Capítulo 24

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— Já chamei um Uber, e obrigada por ter sido gentil comigo. - Chega Manuela na cozinha,  me vendo tomar uma xícara de cappuccino.

— Fiz um omelete pra você... E um chá para não ficar com ressaca. O chá diretamente tirado das folhas de hortelã e boldo do meu jardim.

— Você gosta de jardim, não é? - Veio se aproximando da mesa e perto do prato de omelete.

— Sim, eu gosto. Acho terapêutico. Plantas são incríveis. Sinto vontade de fazer biologia e me especializar nisso.

— Poderia fazer, Lia, já que te faz bem, o que mais gosta de fazer?

— Fotografar, desenhar... Escrever, mas, nunca tive oportunidade de desenvolver isso.

Manu estava atenta, mesmo comendo o que preparei a ela, me olhava com cuidado e gentileza no semblante. Como se realmente se importasse com isso em mim.

— Posso te pedir uma coisa? Lá no meu rancho,  quando formos daqui dois dias ?

— O que quiser, e se tiver ao meu alcance... - Meu celular vibrou e rapidamente abri a mensagem, pois era da Joice.

"Joice: Lia, você será mamãe de gêmeos... Fui fazer a ultrassom e estou de três meses, quero que mande executar meu marido, para que possamos ficar juntas e assim realize seu sonho de ser mamãe junto comigo. "

— Manu... Você pode me dar licença um instante?

— Aconteceu algo? Você me parece pálida.

— Fique tranquila. Já volto.

Fui lá fora ligar pra Joice, me manifestar a respeito dessa mensagem dela.

" — Você não era contra, eu matar pessoas? E eu estou muito feliz por essa notícia. Mas tem certeza disso?" - Falava e olhava para Manu, pra ver se estava a me observar.

" — Mas é que eu agora realmente necessito que faça isso, ele disse que, se descobrir que voltei a falar contigo, iria me matar."

Desliguei enfurecida, e já liguei pra um aliado ir executar o marido da Joice e a promoter Olívia da minha boate, que drogou a Manu com finalidade sexual. Ao grosso modo, chamam isso de assassino de aluguel. E ainda mandei trazer a cabeça deles a mim... Para dar de comida aos meus cães treinados pra caça... Com isso acabei entrando.

— Lia... Você parece distante. - Manu pôs sua mão no meu ombro.

— É a minha ex -mulher.

— Qual delas? - Brincou. E começou a massagear meus ombros tensos.

— Joice. Ela inclusive cuidou e se preocupou contigo. Devia agradecer.

— Sou obrigada? Seus ombros estão tensos demais, nossa, Lia.

— Eu sou tensa, mulher.. - Fechei os olhos e quase revirei-os, as mãos dela são ótimas para massagem.

— Estou vendo que é. - Interfone tocou, era o Uber da Manu.

— Tome pelo menos o chá todo. - Ela virou o copo, pegou a bolsa transversal e se despediu com um beijo no meu rosto.

Manu ainda olhou pra trás e sorriu, meu dia só começou bem por simplesmente Manu ter ficado aqui. E isso está me consumindo, que até esqueci de comemorar que vou ser "mamãe" de gêmeos.

"— Joice, vem pra cá, passar a tarde comigo, precisamos comemorar.

— Irei sim, vem me buscar de moto?

— Motorista da minha empresa irá te buscar. Fique pronta, daqui meia-hora ".

Fui ao jardim, e fiquei cheirando minhas flores, isso me trazia boas lembranças, e do quase amor que eu e Manu iríamos fazer aqui ontem. O problema Manu, é que não sei fazer amor, só aprendi a foder com a vida das pessoas...

— E temo que minha selvageria te assuste. E minhas mãos são indignas de tocar o seu corpo delicado e tão divino... - Falava em voz alta. Falar sozinha às vezes faz bem. E acabei entrando pra pegar meu caderno e escrever.

"Meu passado, querida e indomável Manu, espero, um dia ter a coragem de dizer, que eu apanhava do meu pai, e já tentou me vender pra traficantes, pra pagar dívidas. Minha mãe que impediu, mesmo também não tendo muito vínculo maternal comigo. Meus irmãos me batiam, comemorei a morte de quase todos eles, menos a da minha mãe, a única que consegui chorar pela perda. Quem nasce na violência, e no crime, cresce com isso. Tentei fazer o certo, quando fui adotada por pessoas maravilhosas, mas, meu sangue de favela ainda corre nas minhas veias. Sinto muito por ser assim, você não merece alguém como eu. Já matei duas pessoas em seu nome, por terem tentado te fazer mal. Espero que um dia me perdoe por isso. "

Escrevia e deixava lágrimas caírem na folha, e posso até dizer que foi libertador pôr pra fora isso. Meu conselho é esse, hoje. Deixa as pessoas que se importam contigo, se aproximar de ti. Fiquei tão confortável em dizer a Manuela, o que gosto de fazer, fora do meu mundo criminoso e empresarial. O olhar dela, de preocupada em saber como eu realmente estava e sentia, tudo isso está em falta nos dias de hoje.  E Manu é a prova de que minha humanidade ainda está em mim.

Estava quase na hora de Joice chegar, temos muito o que falar sobre nós e o nosso futuro.

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