Capítulo QUATORZE

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--Vim em boa hora?

--Eu queria falar com você e estava imaginando como.

--Pude sentir—ele concordou. Há alguns segundos seu corpo começara a ficar inquieto. E sentiu uma urgência incomum de vir a seu encontro.-

--Como assim?

--Acho que sinto quando quer me ver, Petra.—ele explicou, sentando na cama, a vontade.

--Ah...—ela murmurou, observando o corpo esguio de Nicko em sua cama. Sentiu-se enrubescer. Limpou a garganta.—Então, Izzy esteve aqui mais cedo e me chamou para um cinema, e ela sugeriu que você fosse.

--Sugeriu?!—ele arqueou as sobrancelhas.

--É, o Sam vai com ela. E ela não quer que eu vá sozinha e sugeriu que eu chamasse você.—Petra falou, tímida.

--Cinema, é?—ele repetiu. Não queria ir. Não queria se dar ao trabalho de ser sociável com humanos mais do que o necessário. E aquilo era totalmente desnecessário.

--Ah, deixa. Provavelmente você tem coisas "angelicais" para resolver.—ouviu ela disparar, vermelha. Só então, ele percebeu que aquilo era um encontro. Petra estava convidando-o para um encontro. Duvidou que aquela ideia teria vindo dela. Aquilo era obra de Izzy.

--Que horas?

--Marcamos as sete.—ela falou num fio de voz.

--Passo aqui as seis e quarenta.

Petra estava sentada no sofá assistindo tv com seu pai, esperando Nicko. Demorou um pouco pra decidir o que vestir. No fim, optara por seu único jeans skinny, e um suéter vermelho. Seu pai mal disfarçou o quanto estava satisfeito com tudo aquilo.

As seis e quarenta em ponto a campainha soou. Petra levantou e foi abrir.

Nicko sorriu ao ver Petra. Ela estava diferente essa noite. Usava roupas mais justas o que combinavam com ela. A deixava mais sensual. E aquela cor em contraste com a cor pálida dela, a deixara tentadora. Como uma maçã. Seu cabelo longo e castanho estava caído em ondas por seu rosto até suas costas. E não usava aqueles óculos que só escondiam a cor de seus olhos. Seus olhos verdes estavam excepcionalmente perfeitos naquela noite.

Petra conteve o fôlego ao ver o quanto Nicko estava lindo, pra variar. Usava um jeans preto justo, que parecia ser novo. E uma camisa social preta. Seu cabelo estava solto.

--Você está ótimo.—ela disse.

--Você não poderia estar melhor—ele contrapôs. Ela sorriu. Bob apareceu a suas costas.--Boa noite, senhor.

--Sei que minha filha está em boas mãos, Nicko. Portanto, se divirtam. Mas nem tanto, ok?—ele riu consigo mesmo.

--Chego ás onze, pai.

--Oh, não tenha pressa.

Ao saírem, Petra olhou pra Nicko, sem acreditar.

--Como você faz isso?

--Faço o que?

--Meu pai... ele é "louco" por você. É coisa de anjo encantar as pessoas assim?

--Acho que ele simplesmente gostou de mim, Petra.

--Ah, claro. Foi seu sorriso simpático?—ela falou, irônica.

--Ou minha beleza incomum?—ele continuou. Ela revirou os olhos e parou ao ver a moto.

--Vamos nessa coisa?!

Nicko a fitou quase ofendido.

--Não é uma "coisa"... é uma Kansas.

--Não vou subir nisso, Nicko.

—Petra, o que você acha que vai acontecer? Eu dirijo há mais de um século e sou seu anjo da guarda. Isso é mais que direção segura, não acha?

Ela analisou a moto por segundos por fim gemeu dando-se por vencida. Nicko sorriu satisfeito, e lhe passou uma jaqueta de couro.

--Vista, vai sentir frio.

--É pequena pra você.

--É por que essa é sua.—ele corrigiu, subindo na moto e ligando-a. Petra digeriu a notícia surpresa. Nicko havia comprado uma jaqueta de couro pra ela. Mas quando ele fizera isso?

Encontraram Izzy e Sam em frente ao cinema, quando se aproximaram, Izzy sorriu de modo conspirador para Petra, que abaixou os olhos sem saber como disfarçar. Sentia os olhos de todos ali sobre ela. Afinal ela era a filha do ex-reverendo. E acabara de descer de uma moto com o cara novo da cidade.

--Que bom que vocês puderam vir!—Izzy disse, ao vê-los. Sam cumprimentou Nicko com um gesto discreto com a cabeça. Nicko sabia que o humano não confiava totalmente nele.—Uau, Petra, você está diferente. Adorei a jaqueta!

--Ah, obrigada, Izzy.—ela agradeceu, deslocada.

--O filme já vai começar, vamos?—Sam avisou, puxando Izzy.

--Qual é o filme?—Petra quis saber, ao sentarem nas poltronas.

--A Ira dos anjos—Sam respondeu.—Izzy escolheu.

--Me disseram que é bom.

--Eu acho uma baboseira. Essa história de anjos é tudo uma droga inventada.

Petra evitou olhar para Nicko.

--É mesmo?—Nicko questionou.

--Todos pregam sobre o Bom Senhor e seus servos e onde eles estão? Por que não mostram as caras?!—Sam divagou.

--Ei, a história do filme é boa. Fala sobre a ira dos anjos contra as ordens de Deus.

--Todo mundo sabe que os anjos são soldados sem cérebro que só servem pra baixar a cabeça e obedecer.—Sam discordou.

--Você não pode dizer o que você não conhece, Sam.—Petra interpelou.

--E você conhece?!

Petra comprimiu os lábios. Ela conhecia sim. E ele estava bem ali ao lado deles. E ele não era sem cérebro.

--Foi o que pensei. Você não acredita neles tanto quanto eu.

--Não é por que eles não aparecem por puro capricho seu que eles não existem, Sam.—Izzy defendeu a amiga.—Desculpe o Sam, ele não tem uma boa visão da religião, sabe.

--A carapuça não nos serviu, Izzy.—Nicko disse, bem humorado.

O filme acabou sendo bom, pelo menos, para Petra e Izzy. Sam resmungou o tempo todo. E Nicko simplesmente fechara os olhos e dormira ou fingira. Caminharam lado a lado pela praça de Colibre. E pararam para comer em uma lanchonete.

--Por que não vamos para minha casa?—Sam sugeriu—Pegamos os lanches e ouvimos algo lá.

--Por mim, tudo bem.—Izzy concordou e olhou para Petra.

--Eu e Petra já temos outros planos—Nicko respondeu por ela.

--Ah, bom, até amanhã então, Petra.—Izzy deu de ombros entrando na caminhonete de Sam.

--Temos outros planos?—Petra repetiu, assim que estavam sozinhos.

--Você não queria ir tanto quanto eu.

--Ok. É verdade.—ela concordou.—Sinto muito ter feito você passar por tudo aquilo que Sam falou.

--Os humanos tem uma imagem bem peculiar do que somos.

--Vocês são obedientes, só isso.—Petra falou.

--E sem cérebros, não é?

--Você é bem inteligente. Bem mais que o Sam.—ela contrapôs. Nicko sorriu.

--Você é uma advogada do diabo, sabia?

--Obrigada—ela sorriu—Então, pra onde vamos?

--Minha casa.

--Ah...

--Ou você prefere...

--Tá ótimo pra mim.

--Pra mim também.

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