Capítulo DEZESSEIS

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Não queria sair da cama.

Não queria acordar mais.

Queria voltar no tempo e não ter tentado beijar Nicko. Fechou os olhos com força, tentando não voltar a chorar. Já havia chorado demais, desde que havia chegado. Gemeu, ao se lembrar da volta pra casa.

De repente, e de modo muito conveniente, Kenned chegou. E observando o clima tenso entre Petra e Nicko, se dispôs a leva-la pra casa. Nicko recusou, mas Petra tinha que manter o que lhe restara do orgulho, e dissera que preferia ser levada por Kenned.

Kenned a levou em silêncio, e Petra sentiu-se confortável. Ao chegar em casa, agradeceu por seu pai já estar dormindo. Subiu para seu quarto e se deitara. Depois disso, não fazia ideia há quanto tempo permanecia ali. Parecia muito, mas pra ela, não era o suficiente.

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Estava vivendo uma desgraça interior, quando ouviu Gremory chegar. Respirou fundo, já odiando o que seu amigo falaria. Seja lá o que fosse. Não estava com humor para nada.

--Algo errado, Nithael?—Gremory indagou, ao entrar no quarto. Nicko fechou os olhos. Sim, tudo estava errado.

--Não.

--Onde ela está?—inquiriu—Pensei que ela ficaria aqui essa noite. Mas Kenned deixou-me um recado.

--Ela tentou me beijar.—Nicko o interrompeu. Gremory calou-se, e se aproximou de Nicko.

--E você,  o que fez?

--Que droga eu poderia ter feito?!—Nicko ralhou, escondendo o rosto entre as mãos.—Eu a recusei.

--E ela não ficou satisfeita.

--Ela reagiu de modo muito discreto. Mas ficou óbvio que feri seu orgulho. Ou pior, a magoei.—e isso o estava matando. Vira o que havia provocado nela. Como nenhum outro poderia enxergar. Vira a inocência, o desejo, a expectativa, a confusão, e por fim, a decepção em seus olhos.

--Você fez o correto. Você é o anjo da guarda dela, e não um namorado.

--Ela não entende como funciona para nós, Gremor. Não sabe das limitações que temos.—Nicko dissimulou—Estou acabando com a vida dela.—sorriu ao notar o quão irônico era aquilo.—Diga a Ele que não posso mais continuar com isso.

Gremory arregalou os olhos, surpreso.

--Seja mais racional e inteligente, filho.—aconselhou—Se não prosseguir com sua missão irá ser castigado. Não por mim, ou por Beliel, mas por Ele. Irá direto para o inferno.

Nicko estremeceu. Sabia o que o inferno significava para alguém como ele. E sabia que não desejava isso pra ninguém.

--O que farei com Petra, então? Ela não vai confiar em mim. Não depois de hoje.

--Então, minta. Diga o que ela quer ouvir.—Gremory instruiu. Nicko fitou o rosto do amigo que há muito conhecia. E concordou, pela primeira vez em sua existência, com incerteza.

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Petra servia as mesas meio distraída, e acabou errando vários pedidos. Todos a fitavam com certa preocupação. Ela por sua vez, ignorava tudo e principalmente os murmúrios. Fungou ao se sentar em seu intervalo.

--Noite ruim?—Izzy perguntou, sorrindo de modo acolhedor.

--Noite idiota.—ela corrigiu, soltando o ar, e sentindo seus olhos arderem. Piscou, balançando a cabeça.

--O que ele fez?—Izzy quis saber—Me diga eu mesma bato nele.—Petra sorriu, triste.

--Ele não fez nada.

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