Feito de Luz [✓]

Mari

Cara, como eu amo química. Poderia passar o dia inteiro só misturando e descobrindo tudo o que os elementos podem me mostrar quando se unem. Gosto de como as reações acontecem perfeitamente idênticas como o professor instruiu. Se tem uma matéria que eu tenho certeza que passaria sem nem fazer esforço, seria essa.

Mas, diferente de mim, minha dupla parece não gostar muito. Faz uns 5 minutos que Mari está batendo levemente os dedos no balcão, como se estivesse entediada. Ou talvez só queira chamar minha atenção. O fato de haver sincronia em cada dedo que toca o mármore, me faz pensar se ela está com algum problema mas se recusa a falar até que eu pergunte.

É insuportável. Eu poderia muito bem ignorar e prestar atenção na aula, mas não sou de ferro. Suas unhas fazem um barulho que me incomoda pra caralho.

— O quê que é? — boto a minha mão por cima da dela, forçando a parar.

E ela sorri, triunfante. Parecia ter certeza que eu não aguentaria.

— Ainda não tive sua resposta a respeito daquela proposta que fiz — diz — E você tem até o fim dessa aula pra se decidir.

Andei tão ocupado ultimamente, que nem me lembro o que era. A gente não conversou muito esses dias.

— O que era mesmo?

Ela dá de ombros e pega a caneta.

— Só uma reuniãozinha entre amigos — noto que está desenhando uma flor no cabeçalho do caderno — O Henri aceitou.

Reprimo uma risada.

— Aceitou, ou você o persuadiu?

— Aceitou, claro. Ele está namorando uma das minhas amigas, e eles também irão — comenta, e prossegue baixinho — Só falta você.

Engraçado. Lembro do Henri comentar sobre uma garota com quem andou saindo esses dias, mas não achei que fosse rolar algo sério. Meu amigo não é de namorar. Sempre pula de um encontro pro outro. Tenho vontade de aceitar esse convite só pra ver a palhaçada que o capitão do time está fazendo.

Respiro fundo antes de dizer:

— Vou pensar.

Minha atenção se volta à lousa, mas consigo ver de canto o sorriso satisfeito de Mari. Vou ser honesto: uma parte de mim quer ir à casa dela. Mari nunca deixou de ser atraente e eu quero essa noite pra gente. Quero usar desse momento a sós pra fazermos de tudo, e não só parar nas preliminares como das outras vezes.

Mas também tem a outra parte. A que implora pra eu não ir, e que fique em casa fazendo qualquer outra coisa que me deixe distraído. Estou num conflito estressante pra caralho com a minha própria mente, e trepar com alguém é a última coisa que preciso. Só quero a minha cama, mas que seja pra dormir nela.

Está sendo um dia difícil. Nem mesmo pude conversar com Eron durante o intervalo. Sei que, assim que sua aula acabou, ele teve que ir direto pra biblioteca com os membros de seu clube. Eu poderia muito bem passar lá pra dar um oi, mas não queria atrapalhá-los. E também não seria o suficiente.