Capítulo 53 - Benjamin

26 6 0
                                    

Benjamin

    É um domingo chuvoso e frio. Ficar na cama é o que mais desejamos. As crianças ainda não acordaram. Raul está sentado ao meu lado com o tablet nas mãos, assim como ele faz toda as manhãs antes de fazer o café. Ele sempre está lendo as notícias do dia. Acordei primeiro que ele e continuei minha leitura. Ainda não trocamos uma palavra. Ele parece estar pensativo e isso o deixa estressado e silencioso.

— Quais são as de hoje? — Olhei para ele.

— Ah, só estou olhando receitas. — Raul segurou minha mão, mas não me olhou. — O seu livro, é romance?

— Sim. — Puxei mais o cobertor para cima. — É Dois Irmãos. É brasileiro.

— Livro brasileiro? — Raul me olhou e fez uma careta.

— Ah, para. — Bati no braço dele. — A literatura brasileira é incrível. Precisa dá uma chance.

— Sobre o que fala seu livro?

— Se passa na época do regime militar. — Falei. — Fala sobre a relação conturbada entre dois irmãos de um família de ascendência libanesa que vive em Manaus. É um romance que apresenta em sua trama situações de ciúme, rancor, inveja, desejo, orgulho e morte, tons psicológicos que nos prende na história e ainda por cima surpreende a cada capítulo que passa.

— Relações familiares? — Raul colocou o tablet no criado-mudo. — Queria que o seu livro nos ajudasse nisso.

Podemos até tentar fingir, mas não podemos negar que tudo mudou. Não sinto que nossa família seja uma coisa ruim. A gente se dá bem, sabemos conversar e somos unidos.

— Quer saber o que é ser péssimos pais? — Falei. — João Carlos e Morgana. Eu não sou o tipo de filho que fala mau dos pais, mas você sabe que sempre fui sincero com você. Não vou dizer que eles eram bons pais, só porque são meus pais. Nunca tivemos vínculos emocionais. Os psicólogos chamam de apego seguro com os pais, que são cruciais para o sucesso mais tarde na vida. As crianças sem esse vínculo são mais propensas a enfrentar problemas educacionais e comportamentais. Mas olha para mim, conseguir ser a criança que deu a volta por cima...

— O que você quer dizer com isso?

— O filho nunca vai ser exatamente da forma como você imagina. E ainda bem, aleluia! — Fechei o livro e olhei para ele. — Maddie também está com dúvidas, sobre muita coisa. E ela se sente uma péssima mãe. Depois do que aconteceu, só temos que dá apoio a ela. Ninguém é perfeito, só precisamos tentar evoluir.

— Gosto do seu jeito inteligente. — Raul se aproximou e me beijou.

— E eu amo você. — Dei um sorriso entre o beijo.

Nosso beijo foi interrompido pelo barulho da porta se abrindo. Madison foi a primeira a entrar correndo e pular na cama, ela vestia um pijama listrado azul e verde.

— Olá pinguim. — Levantei ela no ar e depois distribuir beijos em seu rosto.

Oliver e Dinesh entraram também e pularam na cama. É o melhor jeito de receber um bom dia. Oliver entregou um papel para Raul.

— Oh! — Raul pegou o desenho e depois mostrou pra mim. — Somos nós?

— A família toda. — Madison cruzou as pernas e olhou para o desenho.

Ela sempre fala mais que Oliver, e ele se expressa mais com os desenhos.
Dinesh sempre se mostra muito feliz com a gente, e uma vez ele falou que antes tinha muito medo. Via os bebês indo embora do orfanato e ele não. Rezava toda noite para ter alguém que o levasse dali. Toda hora, ele diz que ama seus dois pais. E eu gosto de deixar bem claro que amo os três e que foram as melhores coisas que me aconteceu.

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora