Dupla

1.1K 175 20
                                    

Consigo sentir a essência do outono quando estaciono na vaga para motos e desligo meu veículo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Consigo sentir a essência do outono quando estaciono na vaga para motos e desligo meu veículo. A brisa que sinto depois de tirar o capacete é tão boa que me faz arrepiar. Outono é minha estação preferida desde criança, quase nunca deixo que os dias sejam vazios. E que bom que tudo está só começando.

No meio do caminho até as portas do colégio, eu avisto Mari com mais duas meninas no sentido oposto. O sorriso dela é igualzinho ao o meu: despreocupado e feliz. Nossos olhares também carregam o mesmo sentimento já que, ontem, realmente tivemos nosso segundo encontro e foi bem melhor por ter sido no cinema. Nem lembro qual filme assistimos, porque deixou de ser nossa prioridade depois de uns 20 minutos de sessão.

A questão é que, depois de passar por ela, ouço cochichos ininteligíveis de suas amigas. E depois vem a famosa risadinha que já estou acostumado em escutar. Não é preciso ser um especialista pra deduzir que as amigas de Mari se recusam a acreditar que nós dois estivemos saindo. A escola realmente está precisando de uma fofoca nova pra levantar a moral.

Quando chego até meu armário, as coisas voltam ao normal pra mim. A mesma rotina sendo cumprida pela milionésima vez, mas não me importo muito. Só guardo e pego o que preciso, e fecho a porta.

Mas algo novo surge depois disso. Eron está a 3 armários de distância de mim, empilhando alguns livros. Não o vejo desde quando mostrei o colégio pra ele. Talvez seja um bom momento pra dizer um oi.

— Alain! — ele diz quando me vê chegando — Oi.

— Lembrou meu nome — faço graça.

E ele ri. Porra, como eu amo o som dessa risada e não sabia que estava com saudades até ouvi-la de novo.

— Claro que eu me lembro. Por que esqueceria?

— Não sei. A maioria das pessoas preferem me esquecer depois que me conhecem — me recosto num armário.

— Sério? Por quê?

— Também queria saber — digo — Mas esquece. Precisa de alguma ajuda?

Afinal, Eron ainda não parou de pegar livros do armário dele desde o instante em que cheguei.

— Não, tudo bem, eu consigo — diz rapidamente mas, no segundo seguinte, o último livro que ele pega acaba batendo na pilha e tudo vai ao chão — Eita.

Dou risada.

— Eu te ajudo.

A gente se agacha e começa a pegar tudo. Tenho uma pergunta sobre o porquê ele precisou tirar tantos livros do armário, mas um deles me chama a atenção. É totalmente diferente já que todos ali são didáticos. Esse, no caso, possui um tom amarronzado e não tem nada escrito na capa além de um triângulo.

Sinto vontade de perguntar do que se trata, mas ele é gentilmente tirado da minha mão.

— Obrigado, Alain — Eron diz, se levantando.

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora