Adam

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Demorou só mais dois dias pra que eu decidisse voltar pra minha casa

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Demorou só mais dois dias pra que eu decidisse voltar pra minha casa. E acho que é um pouco inquietante que a palavra "casa" parece não ser tão concreta pra mim agora. Não tenho certeza se aquele apartamento onde nasci e morei a minha vida toda continuará sendo minha casa. Minha mente está lotada de dúvidas sobre o que vai ser de mim quando eu chegar lá. O futuro parece bem mais obscuro agora.

Mas tem uma coisa que me deixa aliviado. Antes que eu pudesse sair da casa de Eron, tivemos uma conversa bacana. Em uma das suas frases bonitas e otimistas ele havia dito que, independente do que acontecesse, eu seria sempre bem-vindo lá. Até me deu uma cópia da chave caso eu precisasse voltar. Apesar de querer muito, espero precisar usá-la somente pra visitá-lo.

Sinto um frio na barriga quando aperto o botão do elevador no subsolo. Não sei exatamente o que dizer quando chegar. Tentei pensar nas mais diversas coisas que pudesse falar enquanto viajava pra cá, mas nenhuma soou adequada o bastante. Nem sei se irão me receber de novo, pra começo de conversa. Talvez uma mala com minhas coisas esteja no corredor junto com um bilhetinho sutil dizendo pra eu seguir minha vida.

Tá. Acho que estou surtando um pouco. Falta só uns poucos andares até chegar no meu, e já sinto meu coração acelerado. Nem sei se meus pais estão em casa. Hoje é quinta-feira, provavelmente estão trabalhando. A questão é que essa semana não tem aula pra mim. O que me leva a crer que talvez só meu irmão esteja em casa.

Ótimo. Eu e Adam sozinhos em casa era a última coisa que eu queria. Quais as chances dele devolver a surra que dei nele? Ou quem sabe seja ele mesmo quem me dará o recado de que não sou mais bem-vindo ali e que é pra ir embora antes que me encha de soco? De qualquer forma, acredito que eu mereço todo o ódio que ele tiver de mim agora.

Levo um tempo pra abrir a porta depois que chego até ela. É impossível saber o que me espera, muito menos que seja positivo. Mas já estou aqui e voltar não é uma opção no momento. Por isso entro, e tranco novamente.

Tenho aquela conhecida sensação de estar me familiarizando novamente com a casa depois de ficar fora viajando. Vendo que tudo está onde estava da última vez. O mesmo aroma. Mesmo sentimento. Por um instante, me sinto em casa de novo.

— Não, querida, é esse aqui, olha. Esse você não pode comer — ouço a voz de Adam vindo da cozinha.

Isso prova que ele realmente está em casa, e muito provavelmente com a nossa irmãzinha. Volto a andar devagar.

— Isso, muito bom — ele encoraja.

Quase não me lembro da última vez em que ele precisou cuidar da Kara. Geralmente sou eu quem faz isso por livre e espontânea vontade. Mas sei que quando era a vez dele, sempre foi carinhoso com ela.

Paro no batente da cozinha e vejo os dois ali. Kara está sentada no balcão e Adam no banco alto de frente pra ela. Tem um prato com maçãs fatiadas e dois sucos de caixinha na superfície ao lado deles. Pelo visto está na hora do lanche.

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