Dez

68 7 0
                                    

— Me encanta tudo aquilo que

me tira da realidade.


O que dirá as estrelas?

Por mais que eu soubesse o que Roy estava tentando encaixar com a ideia de que as estrelas irão pensar algo, tinha alguma coisa além do que só eu podia contar a verdade para os meus pais. Me vinha a sensação de que ele queria que eu entendesse. Entendesse grandemente.

Mas o que seria esse negócio de entender? Entender o quê?

Enquanto conversávamos no parque, seus olhos eram tão penetrantes em mim, que eu às vezes ficava incomodado. Como se ele visse algo muito lindo ou até mesmo valioso e não conseguisse desviar o olhar, pois aquilo lhe chamava atenção.

E tinha a impressão de que ele gostava quando eu lhe perguntava sobre mais coisas ou até mesmo de quando não entendia algumas de suas teorias, que para muitos poderia se considerar maluquice. Porém, tudo aquilo era cativante. Empolgante. Mesmo que fosse algo que ninguém pensaria.

Dois universos em seus olhos, como "o que dirá as estrelas?".

O que poderia vir mais a adiante?

— Terra chamando Ettore! Onde está com a cabeça? — Disse Elisabeth, estalando os dedos na minha frente, tentando me tirar do transe em que eu me encontrava.

— Desculpa, o que estava falando?

— Na verdade, não estava falando nada. Iriamos revisar o trabalho para amanhã, está lembrado?

— Ah é verdade. Me perdoe.

— Tudo bem. Agora, vamos começar desde do zero. Eu apresento a minha parte para você, como se você fosse o professor, e assim vice-versa, está bem?

— Ok.

***

Estávamos prontos para amanhã. Tudo certo e resolvido. Apresentamos nossas partes muito bem explicadas um para o outro e fechamos o nosso trabalho com chave de ouro. Só estávamos torcendo para que nenhum dos dois travasse no momento. Mas tirando esse fato, estava tudo certo.

Ficamos reavaliando o trabalho só para ter a certeza de que não estava faltando nada ou se tinha passado do ponto e estaríamos falando coisas sem importância para a sala inteira. Mas tudo estava nos conformes.

Ficamos duas horas trancados no quarto e a noite havia chegado.

Não sei se é assim com seus pais, mas os meus dormem muito cedo, só para ter o descanso necessário de oito horas. Porém, eu ainda fico acordado. Só vou dormir lá para as dez ou dez e meia. Fico lendo, revisando matéria ou até mesmo vendo TV, nesse período.

E era uma dessas coisas que eu estava fazendo.

Estava deitado em minha cama, lendo as últimas páginas de A mente promiscua de um garoto solitário, quando escutei uns estalos irritantes na janela do meu quarto. Primeiro eu tinha pensado que poderia ser qualquer coisa que havia batido no vidro, pois na Carolina do Leste ventava bastante de noite. Mas logo veio a segunda, terceira e a quarta. Deixei o livro de lado, colocando-o aberto para não sair da página.

Ao seguir para a janela, Roy estava com uma pedrinha na mão e prestes a atacar outra novamente, porém desistiu assim que me virá parado na janela.

Ao abrir a janela, a primeira coisa que vi, foi a boca de Roy formar um sorriso.

— O que está fazendo aqui?

— Achei que pudesse vir aqui e dar um olá. E quem sabe conhecer seus pais.

— Eles estão dormindo.

— Como é?

— É uma longa história.

— Desce aqui!

— Roy, eu não sei se é uma boa ideia.

— Vem, desce. Pelo que eu saiba, corujinhas não dormem a noite.

Precisava arrumar um apelido para Roy rápido.

Fechei a janela, abri a porta do meu quarto e segui em direção ao hall de entrada que ficava no andar debaixo.

Por sorte, não estava usando meu pijama ainda.

— Eu iria deixar esse passeio para outra ocasião, porém essa é a ocasião perfeita.

— Espera, que passeio?

— Gostaria de vê-las?

— Ver quem?

— As estrelas.


O que dirão as Estrelas?Onde histórias criam vida. Descubra agora