Capítulo 37 - Heitor

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Heitor

— Você o que? — Perguntei.

 Madeleine apareceu aqui em casa, acompanhada de um adolescente bastante calado. Eu e ela ficamos abraçados por um longo tempo, depois a convidei para um lanche. Agora ela esta sentada em uma cadeira perto da porta que vai para o quintal, enquanto o adolescente esta lá fora perto da piscina.
Ela esta tão parecida com a mãe, até o jeito de falar e sorrir.

— Eu me demiti. - Madeleine coçou a cabeça. — Estou fora. Ajudei o bastante, mas eu não sirvo para isso. Percebi que apenas estou seguindo uma dinastia, não estou fazendo o que eu realmente gosto.

A Louise falava assim, sempre querendo quebrar as regras da sociedade. Madeleine nunca ficou sabendo das rebeldias da mãe, ela sempre a viu como uma mulher que seguia as regras.
Não sei se é a hora de contar que conheci a filha da Madeleine. Não precisei fazer um DNA para perceber que a adolescente que entrou na minha sala no mês passado para começar uma aula de violino era a filha de Maddie. A garota tem seu espirito aventureiro, a risada contagiante e um jeito maluquinho de ser, e ainda por cima tem um talento incrível para música. Comecei a passar muito tempo com ela, minha nova aluna sabe que é adotada e diz ter vontade de conhecer a mãe. As vezes eu tenho vontade de abraçá-la e dizer que sou da família dela, e contar tudo, mas eu sei que a Madeleine não esta preparada para isso.

— Talvez você não tenha pensado direito. — Falei. — Você esta grávida. Precisa de um emprego. Seu avô não gostará de saber que você largou seu cargo de policial. Você sabe que ele vai querer a casa de volta, não é?

— Eu sei. — Maddie bateu a mão na coxa. — Eu resolvi mudar. Como aquela musica da Rita Lee...

Um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo o que eu queria fazer! — Cantarolei.

— Isso mesmo. — Maddie falou.

— Quem é o garoto? — Apontei o olhar para o adolescente sentado perto da piscina.

— Meu guarda-costas. — Maddie se levantou e foi até a geladeira.—  Ele se chama Ethan. É o irmão mais velho do meu bebê. Não consegui me controlar e acabei bebendo, agora ele está me monitorando.

Nunca imaginei que a Madeleine chegaria ao ponto de andar com  o filho de alguém. Acho que ela realmente ama o pai desse menino. Talvez ela esteja mudada, e eu posso contar a ela sobre sua filha. Não, eu acho que não. Ela mudou depois daquilo, se tornou uma pessoa diferente e agora ela mudou novamente, e essa versão dela parece ser boa.

—Preciso que você me acompanhe até a casa dos meus pais. — Madeleine bebeu um pouco do suco e depois colocou o copo na pia.

— Você não vai querer andar na casa?

Madeleine olhou para o lado dos quartos e depois olhou para mim.

— Outro dia.

Quando estávamos dentro do carro de Madeleine ela olhou para Ethan pelo espelho e sorriu. Os dois parecia ter uma certa confidencialidade. O garoto no banco de trás pegou algo no bolso do casaco.

— Ethan esta guardando essas fotos como se fossem fugir dele. —Madeleine falou.

— Toma essa. — Ethan estendeu a mão direita entre os dois bancos da frente.

Olhei para a pequena foto. Era uma ultrassom, conheci logo de cara. Senti uma felicidade tão boba, peguei a foto preta e branca,e sorri. Dava para ver o pequeno bebê com a cabeça inclinada sobre seu estômago, mas parece bastante com um feijãozinho.

— Um pequeno feijãozinho. — Falei.

— Madeleine chama ele de amendoim. — Ethan estava  entre os dois bancos da frente, parecia empolgado.

— Você tem outros irmãos? — Perguntei.

— Tenho uma irmã mais nova. —Ethan se recostou no banco do carro.

— Madeleine sequestrou você da escola? — Brinquei.

— Foi quase isso. — Madeleine respondeu.

Deixamos Ethan na casa dele, e depois fomos direto para casa do Raul. Já tem anos que eu não vejo eles, era algo estranho. Eu era amigo da Louise quando ela começou a ficar com Raul, e depois os dois tiveram Madeleine, nunca achei que eu teria uma chance com Lou, mas quando percebi eu estava casado com ela no final.
Antes de sairmos do carro coloquei a mão no bolso do meu casaco e tirei o ursinho do tamanho da palma da minha mão e mostrei para Madeleine. Ela ficou de boca aberta, olhou para mim e depois para o ursinho, depois estendeu o braço bem devagar parecia não esta acreditando no que estava vendo. Ela pegou o ursinho e o levou até o rosto.

— Ainda tem o mesmo cheirinho. — Ela sorriu ao falar.

Maddie era fã dos ursinhos carinhosos. Me lembro perfeitamente que ela tinha uns cinco anos quando descobriu o desenho no sbt. Aqueles ursinhos fofinhos e coloridos que mostravam como as crianças deveriam se comportar bem e ajudar a proteger a terra das sombras do mal, foi a única coisa que quietava a pequena Madeleine na frente da tv. Em seu aniversario de seis anos dei a ela a ursinha Carinhosa de cor lilás com o desenho de dois pirulitos cruzados na barriga. E era tão bom ver Madeleine o tempo todo com o ursinho, ela levava a nova amiga para todos os lugares, mas no natal de 1995 fomos para a casa da minha mãe no Rio de Janeiro e Madeleine acabou perdendo o brinquedo, ela ficou arrasada e chorou por dias. Quando voltei para o Rio em 2004 acabei encontrando o ursinho dentro de um guarda-roupas de um quarto fechado na casa da minha mãe. Agora que eu soube da gravidez de Maddie acabei pensando que o ursinho quer voltar para a dona.

— Acho que seu bebê vai gostar. — Falei.

Madeleine me abraçou e começou a chorar. Passei meus braços envolta dela e a abracei forte.

— Eu estou tão sensível. Isso é uma bobagem. — Madeleine sussurrou. — Onde você achou?

— Estava na casa da minha mãe. Naquele quarto que ela não usava mais.

— Obrigada mesmo.

Raul já estava esperando na porta quando saímos do carro, ele ficou olhando para Madeleine quando percebeu que ela estava chorando.

— Quanto tempo amigo. — Falei. Raul veio até mim e pegou na minha mão.

—  E hoje vamos ter muito que conversar. — Madeleine falou.

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora