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Saudade é um dos sentimentos mais urgentes que existe
...

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Uma semana havia se passado desde o dia em que Alfonso rompeu o relacionamento de anos. O que Diana sentia estava longe de ser só saudade, era mais que necessidade ou urgência de ter a pessoa por perto, de respirar o mesmo ar, frequentar os mesmos lugares, partilhar as mesmas alegrias. Era intenso, era desesperador, era...era... assustador.

As coisas na oficina já não eram as mesmas para ela, Alfonso tinha realmente pedido demissão assim que a oportunidade pintou e ela estava a dias sem vê-lo, sem sentir a presença dele, o cheiro. Por vezes ela procurava saber alguma coisa através de Sebastian, mas esse era ainda mais fechado e deixava escapar apenas o típico "Ele está bem".

__ Não se trabalha hoje?

Era uma segunda-feira como qualquer outra e ao contrário dos dias anteriores Diana não estava se preparando para ir trabalhar, pelo contrário, ela estava jogada no sofá da sala abraçada a uma almofada enquanto assistia alguma coisa desinteressante quando ouviu a voz da mãe ( Susan).

__ Pretendo passar o dia aqui mesmo.- Diana falou sem desgrudar os olhos da tv, não que ela estivesse interessada em assistir, apenas queria ocupar a mente com outra coisa.

__ Tudo isso por causa do seu ex?.- Susan perguntou com desdém e Diana revirou os olhos já acostumada com àquilo.

Susan era uma mulher bastante reservada e com a língua afiada no auge dos seus 50 anos. Casou-se muito cedo obrigada pelos pais e até hoje carrega a amargura de um passado conturbado conhecido por poucos. Ela nunca morrera de amores pelo namorado da filha, vivia tentando colocá-lo para baixo e mostrar as diversas maneiras que àquele envolvimento poderia dar errado.

__ Não estou te ouvindo mãe.

__ Pois deveria.- Falou ríspida.- Não quero que a minha filha se deixe levar por um rosto bonito e depois acabe grávida e abandonada por aí.- Susan rosnou com a voz carregada de amargura. Lembrando do passado.

__ Eu sei me cuidar .- Diana respirou fundo tentando manter a calma. A verdade é que andou irritada durante todos esses dias e qualquer comentário fazia com que perdesse a calma.

__ Sabe tão bem que entregou a sua virgindade em troca de nada.- Revirou os olhos frustrada.- E olha aonde você está agora, no fundo do poço.- Comentou encarando a filha que parecia abatida.

__ Você não tem mais nada para fazer?.- Diana perguntou cansada.

__ Eu só quero o seu bem Di.

__ Meu bem?.- Riu sarcástica.- A senhora até ontem não queria se quer saber como eu estava, nunca foi uma verdadeira mãe para mim durante todos esses anos e agora se preocupa comigo?.- Perguntou irritada.- O meu namoro com o Poncho terminou sim, mas eu sei que ele vai voltar para mim de alguma forma, então não precisa se preocupar.

__ Eu não quero que você passe pelo mesmo que eu passei!.- Gritou exasperada e Diana estreitou os olhos confusa.

__ Pelo que a senhora passou?.- Perguntou intrigada e Susan suspirou tentando conter os nervos.

__ Nada! Eu não passei por nada.- Falou com a voz afectada e foi para cozinha sem dar a oportunidade de Diana contestar.

A verdade é que o passado sempre volta. Por mais que a gente se esforce para manté-lo de baixo do tapete como se fosse um lixo visível e incômodo ele sai para nos atormentar. Demore o tempo que demorar, faça chuva ou faça sol ele sempre volta. E talvez... talvez tenha chegado a hora do passado de Susan ser exposto de alguma maneira.

Xxx

Geralmente nós acordamos com a certeza de que viveremos um dia como qualquer outro: veremos o sol nascer e se pôr dando lugar a lua, mas nada garante que a calmaria com que um dia começa seja a mesma com que provavelmente irá terminar e isso era muito fácil de observar.

Paz era uma palavra que a muito Lexie Grey desconhecia por viver em guerra constantemente. O sonho de um dia poder acordar e respirar um ar diferente estava cada vez mais distante. Ela se quer tinha noção de quanto tempo tinha passado dentro daquele quarto, havia perdido a conta de quantas vezes Velasco tomou o seu corpo com brutalidade, de quantas vezes levou uma surra sem ter feito nada, de quantas e quantas vezes fora ofendida moralmente.

Naquela manhã ela estava jogada no tapete da sala ainda tentando se recuperar do sexo anal da noite anterior, a dor era tão grande que ela se quer conseguia respirar direito. Por um milagre qualquer ou uma força divina, ela conseguiu arrastar-se até ao banheiro. Lexie tomara um banho quente, demorando um tempo considerável esfregando o corpo com as unhas que deixavam marcas por todos os lados. A água realmente poderia limpar toda sujeira física, mas a da alma.. Ah! Essa ficava!

__ TOMANDO BANHO E NÃO CONVIDOU O SEU MARIDO AMOR!.- Velasco gritou da porta do banheiro fazendo com que Lexie abraça-se o próprio corpo em desespero.- Como está o seu cuzinho? Ainda sentindo o meu pau?.- Gargalhou visivelmente divertido.- Termina esse banho logo que eu preciso falar com você.

Lexie terminou o banho o mais rápido que conseguiu, enrolou o corpo em um roupão e deixou o banheiro indo pro quarto. Velasco estava sentado na cama com uma taça de vinho entre as mãos quando a viu caminhando até si.

__ Você está acabada.- Velasco desdenhou ao ver as olheiras no rosto de Lexie.- Mas eu adoro vê-la dessa maneira tão peculiar.- Riu dando um longo gole na sua bebida.

__ Você queria falar comigo?.- Lexie perguntou encarando o chão.

__ Sim! Eu estou indo hoje mesmo para Chiapas, infelizmente não poderei levá-la comigo com essas manchas no corpo.- Revirou os olhos frustrado e Lexie suspirou de alívio, teria provavelmente alguns dias para descansar.- Mas não pense que terá paz meu amor, os meus homens ficaram encima de você dia e noite. Caso se comporte mal darei ordens para que todos eles usem e abusem do seu corpo entendeu?.- Velasco perguntou com a cara fechada e Lexie assentiu.- Mas antes quero mais uma vez mostrar para você que esse seu corpinho é todinho meu.

Quando Velasco deixou o quarto arrastando apenas um mala pela mão, Lexie continuou deitada na cama sentindo a intimidade latejar e sangue escorrendo entre as pernas. Não era a primeira vez que um sangramento ocorria depois de ter sido abusada pelo marido, por isso ela apenas caminhou até ao banheiro e tomou um segundo banho e dessa vez sem derramar uma lágrima, ela precisava dar graças a Deus por finalmente poder ter alguns dias de descanso. Quando terminou o segundo banho, ela enrolou o corpo em um roupão e seguiu para cozinha, fazia dias que ela não comia nada de jeito e estava realmente morrendo de fome.

__ Bom dia senhora.- Cumprimentou a governanta da casa assim que Lexie atravessou a porta da cozinha.

__ Bom dia Renata.- Sorriu fraco.- Você pode por favor preparar alguma coisa para eu comer?.- Lexie perguntou encarando Renata que assentiu.- Estarei na sala esperando.- Anunciou e deu as costas se dirigindo para sala. Nas primeiras horas do dia as coisas realmente pareciam estar em perfeita ordem. A mudança aconteceu por volta do meio dia quando Lexie ouviu sirenes da polícia e logo batidas na porta.

__ Quem chegou?.- Lexie sentou-se no sofá em alerta encarando Renata que parecia ter visto um fantasma.

__ Tem policiais na porta senhora.- Explicou tremendo.

__ Boa tarde senhorita, eu sou o detective Williams e recebemos uma denúncia de que nessa casa é feita lavagem de dinheiro.-O detective explicou calmamente e Lexie arregalou os olhos surpresa. Ela sabia que Velasco não valia se quer o prato que comia, mas lavar dinheiro? Era de mais só de imaginar.

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For Now And For Love [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora