28 - Lamentações

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Eu não consegui ficar na casa de Miguel. Fiquei por vários dias na casa de Mary.

Nada.

Eu não recebi nenhuma informação desde aquele dia fatídico, parecia tudo calmo até demais.

Alguns dias depois, recebi a visita inesperada de Armand. Ele parecia um tanto quanto triste também com os recentes acontecimentos. Aproveitei para perguntar a ele sobre Sophia, por que ela veio de Londres até aqui, e quais eram os reais motivos.

Essa dúvida estava me atormentando. Resolvi perguntar a ele.


— Foi por causa de Miguel mesmo? — perguntei, falhando um pouco ao dizer pela primeira vez o nome do meu falecido tutor.

Ele se mostrou meio perturbado com minha per- gunta, relutara um pouco, mas acabou respondendo.

— Bom... Sim, foi por Miguel também, mas existe outro motivo para a vinda dela.

— E qual é? — o questionei ansioso.

— Ela veio para tentar derrotar Zarovick. Ele fez coisas que tanto o conselho daqui quanto o de Londres não aprova. Além disso, porque ele saiu de lá sem permissão.

Fiquei sem palavras. Zarovick também viera de fora! Mas com que objetivo? Eu estava muito curioso.

— Mas por que ele veio para cá? — voltei a questionar Armand.

— Isso não é óbvio, meu caro? Por poder. Essa é a motivação dele.

Estranho! Afinal, por que aqui?

— Mas porque atravessar um oceano e vir parar aqui, numa cidade minúscula?

— Nós também não sabemos os verdadeiros moti- vos que o trouxeram para cá, nem o porquê da traição de Adryelle, aquela ingrata, e Gerald.

— Você tem alguma ideia de por quais razões eles se uniriam a Zarovick? — perguntei apreensivo.


— Ainda isso não passa de especulação, mas acre- dito que Zarovick quer ser independente e fazer o que bem entender. Nossas leis são rígidas e ele não concorda com nenhuma delas, e acha que não devemos nos esconder dos humanos.

As palavras de Armand me deixaram preocupado. Mesmo sem entender muito, sabia que isso poderia cau- sar grandes problemas, não só a nós, mas também a sociedade dos humanos.

— Se Miguel estivesse aqui, ele saberia o que fazer...

— Chega, Alexander! Você vai ser uma criança para sempre? — Armand se levantou da poltrona e veio na minha direção me agarrando pelo pescoço. — Pare de ficar se lamentando por quem se sacrificou por você. Isso não vai te levar a nada.

— Dá para me soltar?! — pedi e assim ele o fez.

— Até quando vai ficar assim Alexander? Nessas condições não conseguirá vencer ou ajudar ninguém. Enquanto você estava aqui se lamentando Nickolas tam- bém foi...

Como?!

— O quê? Quando? Por que não me avisaram? — perguntei a irritado.

— Mesmo se você soubesse, não iria evitar. Não nessa situação. Nickolas foi sozinho procurar Adryelle e Gerald, mas acabaram com ele.

— Por que ele foi sozinho? — Eu não conseguia


aceitar tal absurdo.

— Quer saber o motivo? — perguntou Armand indignado. — Ele foi por você! Ele foi destruído por querer te ajudar.

Eu estava completamente desnorteado.

Por que fizera isso por mim? Fiquei furioso por ficar sem fazer nada.

Deixei mais um companheiro ser morto e, o pior de tudo isso, eu não fiz nada para tentar impedir. Pelo contrário.

Eu ficava cada vez mais nervoso. Como pude ser tão tolo?! Notei então que em minhas mãos cresciam... Garras?!

— Ar... Armand, são...?

— Danov também possuía garras. Não se preo- cupe, com o tempo vai aprender a controlar.

Fiquei admirando por um tempo minha nova ca- racterística. Fascinado. Mas eu ainda tinha uma dúvida que queria tirar com Armand.

— O que tinha naquelas balas envenenadas?

— Sangue. Na verdade, o sangue de Zarovick, que é venenoso. Essa é uma entre várias habilidades que ele adquiriu com o passar dos anos. Ou seja, não deixe que ele te acerte. Você deve ter cuidado com sua katana, ela foi completamente banhada em seu sangue, mesmo um pequeno corte... Bom, viu o resultado.


Vi mas preferia não ter o visto. Daria tudo para que Miguel estivesse aqui. Mas não era possível... Porém, eu faria algo por ele. Enfrentaria Zarovick e os demais, entretanto eu teria que, antes, ter pleno controle das minhas habilidades.

— Obrigado por vir, Armand! Vou começar a agir

— disse decidido. — E... onde está Sophia?

— Ela está em minha casa. Quer que eu leve algum recado? — perguntou curioso.

— Eu preciso falar com ela, peça para ela me encontrar no... — pensei em um lugar — terraço do Central Park.

— Mas para quê? — Armand deu um breve sorriso.

— Você vai saber, fique tranquilo. Mas por hora apenas diga isso a ela.

— Ok. Certo... Então, vou indo. — Armand se retirou da casa, acredito que com várias perguntas por fazer.

Mas não poderia falar nada ainda. Era hora de atuar.

Chegou a hora da vingança!

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