Capítulo 36 - Madeleine

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Madeleine 

  

Se até o Ethan está mudando, então o porquê eu não posso mudar também? Ficamos um bom tempo conversando e ele se mostrou mais maduro que antes.
Fui embora da casa dele antes da Lana acordar, eu não quero perguntas por enquanto. 

Cheguei em casa a Zalika ainda estava dormindo, fui para o quarto e fiquei lá até ela acordar.

  Vou até a cozinha e encontro Zalika e Paulo tomando café e mexendo no celular. Ele ainda esta de uniforme e parecia muito cansado. Os dois pararam de conversar quando me viram.

— Noite de bebidas, Maddie? — Paulo sorriu ao perguntar.

Acho que vou ter que começar cortando a bebida, sei que isso não faz bem ao bebê. 
Fui até a geladeira e procurei por algo que não fizesse meu estômago revirar. Mas tudo parecia tão enjoativo. Olhei para o Paulo e Zalika que estavam novamente concentrados no celular.

— Vou chegar um pouco tarde no trabalho. — Coloquei minha mão direita na barriga, o enjôo estava chegando. — Posso trabalhar até mais tarde, mas preciso cuidar de umas coisas. E tenho uma consulta.

Zalika colocou a xícara na pia e virou para mim.

— Vou avisá-los. — Ela falou.

Os dois saíram de mãos dadas. Gosto de ver o quanto eles se dão bem e sempre estão sorrindo e se abraçando.

Respirei fundo para controlar o enjôo.
Depois que ouvi o barulho do portão se fechando respirei de alívio, sentei-me na cadeira próxima e fiz movimentos circulares no meu ventre.

— Ei, você ai dentro. — Falei. — Vamos colaborar comigo, por favor. Meu primeiro bebê só me deu enjôos quando estava com dezesseis semanas. Se comporte. 

Lady e Beni entraram correndo na cozinha. A maior parte do tempo eles estão dormindo no quarto da Zalika, acho que eles gostam do ambiente. Passei a mão neles e até pensei ir deitar no tapete da sala e ficar lá com eles até os problemas passarem. Mas eu tenho que contar ao meu pai hoje que estou grávida, acho que não posso ficar escondendo. Deixei para contar para ele só depois de contar ao Ben e ao Heitor, não sei como o meu pai vai reagir. 

Pensar e pensar, foi o que eu fiz a manha inteira. Meus planos era arrumar a casa e depois me preparar para sair. Continuo fazendo meu caminho da cozinha até a área de churrasco com o meu celular na mão. Olho para Flappy deitado perto da churrasqueira, ele não é mais o mesmo, suas patas dianteiras estão fracas e ele sempre esta deitado com um olhar cansado.

Coloquei o celular no balcão localizado no meio da área e caminhei até o jardim vertical pendente na parede perto da porta da cozinha, o painel de flores com plantas de folhas finas, com aspargos e filodendro, é uma pequena lembrança deixada pela a minha vó Apolline quando ela se mudou daqui e voltou para Marselha na França. Minha avó saiu da França em 1980 e veio para o Brasil mas não deixou seus hábitos, me lembro perfeitamente de quando eu passava o final de semana aqui, ela andava pela casa trocando suas preciosas flores de um lado para o outro e depois ela se esparramava no sofá, abrindo um vinho e tomando sem qualquer cerimônia, e quando meu avô chegava ela já mudava seu comportamento, agia como se estivesse em um jantar de clima romântico e depois começava a fazer o jantar com uma comida mais elaborada e abria um vinho especial. Eu sempre repetia para mim que nunca mudaria meu jeito por causa de um homem.
E quando eu estava terminando o ensino médio acabei sendo manipulada por três homens, e sim, eles são da família, eu sei que meu pai Raul e Ben só fizeram o que achava que era bom, mas o meu avô Bernard sempre repetiu que eu nunca seguiria outra carreira que não fosse de policial. E eu achava que ele estava certo, mas é claro, ele é meu avô, sempre deu ordens na família assim como dava para seus soldados. Eu achava estranho o quanto ele é fascinado em regras, aquilo me deixava assustada na época, lembro-me dele sempre falar gritando e cuspindo. Ainda me pergunto se meu avô ainda tem o costume de se sentar na poltrona para contar coisas sobre a Segunda Guerra Mundial. Claro que meu avô Bernard ainda não era nascido quando a Alemanha nazista iniciou o ataque a França que ficou conhecido como Batalha da França que teve uma rápida vitória sobre os franceses, ele apenas nasceu no ano seguinte. Ele sempre repetia as consequências que teve, e como Hitler pôde se dedicar ao ataque contra o Reino Unido depois da vitória. Eu gostava de ver o quanto os olhos dele brilhava ao dizer que tinha três anos quando as tropas aliadas desembarcaram na costa norte da França marcando o início do processo que levou a derrota nazista. Sabíamos que o pai dele tinha morrido em um ato de sabotagem contra as rotas de abastecimento das forças alemães, meu avô contou uma vez que o seu pai era da Resistência Francesa que além de lutar pela libertação de seu próprio país, a Resistência teve um papel importante no auxílio aos aliados.
Minha avó era francesa totalmente, para ela, conversas altas e barulho em excesso era algo para alguém sem educação, as vezes eu até a via pedindo silencio quando meu avô começava a falar bem alto.
Respiro fundo ao pensar neles, faz cinco anos que não os vejo. Sinto saudades de vê-los sentados na cozinha conversando, para eles comer e beber bem é essencial para se viver bem, e muitos dos seus vinhos eram de produção própria, acho que o Theodoro vai adoraria saber disso.Pensar no Theo também me faz sentir saudades. Agora tudo que eu mais quero é ter ele me abraçando. Caminho até o meio do quintal e vou até o pé de manga maior, onde aproveitamos a sombra e criamos uma área de lazer  ao redor dela. Colocamos uma mesa redonda de madeira em seu contorno com quatro cadeiras, nos galhos penduramos vasos de flores e até colocamos um balanço. Sentei-me no balanço, já tinha tanto tempo que eu não vinha aqui. Ocorro ao dia que sair com Amanda para um baile funk e acabei tendo problemas, e Theo foi o que me tirou de lá e depois me viu chorando e tudo mais. Ele foi carinhoso e ainda por cima teve a ideia de empurrar o meu balanço, foi um momento tão simples. E se ele não tivesse saído para caminhar? Nem sei o que teria acontecido, e talvez nunca tivéssemos se aproximado.

No Ritmo da Nossa Música{Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora