Perspectivas

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Conto os dias e todos os segundos até a vinda do sábado

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Conto os dias e todos os segundos até a vinda do sábado. Nunca antes fiquei tão ansioso pra que um dia chegasse tanto quanto esse. A última vez que isso aconteceu, foi quando anunciaram a continuação do jogo que eu mais amo nessa vida. Lembro de ter ativado as notificações de todas as redes sociais que o estúdio tinha, só pra não perder nenhuma novidade até o dia do lançamento.

Felizmente, esse não precisa ser o caso agora. Tudo o que aconteceu foi eu ter mandado um "Ei" no mesmo dia pra que Eron soubesse que era eu falando com ele. E não sei se é bom ou ruim, mas a gente conversou bem pouco depois disso. Não sou do tipo que fica horas no celular mandando mensagens, mas, no fundo, eu queria que isso acontecesse com a gente.

A questão é que o dia finalmente chega. Decidi buscá-lo com o carro da minha mãe por dois motivos: um que está muito frio lá fora e o índice de chuva é enorme. E dois, porque eu simplesmente quis. Meus pais precisaram sair de manhã, provavelmente só voltam na parte da noite, e usaram o carro do meu pai pra isso. Só precisei de poucos segundos de conversa pra que minha mãe deixasse usar seu Honda Pilot animal.

— Qual é a das luvas? — pergunto quando as vejo na mão de Eron, logo depois dele sair de sua casa quando buzinei — Não está tão frio assim.

— Lá dentro estava muito gelado. Minhas mãos estão congelando — ele diz, depois de encarar aquele par cinzento e sutilmente felpudo — Achei que aqui estaria também.

Isso me intriga, porque as mãos dele são quentes pra caralho — até mesmo nos dias frios. Mas só assinto e estico o braço pra abrir a porta pra ele.

— Que carro bonito — comenta, admirando o interior enquanto coloca o cinto — Achei que viria de moto.

— Não achei o outro capacete — minto, sorrindo.

Ele só ri.

Poucos minutos depois já estamos na metade do caminho. Só a música do rádio cobre o interior do veículo com som. O silêncio entre a gente é um pouco constrangedor e às vezes olho de canto pra ver Eron. O fato dele encarar a janela com tanto fascínio me faz pensar que nunca esteve no centro da cidade antes. Quero perguntar sobre isso, mas não consigo. Tenho medo de acabar perguntando algo errado e deixá-lo inseguro em responder, então só continuo dirigindo. Basicamente se tornou um ciclo esquisito.

Estamos quase chegando agora. Consigo ver meu prédio a poucos quarteirões enquanto espero o semáforo abrir. Quando sinto a necessidade de ver Eron ao meu lado, percebo que ele também teve a mesma vontade. Afinal, nossos olhos se encontram ao mesmo tempo.

— Sua casa fica muito longe? — ele indaga.

Fico por um segundo só mexendo a boca, tentando decidir se perguntava o que queria a ele, ou respondia a sua.

— Na real, não — pigarreio — Falta só uns... dois quilômetros. É um daqueles prédios ali.

Ele segue a direção pra onde aponto e assente. Depois volta a encarar a janela e eu o observo discretamente. Mas a buzina de um veículo atrás de mim, me lembra que o sinal abriu e que ainda preciso estar em movimento.

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora