Capítulo 31 - Madeleine

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Madeleine

 

Desde que percebi que meu corpo estava mudando, eu não queria acreditar, por um tempo ignorei, mas eu sabia que aquele pequeno serzinho estava habitando dentro de mim. Na primeira gravidez, eu demorei para perceber, apenas senti um enorme terror ao descobrir, mas agora, tudo parece tão diferente, apenas quero correr até a casa do Theo e contar que teremos um bebê, mas eu sinto que não estou preparada, e nunca estive. Não é todo mundo que nasce para ser mãe, já ouvi dizer que você aprende logo depois que o bebê nasce, e eu quero realmente acreditar nisso. 
 Está aqui deitada no sofá vermelho do escritório do Ben só faz com que me sinta segura. O Ben sempre tão gentil comigo. 
Eu nem sei exatamente que horas são. Pelo barulho e o cheiro de comida vindo da cozinha, já mostra que pelo menos o papi está acordado. Não sei como contar a ele que eu terei um bebê novamente, sinto que ele ficará pensativo por dias, e só ai dará um sorriso e dirá que está feliz por mim, ele vai questionar sobre tudo e vai temer que eu não consiga. Eu mesma me pergunto se estou realmente preparada. Já tenho trinta e três anos, a maioria das mulheres nessa idade já estão casadas ou apenas com um filho de cinco anos.
 Na primeira vez eu tive a minha mãe, ela sabia tudo e fazia tudo, mas agora, estou realmente perdida. Grávida e com pais prestes a começar uma família.
E eu sei que a Zalika abraçará essa criança como se fosse a dela, mas por enquanto ela não está preparada para receber esse tipo de noticia. Mas eu sei que tem alguém que gostará de está presente neste momento.
  Fechei os olhos por uns minutos, coloquei minhas mãos no rosto. Respirei fundo e me levantei do sofá. Caminhei até a cozinha. Meu pai estava lavando louças e o Ben estava com um pequeno regador molhando as plantas.

— Querida! — Ben falou ao me ver entrar. — Bom dia.

Fui até a mesa e peguei uma torrada, peguei uma xícara e enchi de café. Quando fui tomar o primeiro gole fui interrompida pela mão direita do Ben.

— Nada de café, lembra? — Ben me lançou um olhar e depois voltou para as plantas.

— Como assim? — Meu pai Raul questionou com um sorriso de lado. 

— Eu estou transformando nossa querida Maddie em uma nova garota. — Ben piscou para mim ao falar.

Coloquei a xícara com o liquido preto tentador de volta na mesa, e fiquei encarando ele. Meu coração estava acelerado desejando um gole daquele café.

— Eu fiz suco de maracujá, e é natural. — Meu pai Raul tirou a jarra de dentro da geladeira e depositou em cima da mesa.

Infelizmente tive que deixar meu querido café de lado e tomei um copo cheio de suco de maracujá.

— Agora me diga. O porquê de você está escondida aqui em casa? — Raul perguntou. 

—  Não estou escondida. — Falei.

Esse é o lugar mais silencioso e calmo que eu conheço e eu só precisava de um tempo para dormir e ler um bom livro.

— Vou levá-la no médico para fazer uns exames. — Ben falou e saiu para o quintal.

— Eu não sou muito de perguntar, mas eu realmente quero saber o que você tem. —  Raul começou a arrumar a mesa.

— Você acredita que essa menina não vai a um médico há anos? — Ben voltou e caminho até o meu pai. — Sabe aquela época que levávamos ela amarrada para todas as consultas que éramos encarregados de levá-la? Então, estamos ainda naquela época.

O Ben é bom nisso, mentir sem está realmente mentindo.

— Pais, vocês ainda tem um telefone no quarto?— Perguntei.

— Sim, querida. — Ben falou. 

Peguei mais uma torrada e segui o corredor para os quartos. Entrei na terceira porta e logo avistei o telefone preto em cima do criado-mudo ao lado da cama. Peguei o telefone e disquei o numero, e eu esperava que a voz masculina forte e sempre tão alta atendesse, e como eu sentia falta dessa voz. Esperei e esperei por essa voz que eu tanto ansiava e ninguém atendeu, tentei mais uma vez e novamente caiu na caixa postal. Sentei na cama e tentei mais uma vez, respirei fundo. E finalmente o telefone foi atendido.

— Quem fala? — A voz masculina perguntou do outro lado da linha.

— Sou eu. — Murmurei.

— Madeleine? — Ele suspirou. — Sua voz está tão parecida com a dela. 

— Onde você mora agora? — Perguntei. Meu coração batia tão rápido, era uma sensação tão boa.

— Fiquei um tempo no Rio de Janeiro, mas estou de volta. Estou na nossa antiga casa. Foi estranho entrar aqui, sem ela, e sem você. Por que nos distanciamos depois que ela se foi? Sempre me pergunto.

Não é todo mundo que tem a sorte de ter três pais, mas o universo foi bom comigo, apesar que eu nunca agradeci por isso.
Depois da morte da minha mãe, acabei me distanciando do Heitor. Ele sempre foi um homem tão educado e sensato, e canta muito bem. Me lembro dos domingos que ele sentava perto da piscina com um violão e cantava músicas românticas para a minha mãe e às vezes até arriscava um pagode no estilo paulista. Foi difícil olhá-lo depois que ela se foi, tudo nele lembrava ela.
Sempre tive problemas com pessoas que lembrava -me alguém.

— Tínhamos que aprender a viver sem ela. Foi um erro tentarmos isso sozinhos.

— Sim, foi. — Heitor deu uma pausa e voltou a falar. — Vem aqui em casa. O seu quarto está do mesmo jeito, até os pôsteres ainda estão na parede, está do jeitinho que você deixou.

Suspirei. É, ainda é difícil conversar com ele.

— Eu liguei para falar uma coisa.

— Está tudo bem?

— Eu estou grávida.

— Ah, Maddie. Você está bem com isso?

— Um pouco assustada. Não sei como contar ao meu pai Raul.

— Faça os exames e depois mostra para ele o resultado. Maddie, vou ter que desligar, mas depois liga de novo. Por favor, não me esqueça. E eu quero que esse bebê me chame de avô.

— Ele vai adorar ter um monte de avôs. — Sorrir com isso. — Eu ligo depois.

Desliguei o telefone e voltei para a cozinha. Respirei fundo para segurar as lágrimas. Ben estava sentado em uma cadeira perto da porta com um livro nas mãos.

— Agora que o seu pai já foi. Vamos conversar. — Ben apontou para a cadeira na mesa.

Sentei na cadeira e peguei a última torrada no prato em cima da mesa.

— Acabei de conversar com o Heitor.

— Com o Heitor? — Ben fechou o livro e o colocou em cima das pernas. — E como ele está?

— Não conversamos muito. Ele voltou para a antiga casa.

— Você deveria ir visitá-lo.

— Eu sei.

Hoje é dia de trabalhar. Tenho que aproveitar antes que a semana de enjôos comecem, por enquanto não estou sentindo nada.

— Sabe para quem você tem que ligar? — Ben coçou a barba bem desenhada.

— Para o Theo. Eu sei.

— Ele é pai, e vai adorar saber que terá mais um filho.

— Teremos muito tempo para contar.

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora