Twenty three

2.4K 226 19
                                    

Eu estava sentada no sofá da casa dos meus avôs. Eu amava aquele lugar, principalmente por ser uma fazenda. Era no meio da natureza, cheio de árvores ao redor da casa. Estava chovendo bastante lá fora, e aquele cheiro de terra molhada era a coisa mais maravilhosa de se sentir naquele momento. Eu estava com meu violão no colo, tocando algumas músicas que eu havia escrito durante todo aquele tempo que eu havia ficado longe dos meus avôs, que foram exatamente um ano. Faz um ano que eu me mudei para São Paulo e faz um ano que eu os vi pela última vez, então é meio que relaxante estar ali novamente, cantando para eles. Eu sempre senti uma conexão enorme com os meus avôs por parte de pai, e isso não é pelo fato deu ter muito mais contato com eles, e sim porque eles são as pessoas que mais me entendem, depois do meu pai. É como se eles estivessem presentes na minha vida todo o momento, mesmo eu tendo ficado um ano longe deles, sem contado, eles estavam lá, eu não sei explicar como, mas estavam.

Meu avô é exatamente como o meu pai, um apaixonado nato. Foi ele quem ensinou tudo o que meu pai sabe sobre o amor e conversar com ele sobre isso é quase tão profundo quanto conversar com meu pai. É como uma coisa que se passa de pai para filho, mas no caso do meu pai, ele está passando para filha. Quando eu tinha os meus treze anos, eu achava que meu pai sempre dava mais atenção para os meus irmãos do que para mim, pelo simples fato deles serem homens também, eu achava que isso dava a eles mais conexão, sendo que hoje eu paro para pensar sobre isso e nem sentindo faz. Cada filho tem uma conexão diferenciada com seus pais, independente se é uma mulher ou um homem. Algumas filhas tem mais conexão e intimidade com seus pais e outras com as suas mãe, e a mesma coisa com os filhos homens. Porém, quando tive a coragem de falar sobre isso com meu pai, ele me explicou, que estava esperando o momento certo de falar comigo sobre algumas coisas que o pai dele falava com ele, e eu perguntei porquê ele queria falar comigo sobre aquilo, sendo que tinha o Rafael e o Renan, que eram homens como ele e que provavelmente entenderiam melhor o que ele tinha para dizer, e ele me disse; "Filha, assim que você nasceu, eu percebi que a minha conexão espiritual seria com você. Eu amo seus irmãos, afinal, eles são meus filhos também, mas com você é diferente, porque com você eu sinto que eu tenho algo para ensinar, com eles não. Com eles eu sinto que não precisam ouvir o que eu tenho para dizer sobre o amor. Eles vão amar, vão se apaixonar, assim como você terá tudo isso um dia, mas você precisa, mais do que eles, entender o que é o amor e como ele funciona para cada pessoa. E eu não estou dizendo isso, porque acho que você seja incapaz de aprender essas coisas sozinha, eu estou dizendo isso, porque acho que o que eu sei sobre o amor, o que meu pai, seu avô me ensinou, possa te ajudar mais do que ajudar seus irmãos." E meu pai, como sempre, estava certo. Renan sempre arruma uma namorada nova a cada mês, e provavelmente não encontrará o grande amor da vida dele, porque ele não se permite sentir essas coisas, mesmo com as coisas que meu pai fala tanto pra mim quanto pra ele, ele acha que tudo isso de amor, é uma grande bobeira. E bom, o Rafael não acha que o amor é a grande coisa que irá acontecer na sua vida. Ele prefere preservar sua carreira como psicanalista e professor, o que eu super entendo e admiro. Rafael é a pessoa mais inteligente que eu conheço. E eu, bom, eu ainda acho que encontrarei o grande amor da minha vida, assim como meu pai sempre falou. Ele costuma me dizer que a cada esquina há a possibilidade de se encontrar o amor, você só precisa estar aberta para recebê-lo. Quando você procura o amor, mas difícil fica para que ele te encontre, mas quando você relaxa e apenas curte os momentos como eles merecem ser curtidos, acaba acontecendo. O amor é um grande ponto de interrogação que provavelmente ninguém nunca saberá desvendar.

- Amo quando você canta para nós. - meu avô falou, me olhando com admiração estampada no seu olhar. Eu amava aquele velhinho.

- Eu fico um pouco nervosa de mostrar as minhas composições pra alguém, mas eu fico sempre muito feliz de cantar pra vocês. - sorri para eles. Eu sempre fui extremamente tímida com as minhas composições, mas graças ao universo, a faculdade de música estava me ajudando a superar isso, aos poucos, mas estava.

O Amor Entre Duas Elas (Dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora