Capítulo QUATRO

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--Mas o aniversário é seu.

--É, mas...—ela titubeou, e franziu—Você está fazendo de novo.

--Eu?! O que estou fazendo?

--Me deixando confusa e me fazendo bancar a boba.

--Tem certeza que sou eu?

--É, eu tenho. Você sempre está sendo o grosso. Eu não sei lidar com pessoas assim.

--Sempre?! Mas nós nos conhecemos a apenas dois dias.

--Você me entendeu, Nicko.

Ele riu, e entrou, passando por ela, que fechou a porta. Petra observou aquele homem alto ocupando sua sala com certo receio. Era estranho vê-lo ali.

--E então, o que tem pra fazer aqui?—ele perguntou.

--Os convidados estão lá atrás. As bebidas e a comida também.—ela disse, mantendo certa distância dele.

--Se incomoda se eu ficar aqui?

--A noite toda?

--Não sou muito social.

--Nem eu, mas isso aqui é pelo meu pai.

--O aniversário não é seu?!

--É, mas pode ser o último que meu pai passa comigo.

--Ele está morrendo?--ele perguntou, com interesse.

--Ele pode morrer.—o corrigiu.

--Entendo.—ela deu um meio sorriso, mexendo no vestido, inconsciente.

Seguiu-se um silêncio constrangedor entre os dois.

--Você deve ser Nicko.—Bob conclui, entrando na sala. Petra evitou olhar pro pai, e principalmente para Nicko. Ele assentiu e cumprimentou seu pai.

--Nicko Arc, prazer em conhecê-lo senhor.

--Robert Door, o prazer é meu em conhecer o rapaz que salvou minha filha de arruaceiros.

--Fiz o que qualquer um faria.

--Mas você o fez. Petra é jovem e um pouco ingênua ás vezes, teve sorte de ter alguém capaz de ajudá-la.

--Pai, não fale como se eu não estivesse aqui. E eu não sou ingênua.—Petra defendeu-se irritada com seu pai. Ele estava tratando Nicko como se fosse um herói, um santo.

--Sabe, Nicko... minha filha tem estado um pouco impaciente nesses últimos meses. O que explica seus modos, acredite ou não, ela costumava ser mais gentil.

Nicko ocultou o sorriso, observando Petra mudar de vermelha para roxa, e logo em seguida sair da sala.

--Então, o que faz aqui em Colibre? Me perdoe a indiscrição mas, não é comum recebermos visitas como a sua.

--Estou num passeio solitário. Sempre me interessei por cidades menores.—disse.

--Procurando algum lugar pra morar então?

--Oh, não... em breve pretendo estar voltando pra casa.

--Seus pais devem estar sentindo sua falta.

Nicko sorriu amargo.

--Quanto tempo pretende ficar aqui filho?

--Não mais que o necessário, espero.

--Então, o que um rapaz como você procura?

Ele hesitou, ponderando ao que dizer ao homem que estava a sua frente.

--Seria bom uma ocupação. Não gosto de ficar sem fazer nada por muito tempo.

--Entendo o quer dizer. Me sinto assim agora quase que todos os dias. Petra faz questão de me deixar sem nada pra fazer.—o velho Bob confessou—Escute, tenho alguns concertos pendentes aqui na fazenda, e seria ótimo ter ajuda.

Nicko de início pensou em recusar de imediato. Isso não estava em seus planos. Mas trabalhar ali seria ter maior contato com Petra. Gremory o mataria se perdesse essa oportunidade.

--Eu posso ajudá-lo se quiser.

--É claro que quero—e riu—Vamos lá pra trás, a noite está linda para se ficar dentro de casa com um velho.—ele falou, guiando Nicko pelo ombro até a parte de trás da casa.

Era uma varanda grande e antiga. No gramado a frente, haviam mesas e cadeiras ocupadas por pelo menos umas quinze pessoas. Poucas ali pareciam de fato convidados da aniversariante. Reconheceu o dono do bar Doze's, a garçonete e o barman de lá. Eram os únicos que estavam perto de Petra. Assim que apareceu, todos pararam de falar, encarando-o. Nicko quis sair dali, mas Bob continuou arrastando ele indiferente aos olhares curiosos.

Bob parou na mesa ocupada por sua filha, e Nicko sentou na cadeira vaga ao lado dela.

--Willie, como anda o bar?

--Indo bem Bob, meu velho.—Willie respondeu espirituoso.—Devo dizer que Petra está se adaptando bem ao nosso ritmo.

--Claro que ela teve uma pequena ajuda, não é?!—Izzy salientou, olhando para Nicko.

--Não carreguei nenhuma bandeja da srta. Door eu acho.—Nicko contrapôs.

--Vou olhar a churrasqueira—Bob avisou, saindo.

--Então, quem é você, rapaz?—Izzy perguntou, irônica.

--Ninguém importante. Só um viajante.

--Ah, vamos. O que faz aqui nesse fim de mundo, confraternizando com caipiras como nós?—ela insistiu. Nicko sorriu torto, olhando de soslaio para Petra que o evitava.

--Estou atrás de algo muito importante pra mim.—respondeu, e Petra o fitou. Se entreolharam por segundos até Willie fingir uma tosse. Nicko desviou os olhos, se voltando para Izzy.—Se vou conseguir, é um mistério até para mim.—completou.

--Quantos anos você tem?—Willie quis saber. Nicko franziu. Essa era uma boa pergunta. Boa mesma.

--Tenho vinte e quatro.—disse. Willie não confiava nele. Nicko percebeu.—Seu bar é muito bom. Um dos melhores que vi até hoje.—elogiou o homem, que suavizou a expressão.

--Trabalhei muito pra chegar onde estou.

--Nada sem esforço vale a pena.—Nicko concordou, e virou-se para Petra.—Por que não me mostra a fazenda, Petra?

--Por que?—ela perguntou, confusa.

--Você deve conhecê-la melhor do que qualquer um aqui. E foi você quem me convidou para vir.

--Foi meu pai.—ela o corrigiu. Ele levantou, oferecendo sua mão.

--Acho que isso não importa mais.

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