Chegou o grande dia. Pelo menos pra galera do clube de teatro. Finalmente poderão retirar todos aqueles cartazes e anúncios pelo campus que moldam um dos maiores orgulhos que essa escola têm. Fiquei sabendo que teve até gente que viajou milhares de quilômetros só pra ver seus filhos atuando aqui. Às vezes esqueço da influência e magnitude que essa instituição possui. E tenho certeza que é pelo sucesso do teatro que essa escola recebe tanto prestígio.
Mesmo assim, eu não estava tão interessado em vir assistir. Tinha planejado outra coisa pra fazer nesse sábado, envolvendo meu videogame e muito refrigerante. Mas duas coisas me fizeram mudar de ideia: Henri, que chegou a me ameaçar pelo headset durante uma de nossas partidas online ontem, dizendo que não hesitaria espalhar uma merda que fiz durante o natal que passei com sua família. Algo que incluía um taco de beisebol e o vidro do carro do pai dele.
E a segunda é que prometi a Eron que viria à essa peça. Dei minha palavra que o veria cantar na abertura pra quase mil pessoas e ficaríamos pra assistir tudo até o fim. Mas, porra, como eu poderia ir se nem sequer a pessoa que quero ver estará lá? Não faz sentido. E muito provavelmente colocarão alguém pra substituí-lo, já que continuei não tendo notícias dele durante os poucos dias que se passaram até a chegada da peça. Seria péssimo pra mim ver alguém cantar no seu lugar.
Ainda assim, aqui estou eu. Tendo que atravessar um espaço minúsculo entre várias das pessoas que já estão posicionadas nos bancos do teatro. Minha cabeça não para de apresentar diversas outras coisas que eu poderia estar fazendo agora ao invés de estar aqui. Detesto quando me tiram de um jogo contra minha vontade, por isso me sinto mais ranzinza que o normal e nem tenho medo de expressar. Mas Henri nem liga enquanto se ajeita no banco com aquele sorrisinho de filho da puta satisfeito por ter me arrastado aqui.
— Qual é, Alain. Você adora coisas medievais, reis e rainhas, guerra... — e ainda me dá algumas cotoveladas — A diferença é que envolve muitas cores e um pouco de música.
Não esboço um único sorriso.
Mas meu amigo tem razão. Gosto de histórias medievais tanto quanto as futuristas. Sobre as cores, deve ser de algum conceito artístico moderno que não captei. Os cartazes e panfletos se baseiam nos atores vestidos de realeza e plebe, todos com o rosto e roupas pintados de diversas cores sob a tinta. Quase como se a idade das trevas se baseasse numa partida de paintball.
Começo a balançar a perna. Tudo o que fiz pra me manter calmo começa a ruir, e sinto que vou surtar a qualquer momento. Eu não devia ter vindo. Devia ter sido mais persistente do que Henri em me chamar pra cá. Eu devia...
— Tá tudo bem, Alain? — sinto a mão de alguém tocando meu braço.
Olho pro lado e vejo Hana. Ela precisou se esticar um pouco, porque está sentada ao lado de Henri. Assinto rapidamente.
— Sabe... Eu conheço a diretora da peça e, segundo ela, não houve substituição de ninguém no elenco. Especialmente na abertura — diz, olhando pra mim com um sorriso convincente — Então ainda há chance dele aparecer.
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Feito de Luz [✓]
RomansaPara Alain Ross, a chegada do outono agora pode significar duas coisas: sua estação preferida finalmente está aqui, assim como os últimos meses para a conclusão do ensino médio. O plano que traçou até o tão esperado fim do ano letivo, enfim terá o r...