Capítulo NOVE

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Petra adormeceu no sofá, esperando-o. Nicko afastou uma mecha do cabelo dela que caia-lhe no rosto e se agachou, olhando-a.

Ela não era como ele pensara. Era melhor. Era determinada. Era pura. Era humana. Uma humana de verdade. Uma humana que não merecia o futuro que estava por vir.

--Ela é como um anjo, Nicolai.—Gremory murmurou, parado na porta. Nicko suspirou.

--É sim, um anjo puro.

--Pena que até os anjos sangrem.—ele comentou. Nicko olhou para seu braço e retirou o pano. O corte que fizera já havia cicatrizado.—Como foi lá?

--Tudo certo.—deu de ombros, levantando.—Mas Alastor desconfia de minha fidelidade.

--Por que?

--Me recusei a entrega-la agora.

--Não quero saber o motivo que teve para isso.—ele balançou a cabeça—Espero que não haja retaliação da parte dele. Corre boatos que ele adora uma vingança.

--Se houver, ficarei feliz em apaziguar.

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--Essa mudança tem cheiro de Nicko.—Izzy assobiou ao ver o cabelo solto de Petra. Ela corou.

--Não tem nada a ver.—defendeu-se. Fazia uma semana desde o dia que passara na casa dele. Ela havia pegado no sono esperando-o, e ele a levou pra casa logo ao acordá-la. Não o havia visto desde então, e se viu sentindo falta dele. O que a deixava confusa, afinal, não gostava dele, não era?

--Sei... qual é Petra, você não mudaria se não por um motivo realmente significativo.

--Ele não é esse motivo, garanto.—insistiu. O bar já estava fechando.--Estou indo.--Petra pegou seu casaco, e se despediu.

Pegou sua bicicleta e foi em direção a sua casa. No meio do caminho algo que ela não viu ou ouviu, a atingiu, e ela caiu rolando pelo asfalto. Arfou ao bater numa cerca de madeira. Sentou-se, e viu que seu braço estava bastante arranhado, e sua testa sangrava.

--Droga.—gemeu. De repente uma risada baixa a gelou. Ela olhou ao redor e não viu nada. Estava tudo muito escuro.—Oi?—chamou—Tem alguém aí?—a risada surgiu novamente. Petra engoliu em seco, e tentou levantar.

Então um cachorro preto enorme surgiu do mato, rosnando. Petra empalideceu, dando um passo pra trás.

--Calma cachorrinho...—balbuciou. O cachorro latiu.—Shhh... cachorro bom...

O cachorro latiu mais, e Petra gritou correndo, e ele avançou indo em sua perseguição.

--Oh, meu Deus! Socorro! Socorro!—berrou em plenos pulmões. Então tropeçou, e caiu. Fechou os olhos chorando, aguardando pelo animal que a comeria viva. Mas não aconteceu. Minutos se passaram e ela não sentiu os dentes do cachorro em sua pele. Lentamente, abriu os olhos e sentou, olhando em volta.

Nada.

Apenas ela e o silêncio.

Seu corpo tremia, sua roupa estava rasgada e suja de sangue. Respirou várias vezes tentando reestabelecer sua respiração.

--Petra.—uma voz falou, atrás de si. Ela gritou virando-se e deparando-se com Nicko. Sem acreditar que ele estava ali, ela se atirou nele.

--Oh, Deus! Você está mesmo aqui?!

--Estou.—ele disse, surpreso com a reação dela.—O que aconteceu?

--Um cachorro enorme e muito assustador... ele ia me comer viva!—ela disparou, alarmada. Nicko a fitou, sem expressão.—Vo-você não acredita em mim, não é?

--Acredito, Petra.—ele assentiu—Vamos, vou te levar pra casa.

--Não! Meu pai teria um enfarto, literalmente, se me visse assim.

--Entendo.—ele concordou, pegando o celular e discando alguns números.--Vamos até Gremor, ele vai cuidar de você.

--Arranjou belos arranhões, não foi?—Gremory comentou, enquanto cuidava dos machucados de Petra.—Me diga, o que estava fazendo quando o cachorro apareceu?

--Nada demais, estava voltando pra casa. Como sempre faço. Ah, não! Minha bicicleta.

--Isso é o de menos, o importante é que está bem.

--Eu sei, mas nunca vi um cachorro daquele. Nossa ele nem parecia de verdade... parecia um monstro. E sumiu do nada!

--Huh!

--Onde Nicko está?

--Foi falar com seu pai. Avisar que está aqui.

Nicko entrou na casa velha irado. Ninguém se pôs em seu caminho e logo ele estava frente a frente com Alastor.

--Que droga você estava pensando?!

--Acho que não sei do que você está falando.

--Não se faça de tolo, Alastor.—Nicko rosnou. Alastor o olhou por sob os cílios, inocente.

--Muito bem, o que tem a me dizer?

--Você não cumpriu o acordo.—ele acusou—Ela foi atacada por um animalzinho seu!

--Ele usava minha coleira?

Nicko chutou uma cadeira

—Fique longe dela, Alastor! É meu último aviso.

--Não sei o porque disso, Nicolai. Afinal, ela será nossa em pouco tempo.

--Mas ainda não é. E até lá, mantenha distância. Não vou repetir.

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Encontrou Petra descansando em seu quarto ao voltar. Lembrou-se da reação controlada de Bob ao saber que a filha caíra da bicicleta ao se assustar com um animal. Nicko o convenceu que talvez ela estivesse só um pouco estressada.

Foi para o banheiro se despiu e entrou sob o jato quente. Seus músculos foram relaxando aos poucos. Nicko fechou os olhos, sentindo-se cansado do que se tornara. Estava ali há muito tempo. Começara a desenvolver reações humanas demais. Reações perigosas.

Ira.

Ultimamente era tudo que sentia.

Desligou a ducha e enrolou-se na toalha, e foi andando para o quarto, em direção ao seu closet. Mas parou ao perceber que Petra não estava mais dormindo.

--Você está bem?—ele quis saber se aproximando. Ela recuou, sem graça. Ele parou, sem entender—Ei, sou eu.

--E-eu sei... nossa... sei mesmo.—falou sem conseguir desviar os olhos do corpo dele. Nicko foi até ela, agachando-se na sua frente.

--Seus arranhões estão melhores.

--É? Nossa que rápido.—ela murmurou, sem prestar muita atenção. O cheiro de Nicko era doce, embriagante. Era delicioso. Sem pensar, ergueu as mãos e o tocou. E todo seu corpo congelou.

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