Motivos

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Desisto de ligar o carro depois da quarta tentativa

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Desisto de ligar o carro depois da quarta tentativa. Agora já sei que não se deve deixar um veículo exposto à uma temperatura de quase -11 C° e durante uma nevasca. Preciso avisar minha mãe que esse carro não é tão potente quanto mostrava nos comercias.

Tecnicamente, não é só o carro que não funciona. Descobri agora há pouco que não deixei meu celular carregando corretamente em casa e agora ele desligou. Ou seja, não tem como avisar a ninguém sobre o que rolou nos últimos minutos. Pelo menos a temperatura aqui dentro basta pra que não fiquemos tremendo.

Olho pro retrovisor e encontro Eron ainda inconsciente. Assim que consegui chegar no carro, deixei ele deitado no banco de trás com uma porrada de blusas que tirei de mim. Não sei o que passou pela sua cabeça em não estar vestido adequadamente quando decidiu fugir.

Mas aí me lembro que há quase uma hora, seu corpo inteiro parecia o interior de um vulcão.

Solto o ar devagar, praticamente tentando me convencer que o pior já passou. Porém, acho que nunca vou me acostumar de verdade com o fato do meu namorado ter poderes. Incorporar uma bomba ou arremessar caras pra longe através de uma centelha carregada.

Tem dias que queria que ele não tivesse me contado. Há coisas menos complexas que alguém lento e superficial como eu adoraria lidar.

Tipo, seria ótimo saber que Eron, na verdade, é um agente do FBI e que me seduziu apenas pra investigar minha família. Ou então que é um viajante do tempo enviado pra consertar os erros da humanidade e restaurar o futuro, mas que não deu muito certo quando acabamos nos envolvendo.

É complicado. Sei disso. Mas prometi que isso jamais iria interferir no que sinto por ele. Honestamente eu enfrentaria a nevasca e abraçaria seu corpo em brasa de novo se fosse preciso. Desistir nunca foi uma opção pra mim. Mesmo tendo todos os motivos. Gosto de imaginar que daria a vida por esse cara.

Meus pensamentos são deixados de lado quando ouço um movimento no banco de trás. Eron se apoia pra conseguir se manter sentado enquanto olha ao redor com uma cara de quem não tem a menor ideia do que rolou.

— Ei, vai com calma — digo quando tenta se levantar rápido demais.

— O quê... O que aconteceu?

"Bom, docinho, resumidamente você fugiu no meio da noite e achou que fosse uma boa ideia enfrentar o ápice do inverno indo até um bosque a quilômetros da sua casa enquanto seus poderes enlouqueciam ao ponto de queimar e explodir o solo num nível quase nuclear". É uma forma de dizer. Mas não a que ele precisa ouvir. Por isso conto tudo desde o início e do jeito certo. Cauteloso e compreensível. Porque nada do que houve é culpa sua.

Só que dá pra notar o remorso em seu rostinho ainda abatido. Ele se acusaria mesmo se os papéis fossem trocados. É típico.

— Você tá bem mesmo? — pergunto, mais atento agora — Tá sentindo alguma coisa?

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora