Distração

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O livro que Eron me emprestou acaba me prendendo mais do que achei que seria possível

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O livro que Eron me emprestou acaba me prendendo mais do que achei que seria possível. A história tem uma trama incrível e eu me identifiquei com o Pat em vários momentos. É impressionante o efeito que esse livro está tendo em mim, e eu me sinto culpado por quase negligenciá-lo.

Pra começar, havia esquecido da existência dele quando cheguei em casa, pouco tempo depois de sair da de Eron. O que me permitiu lembrar, foi o momento em que precisei usar um perfume que guardo na minha mochila. Encontrei o livro bem protegido entre meus cadernos e fiquei aliviado por vê-lo exatamente como Eron me deu.

Mas a questão é o tempo que passei lendo essa obra. Tempo que eu jamais passaria até mesmo maratonando uma série, ou jogando videogame. Quase não dormi ontem porque fiquei a noite inteira lendo, logo depois que o 1° capítulo me fisgou. Aos poucos vou começando a entender o porquê que isso é tão valioso pra Eron.

Minha rotina mudou pra caralho também. Vou e volto do colégio com o livro na mão. Cada página é uma reação distinta de receio, risadas ou até choque. Emoções que me fazem ansiar por mais. Minha própria mãe estranhou quando chegou do trabalho e me viu deitado no sofá lendo. Chegou a me perguntar se era algum tipo de livro que foi passado como trabalho pra casa. Só que, mesmo que fosse, ela saberia que eu sequer me daria o trabalho de ler por obrigação.

Outra coisa que mudou foi quando eu precisei cuidar da Kara enquanto meus pais ficavam fora. Apenas me mantive deitado na cama, e minha irmãzinha ficou brincando com seus ursinhos ao meu lado. Uma vez ou outra eu brincava com ela só usando a mão, e nem tirava os olhos das páginas.

No treino de Jiu-jitsu foi a mesma coisa. Depois de cada luta, a pausa pra beber água ou só recuperar o fôlego era feita comigo sentado no tatame com a garrafa numa mão, e o livro na outra. Meu professor nem disse nada, e muito menos o pessoal. Acredito que eles devem entender que nunca é uma boa ideia incomodar pessoas que estão lendo, mas eu também facilitava quando terminava um capítulo bem a tempo de enfrentar meu próximo oponente.

A história desse livro me consumiu por completo. É um fato. Pessoas que só me conhecem pelo o que fiz na natação ou que sabem distinguir eu do meu irmão, também tiveram seu momento de estranheza quando me viam andando pelo corredor com um livro na mão. É ridículo, pra ser sincero, mas eu não me importo nem um pouco. Chega a ser interessante você se sentir acima de reprovações quando tem um livro como escudo.

Minha aula de química passa a ser só mais uma desculpa pra continuar lendo. Afinal, só se passaram três dias e já estou prestes a terminar. Consigo sentir a sensação de perda a cada página que viro.

— Vai ficar lendo isso o dia todo, Alain? Temos coisa pra fazer aqui — Mari diz. Mencionei que somos uma dupla nessa aula? Mas eu sequer respondo e só viro outra página — Alain!

O tom dela é alto o suficiente pra que o professor e todos os outros alunos mirem seus olhares em nossa direção por um segundo.

— Estou um pouco ocupado agora, Mari, não está vendo? — digo, voltando a olhar pro livro.

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