Capítulo 19 - Madeleine

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Madeleine

Em meio as reclamações do trânsito, eu consigo relaxar no meu carro, enquanto espero os carros andarem. Estou  via Rodovia dos Bandeirantes e BR-050 , indo para Campinas. No som, está tocando o album Born To Die da Lana Del Rey. O céu de São Paulo está com nuvens pesadas e só um sinal do sol por trás da poluição.
São Paulo não é uma cidade que as pessoas são ensinados a amar, se fala tanto dos seus defeitos que sua qualidades ficam tímidas em meio das reclamações do trânsito, poluição e insegurança, mas se engana quem pensa que São Paulo pode ser resumida pelos seus problemas, a sua intensidade e complexidade conquista aqueles que têm uma mente aberta e disposição para conhecer a São Paulo multifacetada,vão despertar sentimentos repletos de ternura pela terra da garoa.
Ir para Campinas foi algo que passou pela minha cabeça logo quando eu acordei nessa manhã de domingo, meu destino é o Bosque dos Jequitibás, um lugar agradável e bom para pensar e descansar do trabalho. Essa semana eu tive que fazer perícia em dois locais de assassinato.

Gastei uma hora e quarenta e seis minutos de viagem. Deixei meu carro em um estacionamento pago, e fui andando até o bosque. A cidade estava movimentada, aromas de comidas, flores e perfumes adentravam meu nariz enquanto eu caminhava pelo Centro.
O bosque tem muitas árvores, o que garante sombra em quase todo o percurso. Há um parquinho para crianças, mini-zoológico, várias cotias, tatus, pássaros soltos pelo parque. Também há um museu de história natural (um pouco caidinho, mas com bom acervo), um aquário recém reformado e a casa dos animais interessantes (como répteis, anfíbios e insetos) - estas atrações são pagas a parte. Há também um teatro infantil no espaço e a pista de caminhada possui marcação de distância.
Pais estavam caminhando com seus pequenos filhos, e até mulheres sozinhas com carrinhos de bebês percorriam a pista de caminhada.
Vagando pelo parque, acabei encontrando um carrinho de cachorro-quente. O proprietário do carinho é um senhor sorridente e falador, que logo veio fazendo perguntas.

— A moça é de São Paulo, é? — Ele perguntou enquanto preenchia o pão com purê de batata.

— Sou sim. — Respondi.

— Eu sou de Bragança Paulista. — Ele pegou uma salsicha e colocou no pão. — Meus dois filhos ainda moram lá. Só eu e a minha esposa moramos aqui. Minha casa é aqui perto. Tá gostando de Campinas?

— Já estive aqui algumas vezes. — Falei, e desviei o olhar para um casal se beijando no banco próximo. E então pensei no Theo.

Quando o senhor terminou o meu lanche, eu agradeci e continuei minha caminhada. Enquanto eu saboreava o cachorro-quente, uma criança de aparência de oito anos se aproxima de mim, ela parecia assustada e logo agarrou-se na minha mão.

— Ei! — Exclamei. — Tudo bem?

— Eu perdi meu pai. — O menino olhou para mim. — Pode ajudar a encontrar meu pai?

Eu queria entender o porquê todas as crianças sempre se aproximam de mim. Olhei para o garoto assustado e dei um meio sorriso.

— Onde você viu ele por último? — Perguntei.

— Na casa dos animais, mas eu já voltei lá e não achei ele. — O menino estava com os olhos cheios de lágrimas.

— Tudo bem. Vamos encontrá-lo. — Falei.

Andamos por quase todo o parque, e eu já estava começando a achar que nunca ia encontrar o pai do garoto, mas quando aproximamos do museu de história vimos um homem com duas crianças e ele estava conversando com um guarda do parque.

— É ele. — O garotinho soltou minha mão e correu ao encontro do homem.

O homem soltou um suspiro de alívio ao ver a criança. Caminhei até eles. Foi quando o homem virou-se para me agradecer que eu tive vontade de correr. Era ele, depois de todo esse tempo. Ele estava mais alto e mais forte, e o rosto estava com mais barba, mas seu sorriso e os olhos não tinham mudado nada, os olhos verdes claros se fixaram em mim e ele sorriu.

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora