Capítulo VINTE

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A chuva caía com força em Colibre. Fazendo um barulho abafado e confortável contra o telhado de sua casa. Petra encolheu-se sob o cobertor. Não estava com sono. Sentia que havia um buraco em seu estômago. Mas estava fraca demais pra comer algo.

Algo bateu em sua janela, e esta se abriu. Petra se assustou, mas ao ver a silhueta entrando, acalmou-se. E pela primeira vez há dias, sorriu. Esforçou-se levantando e correu até ele. Abraçando-o.

--Nicko, nem acredito que é você.—murmurou contra ele. Suspirou adorando a sensação da pele molhada dele contra a sua. O cheiro dele estava mais forte, e a rodeou familiar.—Seu cheiro é tão bom.—disse.

Nicko a apertou contra si, surpreso com a recepção. Pensara que ela estaria com raiva, ou até desconfiada dele. Mas fora totalmente o contrário. Sentiu o corpo agora magro e frágil dela. E algo bom o invadiu. Algo estranho, e confuso. Lentamente, afundou o rosto em seus cabelos sentindo o cheiro dela que tanto gostava.

--O seu é maravilhoso. Me faz pensar em nuvens.

--Nuvens?

--Casa.

--Você sumiu.—ela disse. Nicko observou-a. Petra estava mais magra, e havia olheiras em seus olhos.

--E você não está se cuidando.

--Tem sido difícil.—explicou—Vou tomar um banho, você vai ficar?

--Não vou a lugar nenhum.

Depois de um longo banho, Petra sentia-se renovada. Vestiu uma blusa quente e uma calça. E ao sair do banheiro encontrou Nicko em sua cama, ao lado de uma bandeja com comida.

--Não precisava.

--Você precisa comer. Ou vou ter que obrigá-la?—ele falou, sorrindo. Petra corou, e sentou, pegando uma torrada.

--Onde você estava todo esse tempo?—ela perguntou.

--Tive alguns contratempos.—explicou, devagar—Desculpe ter me ausentado por tanto tempo.

Petra olhou para a torrada quase intocada em sua mão. Sua boca seca de súbito.

--Senti sua falta.

O ar de repente tornou-se tenso, elétrico... Nicko a encarou, com uma expressão diferente. Uma expressão que fez o estômago dela revirar.

--Sou seu anjo, estou com você todo o tempo. Mesmo que não veja.

--Não senti falta do meu anjo da guarda. Senti falta de você Nicko.—ela se corrigiu. Deixando a torrada de lado, e se aproximando dele.

--Petra.

Ela ignorou, e ficou frente a frente com ele. Mesmo sentado, Nicko ainda era um pouco mais alto que Petra. Ela ergueu a mão até tocar em seu rosto. Nicko soltou o ar, fechando os olhos e trincando o maxilar.

--Sua pele é tão perfeita.

Nicko abriu os olhos, e afastou a mão dela.

--Por favor Petra, não faça isso.

Ela baixou os olhos, sem graça. E se afastou, levantando.

--Desculpe. Esqueci que só eu quero você.—ela ralhou, irritada. Nicko arqueou as sobrancelhas.

--Você está perdendo a razão.

--Por que?! Por gostar de você?!—disparou.

--Não, não Petra.—ele balançou a cabeça.—Só não podemos.

--Por que?!

--Por que eu seria castigado!—ele gritou.

--Mentiroso!—ela ergueu o queixo—Você caiu. Não precisa seguir droga de lei alguma!

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