Insurgência

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Faz uns 10 minutos que estou no carro do meu pai, teorizando o porquê dele ter voltado tão cedo

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Faz uns 10 minutos que estou no carro do meu pai, teorizando o porquê dele ter voltado tão cedo. Me recuso a perguntar. Quebrar o silêncio constrangedor dentro desse veículo de luxo é a última coisa que quero agora. E pra piorar estamos praticamente presos no trânsito — cortesia da chuva e horário de pico no centro. De repente pareceu um bom momento pra uma tempestade começar. Em todos os sentidos.

Sei que ele me viu com Eron. Dá pra notar sua expressão fechada pelo reflexo do vidro. A ideia do filho ser flagrado beijando outro homem parece chocante demais ao ponto de voltar correndo pra Detroit. Me surpreende que ainda não tenha dito uma palavra desde quando saímos da garagem do ginásio. Parece até que já sabia da minha relação com Eron. Ou talvez esteja guardando pra quando chegarmos em casa. Estamos bem perto, afinal.

— Você é muito irresponsável, Alain — acho que falei cedo demais — O que estava pensando em agir daquela forma? Você não tem vergonha?

Aperto o maxilar. Não posso explodir agora, mesmo com a merda do dia inteiro me dando motivos. Tenho a escolha de não deixar que piore, contanto que eu fique calado.

— Você não tem jeito. Essa é a última vez que aturo suas imprudências — ele continua — Semana que vem vou reconsiderar sua admissão naquele colégio militar.

— Você não tem esse direito — rebato, embora ainda esteja olhando pra janela.

— Eu passei a poder. Sua situação já saiu do controle. Se não sou eu quem vai te botar na linha, um ensino militarizado irá.

— Você nem sequer se importa comigo. Não tem direito algum de decidir isso — olho pra ele — Nunca teve. E com certeza não é hoje que isso vai mudar.

— Alain! — protesta quando abro a porta — Alain, volta aqui!

Nem espero que entre na garagem. Vou direto pela entrada principal do prédio e ando apressado até o elevador sem pensar em mais nada além do ódio que estou sentindo. Colégio militar? Em que porra de século ele vive? Por mais conservador e tradicional que seja, isso é uma decisão incoerente demais até pra ele. E o que ele quis dizer com "reconsiderar"?

Chego no andar do meu apartamento bem rápido. Não vejo ninguém quando abro a porta, mas sei que estão aqui. Melhor ainda. Assim posso entrar no meu quarto sem ninguém perguntar por que da minha pressa toda.

— Alain Duncan Ross, acho bom você não dar nem mais um passo! — a voz incisiva do meu pai ecoa logo atrás.

Porra, como assim ele já tá aqui?

— Ou o quê?! — esbravejo, virando pra ele — O que vai fazer dessa vez? Me botar direto na cadeia?

— Querido, o que foi? — minha mãe aparece pelo batente da cozinha, olhando tanto pra mim quanto pro meu pai — O que aconteceu?

— Mãe, eu não aguento mais esse cara me enchendo a porra do saco!

— Você não ouse falar assim comigo!

Feito de Luz [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora