Capítulo 29 - Zalika

39 4 2
                                    

Zalika 

Paulo trabalha nas equipes do SAMU e na noite passada esteve no atendimento de um acidente entre três carros e um ciclista, a situação não foi fácil e ele chegou agora para me visitar mas está tão cansado que acabou dormindo no sofá com a cabeça apoiada na minhas coxas. 
Meus dedos fazem carinho nos cabelos dele, enquanto eu assisto Ame-a ou Deixe-a no canal home&health e o episodio de hoje fala sobre o casal Breanne e Justin que tem dois filhos e um terceiro a caminho, Breanne e Justin vivem em uma casa pequena demais e querem encontrar um lugar mais espaçoso para a família.

— Esse canal? — Paulo falou.

— Você sabe que eu gosto. — Acariciei o rosto dele. — Por que acordou?

— Tive um pesadelo. — Ele respondeu. — E eu tenho que ir, meu turno começa daqui uma hora. Tenho que fazer umas coisas antes de ir. Você vai ficar bem?

— Claro que sim. — Falei.

Paulo se levantou e ficou me olhando com um sorriso maravilhoso.

— O que foi? — Sorrir.

— Você mudou tantas coisas na minha vida. —  Paulo me beijou e depois se afastou. — Você foi a melhor coisa que me aconteceu.

— Tão sentimental. — Brinquei.

—Você sabe que podemos tentar de novo, né?

— Não agora. — Falei. Ele está querendo que eu tente engravidar novamente, mas não sei se estou preparada para isso. —  Agora temos a chance de fazer tudo devagar. Podemos pensar em casar e comprar uma casa juntos, ou vai querer criar nosso filho com a Maddie?

— Acho que ela ia amar uma criança com lápis de cor nas mãos andando pela casa dela. —  Paulo riu.

— Ela ficaria louca.

— Hoje vou dormir nos meus pais, mas depois eu passo aqui. — Paulo me beijou e começou andar para a porta da sala. — Já sei o caminho. Até mais tarde, meu amor.

— Vai ter cuidado no seu trabalho? — Perguntei.

Ele se virou para me olhar e sorriu.

— Sempre tenho.

— Você se importa se eu te olhar um pouco? — Falei e o Paulo ficou parado na porta.

— Por que?

— Quero lembrar do seu rosto para o meus sonhos. — Sorri ao falar.

— Sabe amor, o que eu mais admiro em você, é você mesma!

Depois que ele saiu, eu fui para o meu quarto e comecei a dobrar algumas roupinhas de bebê. Foi quando lembrei de cada momento que eu fiquei deitada na cama, apenas acariciando minha barriga e conversando com a pequena batatinha dentro de mim, contei a ela tudo que eu pude e até mesmo sobre a minha infância.Até comentei sobre algumas histórias de quando eu era criança, tendo sido insultada por membros da minha própria família por causa da minha pele e cabelo. Até falei sobre quando comecei a ouvir as primeiras ofensas racistas, e a instrução que eu recebia dos adultos era “não ligue, finja que não ouviu”. Isso era muito pouco eficiente para eu enfrentar as crianças que passavam por mim me chamando de cabelo de Bombril, galinha de macumba, pedaço de carvão e outras alcunhas conhecidas. Até falei para a batatinha que eu estava contando esses pequenos fragmentos para ilustrar o que quero dizer, mas as sensações de uma criança sob a mira do racismo são muito complexas, e é bastante difícil falar sobre algo que permaneceu jogado para debaixo do tapete durante tanto tempo. Sabemos que políticas afirmativas caminham a passos de tartaruga porque encontram muita resistência pelo caminho. 

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora