Capítulo SETE

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Petra soltou o ar, numa risada. E foi pra cozinha, seguida por ele. Pegou o leite na geladeira, e uma caixa de cereais no armário, sentando-se na mesa. Nicko a fitou, recostado na porta.

--Sabe, não estou acostumada a comer com alguém que não seja meu pai. Então, se já disse tudo que queria...

--Não vai se livrar de mim tão fácil.—ele a interrompeu. Petra semicerrou os olhos, e começou a comer.

Ficaram em silêncio por minutos, até ela terminar. Pôs a tigela na pia e se virou pra ele.

--O que mais você quer?

--Vim pegá-la para passar o dia comigo.

--Ficou maluco?!—ela riu, sem acreditar. Nicko franziu.—Sem chances.

Nicko pôs a mão no peito num gesto teatral.

--Assim você consegue ferir o ego de um homem.

--Não me preocupo com o seu. Tem bastante aí pra você não sentir nada.—ela disparou. Ele a olhou surpreso e por fim sorriu, como se soubesse de algo que ela não sabia. Ela não gostou desse sorriso e estava certa quando ouviu a próxima coisa que saiu da boca dele.

--Passei na casa de Willie e já pedi a permissão do seu pai para levá-la num passeio.

--O que?!—ela exclamou, sem acreditar, Seu pai simplesmente a estava jogando pra cima de Nicko!

--Você tem quinze minutos pra se arrumar.—ele intimou. Ela o olhou sarcástica.

--Isso é uma ordem?

--É, e você quer obedecer.—acrescentou, olhando-a nos olhos.

--Você poderia ao menos ter pedido.—ela empinou o nariz.

--É, poderia. Mas não é quem eu sou.

Nicko a levou ao centro da cidade, onde visitaram uma loja tradicional de rock.

--Por que me trouxe aqui?—Petra quis saber—No shopping daqui tem outras lojas melhores.

--Acredite em mim, aqui tem tudo que preciso.

--Pra que?!

--Vamos entrar, ok?—ele sugeriu impaciente.

A loja era razoavelmente grande. Tinha todo tipo de produtos de rock. Camisas clássicas, e discos raros.

--Aqui deve ser muito caro.

--Não se preocupe com isso.—ele falou, olhando em volta. Petra concluiu que ele estava acostumado com aquele tipo de ambiente. Ele se aproximou de uma vitrine onde havia várias bandanas expostas. Ele foi olhando uma por uma e pegando várias pra si.

--Pra que isso?—ela quis saber. Ele se voltou para ela, e sorriu torto. Sem que ela esperasse ele soltou o cabelo dela, e depois pôs uma das bandanas em sua cabeça. Ajeitando com cuidado. Ele deu um passo pra trás e a olhou.

--Você foi feita pra ficar com o cabelo solto. Ele é lindo.

Petra tocou em seu cabelo e na bandana.

--O que tem na bandana?

--Metallica,"All Nightmare Long".

--Ah.—ela murmurou sem entender.

Ele riu.

--Alguém tem que te levar pro mal caminho. E depressa.—ele confidenciou.—Mas ainda não é isso que quero lhe dar.

--Me dar?!

--Não te dei um presente de aniversario, Petra. Você me convidou pra sua festa e não levei nada.

--Não faço questão.

--Não seja mal agradecida.—ele cortou, impaciente.—Só me deixe fazer isso.

--Se você insiste.—ela suspirou, olhando em volta. Não sabia o que ele tinha em mente. Mas não via nada ali que pudesse lhe ser útil.

--Vamos fazer o seguinte? Me espere na lanchonete aqui em frente enquanto escolho seu presente, ok?

--Tudo bem.—concordou, saindo da loja.

Terminava de tomar o suco, quando Nicko sentou a sua frente. Ele lhe passou um embrulho grande e quadrado. Petra aceitou meio relutante. E abriu.

--É um vinil.—ela sussurrou, admirando o que ganhara. Sabia que vinis não eram mais tão usados e por isso eram mais difícil de serem achados, e também muito caros.—Black Album, Metallica.

--O melhor de todos.

--É lindo, Nicko, mas é meio demais.

--Um presente nunca é "meio" demais.

--Provavelmente é a coisa mais cara que já ganhei na vida.

--Não é o valor, Petra. É o que representa.—ele explicou. Ela olhava para seu presente.--Você sempre é assim tão irritante?! Por que não sorri e agradece como a maioria dos humanos fazem?!

Ela o olhou surpresa com sua explosão.

--Obrigada.—ela agradeceu, sem graça.—Mas por que usou esse termo "humano"?

--Vai ver por que eu não seja um.

--Do jeito que se comporta não me surpreenderia se não fosse mesmo.—ela contrapôs. Os dois se fuzilaram.

--Quer que eu troque?

--Não, claro que não. Não se troca um presente desses. Vou guardar.

--Ótimo.—ele assentiu—Está com fome?

--Ah, não e você?

--Não.—ele disse, jogando uma nota na mesa.

--Você nunca parece estar com fome, Nicko. Quero dizer, nunca o vejo comer nada.

--Vai ver você seja meio distraída.

--Tenho certeza que não tanto. Você não come, só bebe.

--Não que isso tenha algum gosto também.

--O que você quer dizer com isso?

--Não é nada Petra.

--Como não?—ela insistiu—Você não come e fala que não sente nem gosto do que bebe. O que você quer que eu pense?!

Nicko a ignorou. Petra o fitou, de cenho franzido. 

--O que quer fazer agora?—ele perguntou.—Não há muito o que fazer aqui, não é?—ele olhou-a. E ela piscou, desviando os olhos.—Vamos na minha casa.

--Sua casa?

--É, Petra. Casa, aquele lugar onde as pessoas moram.

--Achei...

--Que eu não tinha casa?!

--Não aqui.

--Tem razão. Não é minha casa, é do meu tio.

--Seu tio?!—ela repetiu.

--Ele não vai estar lá, e se estiver, não se preocupe.—ele garantiu.

--Ok.--ela concordou, pouco convencida.

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