá-la.

--Não?

--Não.—ele confirmou, e riu—Pelo menos, eu não vou.

Petra chorou mais.

--Por que está fazendo isso? Eu disse a Nicko que me entregaria.

--Oh, eu sei disso. Esse era o plano.—ele disse. Petra gelou, piscando.

--O que quer dizer?

Ele olhou pros lados e levantou puxando-a consigo. Petra cambaleou, mas ele a segurou. E a forçou a andar.

--Que plano é esse?

--Bom, o plano é simples. Ele te protege e no final você é nossa.

--Nicko mandou você?

--Não, mas eu cansei de esperar sabe. Não se preocupe, vai ver seu demônio logo.

--Demônio? De quem você está falando?

--Nicko, oras.—ele respondeu, impaciente.

Petra franziu. Por que aquele homem achava que Nicko era um demônio?!

--Quem é você?—ela perguntou.

--Alastor.

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--Gremor! Gremory!—Nicko entrou na mansão gritando. Gremory apareceu vindo da biblioteca.

--O que aconteceu?

--Pegaram ela.

--Quem?!

--Quem seria idiota o bastante pra isso?

--Alastor.—ele concluiu.

--Temos que ir atrás dela.

--Nicko, não.—Gremor falou. Nicko parou e o encarou.

--O que?!

--Ele não vai matá-la. Não antes do tempo. Ele vai levá-la ao lugar combinado amanhã.

--Você está sugerindo que eu fique sentado esperando?!

--Estou lhe dizendo o óbvio.

--Não posso deixá-la nas mãos daquele bárbaro.

--Você vai ter que esperar. Se for, pode botar tudo a perder. Vão desconfiar de você. E precisamos de Beliel.

Nicko olhou pros lados, e pôs as mãos no cabelo, gemendo frustrado.

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Estava tudo escuro, mesmo quando abriu os olhos devagar, tudo continuava escuro. Sabia que algo devia ter acontecido, já que não se lembrava de ter vindo para um lugar tão escuro. Sua cabeça latejava. Pôs a mão na nuca e gemeu de dor, sentindo o galo. Alastor devia ter-lhe apagado num golpe e a trazido até esse lugar úmido e escuro. 

--Oi?—chamou.—Por favor...me ajude...alguém...

Uma luz foi acesa, e viu ele se aproximar. Só então deu-se conta que estava presa numa espécie de gaiola.

--Até que enfim acordou.—ele falou, parando na sua frente, e analisando-a. Petra tentou manter o olhar, mas desviou após um tempo sentindo-se desconfortável.

Ele riu, se agachando.

--Precisamos de você viva até amanhã, mas isso não significa que não posso me divertir um pouquinho até lá, não é?!

--Você é um...de...

--Demônio?! Oh, sim, muito prazer.—ele fez uma reverência.

--Por que você disse que vou ver Nicko logo?

--Por que ele faz parte do show também!—ele exclamou, animado.—Todos nós temos um papel nesse grande momento.

--E qual o seu?

--Ah, o melhor e o que estou esperando há tempo demais.—ele disse—Matar Nicko!

Petra arregalou os olhos.

--Pensei que fossem amigos.

--O que?!—ele gargalhou.

Ela hesitou, pensando em tudo que Alastor lhe revelara até agora. Seu mundo girando de repente.

--Nicko ajudou vocês a me acharem?

--O filho da mãe? Não, ele a encontrou sozinho. E veio até nós para trazer as boas novas.

--Que boas novas?

--Oh, não sabe do que a espera, não é?—ele sorriu, contente.—Bom, acho que gosta de histórias. Certamente eu gosto. Mas essa é uma história de terror e é você quem acaba mal no fim.

--Pode simplesmente ir logo ao que interessa?!—Petra revirou os olhos.

--Apressada? Se é assim que quer fazer, tudo bem.—ele deu de ombros—Corre a lenda desde a época que Lúcifer caminhava sobre a Terra, que uma virgem abria e fechava as portas do inferno.

--Como assim?

--Se a última virgem fosse morta durante um ciclo lunar, a porta do inferno seria aberta.

Petra absorveu o que acabara de ouvir devagar, por que tanto ele quanto Nicko haviam lhe contado histórias completamente diferentes. Nicko dissera que o sangue de uma virgem traria a Ordem na Terra. Já Alastor, dissera que a virgem era uma porta para o inferno.

--Então, vocês querem me usar pra abrir as portas do inferno?—ela balbuciou.

--Bingo!—ele bateu palmas.

--Mas Nicko sabe disso?

--É claro! Ele iria te entregar para nós hoje á noite, mas sou impaciente.—ele disse, cochichando.

Petra empalideceu.

--Isso não pode ser verdade.

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