Reforço

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Não sou do tipo que fica paranoico tão fácil

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Não sou do tipo que fica paranoico tão fácil. Às vezes gosto de pensar que sou durão o suficiente pra não se abalar com certas coisas. Mas não ter notícias do meu namorado há quase uma semana, mesmo depois de ter ligado e mandando algumas mensagens, fica um pouco complicado de aguentar.

O pior é que pareço não ser o único que notou isso. Enquanto saio do vestiário com Henri, depois da nossa aula de educação física percebo alguns olhares na gente pelo corredor. Rápidos gestos e cabeças se virando pra nos ver e voltar a seu próprio grupinho social. Semana passada eu também tinha percebido isso, mas não parecia tão frequente quanto agora. E me irrita num nível bem além do normal.

— Aconteceu alguma coisa que não tô sabendo? — pergunto a Henri.

Acabamos de deixar o prédio e agora estamos indo até o estacionamento de motos.

— Depende. Coisas acontecem aqui tão rápido que mal consigo acompanhar. Mas você fala da galera? — me surpreende que também já tenha percebido. Mas eu assinto. Ele sorri de canto — É só uma repercussão boba. Alguns ainda não sabiam que você namora um cara.

Ah. Então é de mim que se trata.

— Por quê? Não somos o único casal homossexual daqui.

— É, mas nenhum deles é Alain Ross — olha pra mim.

Franzo o cenho.

— Como assim?

— Ué, cara? Esqueceu de quem você é aqui dentro? — ele aperta meu ombro — Campeão de natação, ex-melhor jogador de futebol americano, segundo colocado no torneio de Jiu-jitsu, sem contar que ainda é um dos caras mais gostosos daqui — dá risada quando menciona essa parte — Lembra daquela lista?

Não tem como não lembrar daquela lista ridícula que repercutiu bastante pela escola nesse verão. Feito por algum grupo de pessoas desocupadas que acharam uma boa ideia escolher pessoas específicas pra estarem naquela lista, junto com uma descrição simples do porquê. Por mais que na coluna dos homens só continham elogios sobre o corpo, tamanho do pau ou a performance na cama, na das mulheres, senão estivessem falando de coisas bem íntimas, em outros estavam implantando um título obsceno que ainda persegue essas meninas até hoje.

Porque existe uma linha bem tênue que diferencia elogio de assédio.

Sinto um gosto amargo na boca quando me lembro do quão chata aquelas semanas foram depois que essa lista vazou.

— Mesmo assim não acho que esse seja o motivo — digo, segurando nas alças da mochila — Sinto que tem mais coisa.

— Na verdade é só isso mesmo, Alain. E não é como se estivessem tirando sarro de você. Só estão surpresos. Orientação sexual, pra alguns, ainda parece algum tipo de atração — diz e me dá um soquinho leve no ombro — Mas se alguém ficar de gracinha por causa disso, me avisa.

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora