Henri

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Com a ausência da galera de educação física, eu e Henri aproveitamos pra cumprir nossa rotina de correr em volta da quadra sozinhos

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Com a ausência da galera de educação física, eu e Henri aproveitamos pra cumprir nossa rotina de correr em volta da quadra sozinhos. São 5 voltas, mas numa velocidade que nos faz suar pra caralho. Uma atividade que Henri é quem mais precisa, na verdade, já que é um requisito para os atletas do futebol. Eu só faço companhia pra ele.

Quando acaba, estamos ofegando. O frio também contribuiu pra que fosse um pouco mais difícil no começo. Chego perto da minha garrafa de água sobre um banco e abro com tanta pressa que é como se tivesse acabado de achar um baú cheio de ouro. Minha garganta agradece quando esse líquido precioso dá um banho nela.

— Acho que chega por hoje, né? — Henri comenta depois de beber a dele.

Assinto enquanto termino de engolir.

— Ainda pretende ir pra academia mais tarde?

Aham. Meu pai também vai junto dessa vez — diz e seguimos pra dentro — Você também vem?

— Claro.

Entramos no vestiário.

Estive evitando conversar com ele sobre uma coisa esse tempo todo. Procurando a oportunidade certa. Tenho medo de que dizer que  bissexual vá afetar negativamente nossa relação.

Somos amigos há muitos anos. Nada nunca separou a gente, mesmo quando realmente fazíamos algo pra prejudicar o outro. Uma vez, ficamos sem falar durante dois dias no máximo, porque recusei ir junto numa viagem que ele faria com a família. O problema não era que ele não se dava bem com eles — muito pelo contrário, é o queridinho dela — e me queria lá, mas sim porque nunca fizemos uma viagem sem o outro. Independente de qual família organizava, nós sempre chamávamos o outro.

Mas a verdade era que eu tinha brigado com meu irmão um dia antes e meu pai botou nós dois de castigo. Fiquei envergonhado de contar a verdade pro Henri, então inventei qualquer desculpa dizendo que "não estava afim". Porra nenhuma. Eles viajariam para as montanhas, e fazer uma trilha com Henri ia ser a coisa mais foda que a gente já fez.

Mesmo assim, tudo voltou ao normal depois. Henri me mandou um vídeo que filmou fazendo essa trilha com alguns parentes, e comentando as clássicas palhaçadas dele. Encarei isso como um "beleza, eu te perdôo, agora veja o que perdeu, babaca". Ele sempre foi assim. Nunca aguentou ficar tanto tempo sem falar comigo. E eu também não.

Só que a situação é diferente agora. Estou prestes a revelar algo bastante pessoal pra ele — talvez a maior de todas. Estamos em frente ao nossos armários, pegando em silêncio os produtos que iremos usar na ducha. Meu coração está acelerado. A oportunidade é perfeita, mas é tão ruim não saber qual será sua reação que eu hesito. Queria poder dizer que não perderia nada caso Henri se afastasse por isso, mas não. Perder sua amizade seria péssimo pra mim. Porra, e como ia.

Henri nunca mostrou um comportamento preconceituoso ou discriminatório antes. Sempre foi o cara que dizia "ei, isso não é legal, mano" depois de ouvir uma piada de mau gosto. Sempre corrigiu as pessoas de um jeito descontraído e instrutivo que só ele consegue. Então por que estou com medo? Por que sinto como se tivesse prestes a confessar um crime?

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora