Petra sorria ao entrar em casa. Adormeceu nos braços de Nicko. Ele sussurrou em seu ouvido canções até ser levada lentamente ao sono. E havia sonhado. E no sonho, Nicko a beijava. Sem parar... como se dependesse disso para viver. E ela estava disposta a ser sugada por ele.
Ele era tudo que sempre quis. E que nunca imaginou que iria querer um dia. Seu coração batia irregular ao pensar em seu sorriso e em seu cheiro. Nicko era suave e forte ao mesmo tempo. Suas mãos suavam perto dele. E algo que nunca sentira queimava em seu interior sempre que estava perto dele. Petra o desejava. Pôs as mãos na boca, surpresa. E sorriu. Sabia que ele não podia corresponder da mesma forma. Que como anjo, estava incapacitado de sentir como um humano, mas talvez, houvesse algum modo de mudar isso. Pensou, esperançosa.
--Pai!—ela o chamou. O pai não estava na sala como de costume. Franziu, sentindo cheiro de queimado. Ele estava na cozinha, concluiu—Pai, o que o senhor está aprontando...—sua voz sumiu, e empalideceu ao ver o pai desmaiado no chão. Gritou e correu, se ajoelhando ao lado do pai.—Pai! Pai acorde! Por favor! Vamos, pai.—implorou, aos gritos. Lágrimas rolando por seu rosto.—Pai...—soluçou, deitando no peito do pai. Bob estava com a respiração fraca, e frio. Levantou, e correu para o telefone.
Petra batia o pé impaciente na sala de espera do Hospital Central Colibre. A ambulância demorou a chegar, mas foram rápidos ao cuidarem de seu pai. Se abraçou, tremendo. Mas não sentia frio. Estava com medo. Apavorada. Fechou os olhos, voltando a chorar.
--Petra, como ele está?—Willie quis saber, ao chegar.
--Não sei, não me dizem nada. Faz uma hora, Willie. E ninguém me diz se meu pai está bem. Não sei onde está o Dr. Grey.—ela murmurou. Willie tocou seu ombro.
--Ele é forte, Petra. Já passou por coisas piores.—a confortou. Ela balançou a cabeça, chorando.
--Petra.—a voz suave invadiu a sala e seu âmago. Petra abriu os olhos, e o viu. Levantou e correu até ele, que a recebeu num abraço.
--Nicko foi horrível. Eu cheguei e ele estava caído no chão, pensei, pensei que ele tivesse morrido...—lamentou trêmula. Nicko a apertou mais para si.
--Estou aqui Petra. Sempre vou estar.—disse.
--Não quero que ele morra.
--Eu sei.
--Nicko, peça a Ele, por favor. Não deixe que ele se vá.
Nicko a fitou. Seus olhos eram puro medo. Desespero. Eram esses mesmos olhos que o olharam mais cedo? O que ele podia fazer? Não falava com Deus. Nunca falou desde que caíra. E não sabia se poderia fazê-lo. Suspirou, beijando sua testa.
--Srta. Door?—uma voz feminina se pronunciou. Petra virou-se, encarando uma enfermeira.—Seu pai acordou, mas ainda está fraco. E quer vê-la.
--O que ele teve?—Willie questionou.
--Logo o Dr. Grey estará aqui e poderão perguntar.
Bob sorriu debilmente ao ver a filha entrar no quarto de hospital. Sorriu por que apesar da preocupação em seus olhos, havia algo de diferente em seu jeito. Parecia mais leve, mais feliz. Fechou os olhos, relembrando o passado.
--Pai?
--Petra você está linda.—ele balbuciou.—Cada vez mais se parece com sua mãe.
Petra se aproximou do leito e sentou na beirada.
--Como era a mamãe?
--Linda, uma das mulheres mais bonitas que já vi em toda minha vida. Não sei o que ela viu em mim.
--Seus olhos pai.—Petra falou.
--Gostei da roupa.—ele comentou. Petra corou, lembrando que ainda usava a camisa de Nicko, e um jeans que vestira antes de vir para o hospital.
--Nicko me emprestou.
--Ele parece ser um bom rapaz. Cuida bem de você.
--Ele é como um anjo da guarda pra mim.—disse.
--Ótimo. Não quero deixá-la sozinha.
Petra demorou um pouco para entender o que seu pai quis dizer. Mas arregalou os olhos ao constatar.
--Nada vai te acontecer, pai. Ouviu? Você vai ficar bem, logo vai estar em casa assistindo seu futebol e comendo besteiras escondido e...—abraçou o pai, chorando.—Não me deixe papai.
--Eu não vou a lugar nenhum minha querida... enquanto você me mantiver em seu coração. Eu sempre estarei com você.
A enfermeira havia entrado e pedido para se retirar para que seu pai descansasse. Voltou a sala de espera, onde Willie e Nicko a esperavam. Dessa vez, preferia sentar numa poltrona sozinha.
Em seguida, Dr.Grey apareceu visivelmente preocupado. Petra engoliu em seco.
--Olá, Petra.—ele a cumprimentou. E fez um gesto para Willie e Nicko.—Receio que não tenho boas notícias.
--Por favor, Dr.Grey diga que meu pai vai ficar bem.
--Falamos sobre como o coração dele está fraco, lembra? Ele terá que ficar aqui, sinto muito, mas seu pai não tem muito tempo.
--O q-que quer dizer com isso?
--Que seu pai tem poucos dias de vida.
--Não, não. É mentira! Você disse que ele ficaria bem!
--Eu sei, Petra.—ele concordou.—Mas essas coisas acontecem.
--Meu pai não é uma coisa!—Petra gritou.—Ele não vai morrer!
Nicko se levantou e foi até Petra, segurando-a pelos braços e fazendo-a fita-lo.
--Petra, fique calma.—pediu. Ela o olhou, e reprimiu o choro. Sentando novamente.
--Me desculpe, Doutor.
--Tudo bem, Petra. Sei que é um momento difícil. Bob também é uma pessoa que admiro muito.
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--Você precisa comer—Willie disse para Petra.
Fazia dois dias que Bob estava internado, e seu estado havia piorado.
--Não tenho fome.
--Vão acabar arranjando um quarto pra você aqui, Petra. E sei que seu pai não iria querer isso. Você tem que ser forte.
--Olha, eu já perdi minha mãe, e agora posso perder meu pai. E se isso acontecer, vou estar sozinha. Eu só não posso comer agora.
--Estamos aqui. Nunca estará sozinha.—Izzy falou.
Petra fechou os olhos se apoiando na poltrona. Não tinha fome, mas seu estômago doía. Não tinha sono, mas seus olhos ardiam. Sentiu as mãos de Nicko a sua volta. E uma paz a invadiu. Era assim que ele a fazia se sentir. Calma. Era como estar em casa.
--Vamos dar uma volta, Petra.—ele pediu.
--Não quero sair daqui.
--Mas eu não quero ir e deixar você.—ele insistiu—Vamos, voltaremos logo. Você precisa de um tempo pra si mesma.
--Preciso do meu pai bem.
--Ele vai ficar. E ainda vai estar aqui quando voltarmos.
--Pra onde vamos?
--Pra minha casa, é o mais perto. Você vai tomar um banho, comer, e dormir um pouco.
--E meu pai? E se ele acordar e me chamar?
--Trarei você voando.—ele disse, sorrindo.
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COLIBRE
ParanormalNada nunca acontece na pequena cidade de Colibre, até que a chegada de um estranho muda tudo. Petra pensava estar feliz com sua vida pacata ao lado de seu pai. Mal sabia ela, que não conhecia nada da vida e que não estava preparada para o que veio a...