A casa de Nicko estava silenciosa, e escura. Andaram próximos um do outro. Nicko a guiou até os fundos da casa. Abriu uma porta de vidro, que dava para um terraço amplo e fresco. Haviam flores por todo o lado e uma grande piscina aquecida no jardim.
Nicko tomou a mão de Petra a levou até uma pequena mesa a beira da piscina. Puxou uma cadeira, e a fez sentar. Petra sorriu, confusa, olhando ao redor. A mesa estava linda. Havia pratos para dois de porcelana fina, e talheres de prata. Duas tochas estavam em cada lado da mesa. Aquecendo o ambiente e deixando a iluminação agradável.
--Nossa, o que é tudo isso?
--Nosso jantar.—Nicko explicou, sentando com um sorriso sedutor.—Pedi para Kenned deixar tudo pronto para nossa chegada.
--Isso tudo é pra nós dois?—ela perguntou.
--Ele é meio exibido—ele comentou olhando tudo que Kenned preparou.
--Eu amei.—ela disparou, sincera. Nicko sorriu, ao vê-la tão animada.
--Espero que goste da comida também.—Nicko salientou, abrindo a bandeja, e revelando um frango assado em pedaços suculentos, já cortados.—Ele só pode estar puxando meu saco.
--O que foi?
--Adoro esse prato.
--Então você come afinal?—Petra quis saber. Nicko a olhou como se aquilo fosse um absurdo.
--Aqui na Terra sim. No céu, simplesmente não sentimos fome.—ele explicou, servindo-a primeiro. Em seguida abriu uma garrafa de vinho e pôs num cálice pra ela.
--Nicko, eu não bebo.
--Você não quer que eu sirva um prato desses com refrigerante, quer?—ele questionou—Esse vinho não é barato. Não vai deixá-la bêbada, e se deixar, você está em boas mãos.—falou, piscando. Petra enrubesceu, desviando os olhos. O que Nicko estava fazendo? Por que ele a levara ali? E estava sorrindo e piscando pra ela? Será que Izzy estava certa?—Então, o que achou?
Petra apressou-se a experimentar, e gemeu.
--É delicioso.—disse. Nicko assentiu, e começou a comer também.
Comeram em silêncio, até o fim do jantar. Assim que terminaram, Nicko levantou e a pegou pela mão. Petra sentiu-se um pouco tonta ao levantar, mas Nicko estava lá para segura-la.
--Desculpe—ela balbuciou. Ele franziu.
--Acho que não deveria ter lhe induzido ao alcoolismo.—ele caçoou. Ela semicerrou os olhos.
--Estou bem, me solte.—ela mandou, entredentes. Nicko não a obedeceu.
--Tem certeza? Não quero ser o responsável por algum hematoma.
--Mesmo se eu estivesse bêbada, nada iria me acontecer já que você é meu anjo da guarda, certo?—ela disse, irônica. Nicko riu, soltando-a.
Petra esforçou-se para não cambalear, mesmo que pouco. Acompanhou-o até a beira da piscina, onde ele se sentou no chão, e ela o imitou. Ele fitou o reflexo da lua cheia nas águas da piscina.
--Como foi quando caiu?—Petra perguntou, após um tempo. Viu o maxilar dele mexer. E os ombros ficarem tensos.
--Já sentiu aquela sensação de estar caindo da cama, e acordar de um sonho?—ela assentiu—É mil vezes mais intenso. É um frio insuportável. Uma falta de gravidade realmente desconfortável. Parece eterno. Mas acaba, e você está muito machucado para ter a real noção que acabou. Suas asas estão em chamas... queima de um modo que você não tem forças pra gritar de dor. Por que está fraco demais. Levei um ano para me recuperar totalmente.
--Deve ter sido doloroso para Gremor também...
--Gremor não caiu.
--Então, o que ele é?
--Um Nephilim.—ele disse, e suspirou—Nephilins são filhos de anjos com humanos.
--Anjos...fazem?—sentiu sua voz sumir, quando Nicko a olhou de modo intenso e sarcástico.
--Creio que sim.—respondeu.—Gremor nasceu de um anjo de terceiro escalão, e de uma humana bruxa.
--Anjo de terceiro escalão?
--É, são quatro escalões no céu. O primeiro, são os arcanjos. O segundo, são os anjos soldados, como eu. O terceiro, são anjos mensageiros. E o quarto, são querubins, e recém-eleitos.
--Explica?
--Anjos mensageiros ouvem as revelações e profecias do céu e Terra.—disse—Os querubins são anjos de baixo escalão, deseguinados para as menores tormentas dos humanos. Mas pra vocês, o mais importante, os sentimentos. Eles guiam, orientam. Os recém-eleitos são novos anjos. Anjos que podem mudar de escalão. Evoluir.
--Você evoluiu?
--Não foi preciso. Minha linhagem é nobre.—ele negou de modo estranho.
--Mas Gremor sempre viveu aqui?
--Sim.
--Ele vai pro céu um dia?
--Todos nós vamos, Petra.
--Eu vou?
--Se depender de mim...—começou, virando-se pra ela, e tocando seu rosto.—Você conheceria o paraíso agora.
Petra sentiu sua boca secar, e sua pele formigar. Nicko estava tão próximo. Seus olhos a fitavam como se ela fosse algo importante pra ele. E ela queria isso. Que ela fosse algo, qualquer coisa, mais que fosse importante pra ele.
Viu quando os olhos dele passearam por seu rosto, e não resistiu a umedecer os lábios. Os olhos dele captaram esse movimento dela, e ela sentiu-se encorajada. Nicko era demais pra ela. Era um predador. E ela a presa. Mas existiam predadores no céu?
Fechou os olhos, se aproximando dele. Podia sentir o quão seus lábios eram macios como nuvens. Como devia ser. Como fora feito para ser. Seu coração batia forte contra seu peito. Aquilo era tão novo pra ela. E ele era tão perfeito. Era um anjo. Seu anjo da guarda. Ele a protegeria. De tudo. Mesmo do que estava sentindo naquele momento.
Mas então sentiu algo errado. Algo que não estava acontecendo. Os lábios de Nicko não estavam sobre os seus. Ele não estava perto o suficiente dela. Não ao ponto de poder ouvir seu coração. Lentamente ela abriu os olhos, e seu olhar encontrou-se com o olhar de Nicko. Ele a olhava de modo estranho. De um modo acusador. De frustração. De um modo reservado.
Devagar ele se afastou dela. A noite ficou fria de repente. Petra se abraçou, se perguntando se o inferno era frio ou quente? Seja lá como fosse, ela se sentia dentro dele.
--Ainda me ver como uma caipira, não é?—ela murmurou, seus olhos ficando úmidos. Nicko fitava a lua, perdido. Havia imaginado então? Nicko não sentia o mesmo que ela? Não havia tido vontade de beija-la?
Sentindo-se uma idiota, ela levantou e saiu de lá.
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COLIBRE
ParanormalNada nunca acontece na pequena cidade de Colibre, até que a chegada de um estranho muda tudo. Petra pensava estar feliz com sua vida pacata ao lado de seu pai. Mal sabia ela, que não conhecia nada da vida e que não estava preparada para o que veio a...