Thirty Five

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“Não chore demais

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“Não chore demais. 
Não se culpe por muito tempo. 
Mas nunca se esqueça do que aconteceu” 

(While You Were Sleeping)

Hoseok:

        O nervosismo parecia que me destruiria por dentro e me corroia de maneira absurda enquanto os olhares do trio se concentravam em mim. Curiosos e tão ansiosos quanto eu. Minhas mãos transpiram e eu as esfrego na calça freneticamente.

        Enquanto fazíamos o trabalho ou enquanto comíamos, o que Kihyun havia dito para Sooyoung vinha a todo momento em minha mente, bem como, a resposta dela, que demonstrou descontentamento com a atitude do Yoo.

        Mesmo sem saber do que realmente aconteceu, Sooyoung me defendia com unhas e dentes de qualquer pessoa que tentasse algo contra mim. Ou que falasse mal de mim e diante disso, senti que já era hora de lhes contar o que realmente aconteceu.

        Me sentia receoso, e se Sooyoung passasse a me odiar depois de saber? E se ela não me quisesse por perto? Talvez eu não conseguisse lidar com sua rejeição, no entanto, não era justo continuar mantendo em segredo o que aconteceu. Talvez eu estivesse prestes a estragar o nosso namoro que acabou de começar, mas, Sooyoung precisava saber de tudo agora.

         Respirei fundo pronto para iniciar, mas Sooyoung me interrompeu:

— Você não precisa fazer isso se não quiser e não se sentir à vontade. – Sooyoung colocou sua mão sobre a minha, que, estava pousada em minha coxa. Segurei seus dedos e ganhei um pouco mais de coragem.

— Eu tenho que fazer isso, é preciso. – Expressei e Sooyoung entrelaçou nossos dedos. — Bem, vamos lá – Juntei coragem e finalmente comecei: — Tudo começou quando eu estudava na Kyung Hee High School. – As memórias começaram a voltar em um turbilhão em meus pensamentos. — Logo que me mudei pra lá conheci algumas pessoas, boas e ruins e entre elas, um grupo de sete garotos. Garotos que costumavam agir feito idiotas e naquele tempo eu não tinha muita noção do quão tóxicos e estúpidos eles eram. – Nem que minha vida mudaria tanto por causa deles. — Praticamente todos eles eram filhos de pais influentes e se conheciam desde bem pequenos, enquanto eu, só os conheci quando me mudei pra lá no mesmo ano. No mesmo período que iniciei meus estudos naquela escola, outro garoto também se mudou pra lá. Seu nome era Kim Jongin e do seu primeiro dia até o último, ele sofreu com o recorrente bullying que os garotos – que um dia considerei meus amigos – faziam. – Sooyoung, Changkyun e Seulgi me encaravam atentos, fiz uma pequena pausa pra respirar fundo novamente e continuar. — Ele tinha um problema no pé que o fazia mancar e, eu nunca o ataquei ou fiz piadinhas sobre isso, mas, os outros sete sim. Eu tentei os parar e impedir várias vezes e algumas vezes até ajudei Jongin a se livrar das surras que aqueles monstros lhe davam quase todos os dias.  – As expressões do trio mudaram, como se estivesse imaginando o que Jongin passava. — Eu era idiota e por eles serem legais comigo, achei que tudo bem continuar sendo próximos deles. Até que o pior dia da minha vida chegou. – Fechei os olhos sendo atormentado pelas memórias daquela tarde de outono, no terraço do colégio. Senti um nó se formar em minha garganta e lágrimas se formarem nos meus olhos.

— Hoseok… você não precisa continuar.. – Sooyoung disse e eu encarei momentaneamente nossas mãos – ainda – juntas.

— É, se for difícil demais pra você.. – Seulgi também falou, Changkyun concordou com ela.

— Tá tudo bem, mais cedo ou mais tarde eu vou ter que falar sobre isso. – Adiar mais só vai me deixar mais angustiado que o normal. — Em uma tarde depois das aulas, os garotos arrastaram Jongin até o terraço e voltaram a agredi-lo. Uma colega de turma me avisou que estavam lá, então fui até eles com a intenção de pará-los. Eu já andava de saco cheio do que estavam fazendo, havia finalmente me cansado daquelas atitudes, de vê-los causando dor aos outros e nunca sendo punidos pelo que faziam. Simplesmente por terem pais influentes que resolviam tudo fazendo “doações” em dinheiro. Quando cheguei no terraço Jongin já estava muito machucado, arrastei os garotos pra longe dele, querendo parar aquilo, só que eles se voltaram contra mim e nós discutimos e até chegamos a sair no soco, porém, eu não era o super-homem e não conseguiria lidar com todos eles sozinho, então fui obviamente derrubado. Depois de muito bater e apanhar, todo mundo parou e congelou ao notar que Jongin havia subido no guarda corpo do terraço. Ninguém sabia bem como reagir ou o que fazer, inclusive eu, que olhava toda a cena de joelhos enquanto era imobilizado. Um movimento errado e ele cairia de lá de cima, era só no que eu conseguia pensar – As lágrimas finalmente desceram e eu segurei um pouco mais forte a mão de Sooyoung. — Jongin me olhou e sorriu uma última vez, e antes que eu pudesse convencê-lo a sair de lá ou antes que eu conseguisse dizer algo, ele se jogou do prédio. – Ao lembrar comecei a chorar muito, era torturante ter aquelas memórias e carregar a culpa por não ter feito nada antes, por ter deixado chegar naquele ponto, por ter deixado que ele fosse morto. Aquilo não era um suicídio, era um assassinato.

        Eu não conseguia olhar pra nenhum dos três aqui presente, só me permiti chorar e encarar a mão de Sooyoung que ainda segurava a minha. O silêncio pairava sobre o cômodo, ninguém ousava dizer algo e eu não conseguia terminar o que tinha pra dizer. Sobre como a culpa do que houve foi jogada em mim – mesmo que de certa forma eu realmente tivesse culpa – , e o resto saiu ileso, sobre como o assunto foi esquecido. Jongin foi esquecido, mas não por mim.

        Porque segundo eles era o melhor para todos, ele já tinha morrido e não podiam deixar que um adolescente “suicida” estragasse o futuro daqueles que causaram sua morte. Além do mais, todos ainda tinham um longo caminho pela frente, menos Jongin. Ele não mais.

        Enquanto remoía as memórias em minha mente, senti a mão de Sooyoung se soltar da minha. Levantei a cabeça e a encarei imaginando o quão repulsivo ela devia me achar agora, contudo, fui surpreendido quando ela se aproximou mais e seus braços me envolveram carinhosamente.

— Você deve ter sofrido muito guardando tudo isso pra si durante esse tempo todo – A voz de Sooyoung parecia embargada, como se estivesse prestes a chorar. — Estou feliz que não estava errada sobre você. – A Joy não estava com raiva de mim, ela acreditava na minha verdade sobre o que houve. Só não fiquei feliz com isso porque as memórias e a culpa ainda eram presentes.

— Eu deixei que fizessem aquilo com ele.

— Não dependia só de você. O que aconteceu realmente foi horrível, mas, a culpa não foi sua. Não se culpe demais. – O abraço se intensificou e se tornou mais apertado.

        Quem disse que meninos não choram estava tão enganado. Sentia que estava chorando tudo que não chorei durante a minha vida inteira e conforme me sentia confortado por Sooyoung, mais lágrimas rolavam por minhas bochechas.

        Changkyun e Seulgi se aproximaram de nós e nos abraçaram, mostrando que também acreditavam em mim e estavam do meu lado. Pela primeira vez, eu não recebi olhares desconfiados e fui julgado ou deixado sozinho após revelar a verdade sobre o que realmente aconteceu.

        Pela primeira vez alguém me confortou.

Best Of You ▸ WonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora