Oito

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— O maior prazer da vida é fazer aquilo

que os outros dizem que você não consegue fazer.


— Não sabia que você viria para essa escola. — Perguntei, enquanto andávamos pela calçada, passando perto do único mercado da cidade.

— E eu não sabia que estudava nessa escola.

Rimos ao mesmo tempo. Parecíamos tão iguais e diferentes ao mesmo tempo.

— Aquela é sua namorada? — Perguntou Roy.

— Namorada? Não, não. É a Elisabeth. A minha amiga de que comentei. Estamos fazendo o trabalhando juntos.

— Ah sim... — Ele colocara as mãos nos bolsos de sua calça jeans.

Para não ficar aquele clima, pois estava sentindo que ficara um pouco, perguntei:

— O que a Estella é sua?

— É minha irmã adotiva.

— Não sabia que tinha uma irmã.

— Meus pais, depois que se converteram para a igreja, renovaram seus votos de castidade, voltando a serem puros. Porém, eles queriam ter uma filha. Então, resolveram adotar uma.

— Seus pais nunca foram cristãos?

— Não. Eles se converteram quando eu tinha 16 anos.

— Então não faz tanto tempo assim.

— Não, não faz.

— E você ficou feliz quando tomaram essa decisão?

— Meio que fiquei e não fiquei. Fiquei feliz por terem tomado um rumo em suas vidas. E não fiquei feliz pois eles quererem que eu siga o mesmo caminho.

— O que aconteceu?

Estávamos passando pela rua do parque da tarde passada, quando Roy fez um gesto para sentarmos novamente no balanço.

Nos acomodamos nos balanços e ele logo começou a falar.

— Meu pai era alcóolatra. E minha mãe reclamona com a vida. E que normalmente culpava meu pai e a mim, por tanta desgraça em sua vida. Sem saber que a maior culpada era ela mesma.

Ele parou por alguns instantes, pegando do seu bolso uma carteira de cigarro. Tirando um de vinte cigarros e colocando-o na boca.

— Tem isqueiro?

— Tenho.

Nunca jurei fazer algo assim um dia, porém eu fiz.

Fiz um gesto como se tivesse tirando, realmente um isqueiro do bolso. O movimento de estar acendendo o objeto tomou conta de minha mão e dei o fogo imaginário para que Roy pudesse acender seu cigarro.

Ele olhou para mim por alguns segundos e logo em seguida encostou o bico do cigarro no fogo que não existia e deu uma tragada profunda.

E eu guardei um isqueiro que não tinha de verdade.

— Não posso culpa-los, pelo que sou hoje. Mas se realmente a culpa é deles, só tenho que agradecer. O que sou hoje, sinto-me mais vivo do que nunca. — E deu mais uma tragada, em seguida batendo com dedo no cigarro para tirar o excesso de cinzas queimadas.

— Meus pais sempre foram cristãos. Desde criança frequento aquela igreja. Já participei de escola dominical e grupos de louvor. Até que certo dia, tudo aquilo que eu passei, não fazia mais sentido para mim.

— Por quê?

— Porque meus olhos começaram a abrir para coisas, que realmente faziam sentido para mim. Coisas que eu considerava antes, banais.

— E seus pais sabem disso?

— Não, não sabem.

— Pretende contar para eles algum dia?

— Eu ainda não sei.

— E o que dirá as estrelas sobre isso?

— Como é?

— O que dirá as estrelas?

— Não estou entendo sua linha de raciocínio?

Roy deu a última tragada no cigarro e repetiu o mesmo gesto que fizera no final da tarde do dia anterior.

— Costumo dizer que as estrelas sabem, absolutamente tudo. São velhas e sábias. Estão presentes desde o começo dos tempos. O que acha que elas irão pensar sobre isso? Acha que elas apoiariam contar agora ou depois?

— Eu não sei.

— Então, pergunte a elas e terá as respostas.

— Que?

— Pergunte a elas... Sério! Por mais que às vezes são demoradas, as respostas sempre vêm.

Roy olhava para os meus olhos, atentamente.

— Mas o engraçado, é que existem dois universos dentro de seus olhos. E nesses universos, um trilhão de estrelas, prontas para saltarem para fora. — Ele respirou profundamente. O parque estava em completo silêncio. — Eu sei que às vezes, o que eu digo, pode não parecer fazer sentido e você pode até me achar estranho, pelo meu comportamento anormal. Eu apenas tento levar as coisas para um lado que poucas levem.

— E por mais que às vezes eu não entenda, tento decifrar suas charadas. Não te acho uma pessoa louca.

— Eis a questão... Não são charadas. Muito pelo contrário. São coisas que qualquer um pode ver, só basta enxerga-las com novos olhos. Olhos que todos nós temos, porém poucos descobrem.

— E como descobrir esses novos olhos?

— Isso só você pode procurar. Só você deve saber.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora