Benjamim
Quase onze horas da manhã e Raul está em uma reunião no restaurante, e eu estive preso em casa nos últimos dias já que estou planejando o quarto das crianças, mas o Raul quer que decidimos juntos a cor das paredes.
A casa está em silêncio, porém, eu não consigo me organizar e colocar as idéias no papel, e infelizmente eu já fumei quase uma caixa de cigarros só nessa manhã, e eu sei que prometi ao Raul que não fumaria mais, mas eu me sinto muito ansioso quando não consigo fazer algo.
Estou com o livro A Montanha Mágica de Thomas Mann aberto na minha mão esquerda e o cigarro aceso no meio do meu dedo indicador e do dedo do meio da minha mão direita. Dou mais uma tragada no cigarro enquanto leio o livro e depois solto a fumaça para o lado da janela. Eu já li esse livro três vezes,neste clássico da literatura alemã, Mann renova a tradição do Bildungsroman, a partir da trajetória do jovem engenheiro Hans Castorp. Durante uma inesperada estadia em um sanatório para tuberculosos, Hans relaciona-se com uma miríade de personagens enfermos que encarnam os conflitos espirituais e ideológicos que antecedem a Primeira Guerra Mundial. Um dos grandes testamentos literários do século 20 e uma das obras inesgotáveis da ficção ocidental.— Fumando?
Com os susto da voz que ouvi, fui e fechei o livro e joguei o cigarro pela janela. Virei a cadeira giratória para a porta do escritório e vi Madeleine em pé com os braços cruzados e observando.
— Ah! É você! — Suspirei.
— O que você está fazendo? — Madeleine perguntou sem entrar no lugar.
— Estou tentando desenhar, mas estou com dificuldade. — Olhei para os vários papéis embolados no chão. — O que faz aqui?
— Eu estava andando e pensei em dar uma passadinha. — Ela olhou para todos meus desenhos de engenharia. — Eu nunca tive permissão de entrar aqui.
— Você era um desastre e eu tinha medo da bagunça que você poderia causar. — Falei e ela riu.
— É por isso que estou na porta, tenho medo de fazer algo errado.
— Seus olhos me diz que andou chorando. — Indiquei o sofá com a cabeça. — Quer conversar? A Zalika ligou aqui mais cedo e disse que ontem você fez uma festa e depois acordou e saiu sem avisar.
Madeleine apenas colocou as mãos no bolso do casaco e se dirigiu até o sofá e se jogou nele.
Coloquei a mão no queixo e fiquei aguardando que ela falasse alguma coisa. Notei o anel prateado em seu dedo anelar da mão direita , ela brincava com ele rodando de um lado para o outro. Então aquele era o segredinho dela?
— Você está namorando? — Levantei-me e sentei no sofá.
— Já conheceu o Lavandário da Cunha? — Madeleine olhou para o teto. — Eu estive lá, é lindo. Também fui para o Contemplário, lá realmente é para contemplar a natureza, e acompanhado de um bom café moído na hora, vinho, sucos e bebidas diversas. Eu até cheguei a comentar com o papi, até trouxe uma coisinha de lá para ele.
— Eu entendo que você não está dizendo nada. Trocando de marcha completamente. — Acariciei os cabelos dela. — O que você aprontou ontem a noite? — Apenas me lançou um olhar e fechou os olhos. — Você veio apenas para ficar deitada?
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No Ritmo da Nossa Música{Concluído}
RomanceMadeleine é uma perito criminal, muito rica, e vive uma vida de farras. Theo, um empresário na indústria do ramo de bebidas que não acredita mais no amor, após ter sido abandonado com os filhos pela mulher. Ele é mais caseiro e gosta de estar com os...