Apagão

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Ouço uma buzina que instantaneamente me faz voltar pro presente

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Ouço uma buzina que instantaneamente me faz voltar pro presente. Noto que ainda estou dentro do carro numa rua não tão movimentada. O bom é que a buzina não foi pra mim, já que estou estacionado perto da calçada. Afinal, estive olhando para uma casa no qual costumava visitar bastante um ano atrás. Interessante como nenhum outro morador ocupou esse imóvel depois da Abby e seus pais irem embora. Não sei se ainda é deles.

Olho para o GPS. Ainda está marcando a rota que configurei uns minutos atrás. Basicamente um lugar no qual Eron me mandou por mensagem hoje mais cedo. Não achei que no meio do caminho toparia com a antiga casa da minha ex. E o fato de eu ter "sonhado" com ela ontem — porque basicamente foi uma lembrança —, torna a coisa ainda mais esquisita.

Um roteiro desvanecido dos nossos últimos momentos juntos: Abby e eu numa chácara com nossos amigos num fim de semana do verão. Abby me levando até o lago perto da casa, e pouco além de uma trilha na floresta. Abby mostrando a tenda cheia de comida, travesseiros e vinho que preparou pra nós. Abby e eu transando uma última vez. Abby confessando que iria embora e que nunca mais nos veríamos novamente.

A questão é que meu subconsciente foi bem criativo em tornar nossa última noite num pesadelo meio sombrio e solitário. Sei que Abby se esforçou pra caralho naquele dia para que as coisas não fossem tão esquisitas depois de confessar. Mas não impediu que a gente ficasse mal mais do que já ficaríamos.

De qualquer maneira, volto a dirigir antes que alguém buzine pra mim de verdade.

Depois do que houve entre a gente, levou uns 2 dias pro Eron ter deixado minha casa. Hoje acordei e vi que seu lado da cama estava vazio. Senti a mesma coisa quando pensei que o dia já tinha chegado. Mas não consegui chorar quando caí na real. Pressenti que não era tarde ainda. Que ainda havia tempo. Talvez seja por isso que ele me mandou a localização de um dos condomínios mais elitistas que existem em Detroit.

É, eu dei uma pesquisada no lugar antes de sair de casa. Não sei exatamente o que me espera quando chegar, embora nesse meio tempo bolei algumas teorias estranhas.

Por mais que eu soubesse o que estava rolando, ainda não caiu a ficha. Não consegui me sentir triste, deprimido ou algo do tipo. Entendi que era algo além do meu alcance e queria muito que fosse diferente. Por isso só aceitei.

Ou, pelo menos, fingi que estava tudo bem. Estou ficando bom nisso.

Cerca de dez minutos depois, comecei a dirigir mais devagar quando minha entrada foi autorizada naquele condomínio. E que condomínio. Achei que já tivesse visto de tudo em Detroit ao ponto de não me surpreender com mansão nenhuma. Mas a cada curva que eu fazia, elas ficavam cada vez maiores. É como se aqui fosse um mundo diferente.

Parei quando vi o número da que estava na mensagem de Eron. Grande, moderna, janelas enormes do chão ao teto. Em uma das minha teorias, Eron na verdade teve que disfarçar seu poder aquisitivo morando numa casa bem simples num bairro mais simples ainda. Mas que esse tempo todo ele era um ricaço, herdeiro de uma fortuna imensa na Grécia e que estava numa disputa complicada pra resgatar esse dinheiro, por isso teve que se esconder.

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