Capítulo VINTE e DOIS

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Gemeu frustrada, não eram opções justas.

As duas a assustavam. Mas nas mãos de Nicko, continuaria viva, e ele seria recompensado.

Voltaria pra casa.

Suspirou, triste. Casa. Ele iria embora. E ela ficaria sem ninguém. Mas se recusasse a se sacrificar, os outros viriam atrás dela e acabaria morta, e Nicko não iria pra casa. Ficaria sem ele de qualquer maneira. Mas talvez, se ele voltasse pra casa, poderia vê-lo de novo. Um dia.

Fechou os olhos com medo. Não podia tomar essa decisão sozinha. Não podia pensar nessa ideia tão absurda. Anjos não deveriam existir. Essa lenda não devia existir. Nada disso devia ser possível.

Levantou, vestiu um jeans e uma camisa preta, calçou suas botas baixas e saiu para o único lugar que lhe daria as respostas de que precisava.

Gremory abriu a porta antes mesmo que ela tocasse a campainha. Petra o olhou surpresa, e entrou sem jeito.

--Pensei que fosse Kenned—explicou.

--Ele foi no mercado.—Gremory falou.—Que surpresa vê-la aqui, Petra. Mas Nicko não está.

--Eu não vim por causa dele.—ela disse olhando para os lados—Quero falar com você. Se você puder, claro.

--Sou todo seu.—exclamou, bem humorado.—Vamos para a biblioteca.

Petra o seguiu até uma sala grande e espaçosa, que ficava no fundo da casa. Após a sala de estar. Havia duas poltronas e um sofá. Escolheu o sofá, e Gremory sentou numa das poltronas.

--Então, o que posso fazer por você Petra?

Ela fitou as mãos, ponderando.

--Quero que fale sobre Nicko. Como ele chegou até aqui. E por que eu tenho que ser sacrificada. Me diga tudo, Gremor.—disparou, tensa.

Gremor a fitou sem demonstrar surpresa com suas perguntas.

--É um longa história.—começou.—Sou um Nephilim, filho de um anjo e de uma humana vidente. Herdei a imortalidade do meu pai, e o dom da minha mãe. Posso ver o passado, presente e futuro. E eu vi quando Nicko caiu. Eu já tinha visto e ouvido sobre esse dia. Por isso eu sabia que tinha que encontrá-lo. Eu não vejo nada sobre os humanos. Vejo o que normalmente se é desacreditado na Terra.—respirou fundo—O encontrei num estado lamentável e delirante. Ele passou sete dias naquela mata. Suas asas quase destruídas. O resgatei e o trouxe para cá. Levou um mês pra se recuperar. No começo foi difícil. Anjos caídos demoram muito pra se recuperar da queda. No primeiro ano, Nicko não sabia por que tinha caído. No primeiro dia, do segundo ano eu vi o por que. Vi setenta e duas garotas, vi um altar, vi Nicko. Vi o que ele tinha que fazer.

--Entendo.

--Viajei com ele por vários estados, e países até chegar ao presente e aqui estamos nós. Diante da última virgem.

--Como pode ser eu?! Quer dizer, minha vida sempre foi patética.

--Eu a vi, Petra. Não costumo errar.

--Mas por que ele tem que me machucar? Ele é obrigado a fazer isso?!

--Não, claro que não. Mas Nicko foi e é, o melhor soldado do Céu. Ele sempre foi obediente, e fiel. Inabalável. Não cumprir essa missão, seria como declarar sua morte no Céu.

--Eu sou uma missão pra ele?—ela murmurou pra si.

--Você se tornou a protegida dele. Não é mais apenas uma missão.

--Mas isso não muda nada. Ele ainda tem que cumprir a missão dele.

--Petra, você é humana, não entenderia o que esta em jogo para Nicko. Se ele falhar, vai perder tudo e vai para o inferno.

--Inferno?!

--Existe tanto quanto o Céu.

Petra assentiu, pálida.

--E o que vai acontecer comigo?

--Não vejo, você é humana.—ele a lembrou.

--Nicko disse que as virgens herdariam o reino do céu.

--É o que todos os humanos acreditam.

--Vocês não?!

--Sei que haverá uma recompensa para todos no final.

--Nicko falou sobre outros que me querem.

--Você é a última. Há um preço alto pela sua vida. Muitos fariam de tudo, qualquer coisa para impedir Nicko e roubá-la.

--Ele me disse algo do tipo.—concordou, sentindo as paredes rodarem. A verdade era pior do que imaginava.—Não me sinto bem.

--Vá para o quarto de Nicko. Vou pedir a Kenned que lhe prepare alguma coisa.

--Nicko tem que me matar?

--Não Petra. Fique tranquila, vamos fazer dar certo.

Ela assentiu, mesmo sabendo que dificilmente algo dali pra frente daria certo.

Nicko se aproximou do sofá, onde Petra estava encolhida, todo seu corpo respondendo a proximidade iminente. Ele inspirou o ar com o cheiro único que só ela possuía, e sentou no chão, ao lado do sofá. Nesse mesmo instante, ela abriu os olhos. Ambos se fitaram por um longo momento. Petra deu um sorriso fraco.

--Que bom que voltou.—ela sussurrou.

--Gremor disse que você queria respostas.

--Fiquei apavorada, Nicko. Meu anjo da guarda tem que me sacrificar por que sou virgem. Isso fez uma bagunça e tanto na minha moral.—ela disparou. Ele sorriu.—Precisava saber se havia alguma razão, um mínimo motivo pra tudo isso ser justo. E descobri que não há nada.

--Sinto muito.

--Mas aí, eu lembrei que nem eu nem você pedimos por isso. Ou lutamos ou nos entregamos. Mas eu e você não poderíamos fazer isso juntos.—ela riu—Então, resta eu me entregar.

--Petra.

--Prefiro que seja pelas suas mãos, Nicko.—ela o interrompeu.—Por que vai doer menos no meu coração.

--Petra, eu...

--Você deveria dizer que sou louca, mas não pode. Por que sabe que eu tenho que fazer isso.—uma lágrima rolou por seu rosto—Quando?

--Esse fim de semana.

--Posso pedir uma coisa?

--Claro.

--Prometa que quando isso acabar vai me chamar pra sair. De verdade.

Nicko arqueou as sobrancelhas, surpreso.

--Nunca me chamaram pra sair. Nunca saí com ninguém. Ser filha do reverendo sempre espantou os rapazes.

--Prometo.—ele concordou, beijando-a na testa.

--Ah, e quero um vestido novo.—ela acrescentou.—Não quero ser sacrificada vestida como uma garota que nunca beijou ninguém.

Nicko riu.

--Tenho certeza que você não parece esse tipo de garota.

--Ah, sem essa.

--Vamos fazer compras amanhã, se insiste.

--Eu insisto.

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Amy abriu a porta sonolenta, tropeçando ao ver quem era.

--Eu tive uma visão, Amy.

--Não tive escolha.

--Ela tem que morrer. Sei do plano de vocês e gostaria de sugerir uma única mudança.—ele salientou.

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