Vinte e Dois (Roy)

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— Quando fico nublado por dentro,

lembro que preciso me deixar chover

para poder clarear.


Aos meus quatorze anos, eu me tornei algo que eu nunca achei que fosse me tornar. Talvez eu tivesse aquele Roy dentro de mim, desde quando eu vim para essa mundo, porém só ele sabia o momento certo de se despertar dentro de mim. Dois anos e sempre o mesmo inferno. As mesmas brigas e os mesmos banimentos para fora de casa. Aquilo tudo já estava dei

xando meu psicológico a mil, a ponto deu explodir a qualquer momento.

Aos meus doze anos, quando mamãe havia expulsado papai para fora de casa, eu achei que a partir dali tudo iria mudar. Mesmo não estando juntos, poderíamos seguir nossas vidas em paz, sem ao menos uma briga que fosse. Eu iria visitar papai aos finais de semana e tudo estaria resolvido.

Só que foi um engano meu.

Passados duas semanas, mamãe e papai haviam se "acertado", prometendo um para o outro não brigarem mais. Mamãe prometendo não reclamar mais de nada, enquanto papai fizera a promessa de beber apenas socialmente.

Mas tudo não passava de um mero blefe dos dois. E eu como uma criança boba, havia acreditado, sentindo que Deus havia escutado minhas preces. Só que não.

Mas não podia culpa-lo por isso. Ele havia outros problemas mais importantes do que as brigas bobas dos meus pais.

E foram dois anos de puro inferno, achando que tudo havia se resolvido.

E aos meus quatorze anos, me rebelei. Não contra eles. Mas contra a mim mesmo, matando a criança inocente, boba e fútil que eu era, para um Roy sem paciência, não dando atenção para detalhes que não valiam a pena dar e apenas fazendo um papel de um filho dado a tarefas dentro de casa, mas que nunca desperdiçava uma boa festa todos os finais de semana.

A partir daquele momento, tinha prometido para mim mesmo que não iria me tornar submisso e dependente aos meus pais, então fui atrás do meu primeiro emprego.

E não demorou muito para que eu o conseguisse, pois por mais que eu fosse um adolescente rebelde de quatorze anos, eu tinha responsabilidade e agia com maturidade, por mais que não parecesse às vezes.

E com o tempo passando, sem esperar homem algum, meus pais perceberam que eu havia mudado de uma tal forma, que acabou deixando-os chocado com a puta responsabilidade que eu estava tendo. Estudando de manhã, trabalhando quatro horas a tarde e ao chegar em casa, apenas escutando suas brigas e tapas, sem ao menos dar a mínima, enquanto limpava e lavava a lousa ou varria o chão. E assim, todos os dias. Sem reclamar e nem ao menos chorar, por mais que lá no fundo eu quisesse.

Até achei que minhas lágrimas haviam se secado.

Mas meus dezesseis anos de idade tinha chegado. E sim, estou pulando alguns momentos, pois não creio que venham ser interessantes, a não ser que você goste de algo monótono.

Sabia que não.

Aos dezesseis, foi quando conheci Genevieve.

Ela tinha acabado de entrar para a escola; provavelmente onde tinha uma vida bem mais legal do que a minha.

Ela tinha aulas junto comigo, todas as terças, quartas e sextas, onde a matemática, filosofia e química se faziam presentes.

Nos demos muito bem à primeira vista. Agradeço grandemente pelo sr. Muller, sra. Misty e o sr. Hortys, por terem nos colocado juntos em suas aulas.

Em matemática, Genevieve era a mais esperta com cálculos, onde sempre me ajudava em equações e frações, completamente complexas. Enquanto em filosofia, eu tomava conta de passar aquilo que eu entendia para ela. Um ajudava o outro, sempre disposta a fazer qualquer coisa que fosse.

E tudo aquilo, aquela amizade que florescia a cada momento, acabou se tornando algo a mais.

Genevieve era uma garota de cabelos longos de cor de chocolate. Olhos castanho-escuros, pele branca quase pálida.

Ela era linda por fora, mas também por dentro.

Era sábado, quando saímos junto aos amigos de Genevieve, para ficarmos de boa no Central Park da cidade. Levamos alguns cigarros, garrafas de vinhos e até mesmo uma garrafa de vodca com soda, caso alguém quisesse toma-lo para ficar mais pirado do que já estava.

Não bebia muito, mas fumava que era uma beleza na época.

Até que estava sendo divertido esse dia.

Pelo menos não estava preocupado com brigas, nem com as discussões dos meus pais.

Ali era eu. Eu e Genevieve, apenas. 

Tudo o que eu precisava naquele momento.

Ficamos sentados numa mesa, onde colocamos músicas para tocar, enquanto uns conversavam com os outros e claro, bebiam sem parar.

Genevieve e eu, estávamos sentados num dos bancos, bebendo um pouco, enquanto eu fumava um cigarro Black de cravo.

Até que certo momento, paramos de tagarelar e ficamos nos olhando, como se nossas almas estivessem pedindo um pelo o outro.

E quando nos demos conta, já estávamos nos beijando de uma forma tão boa, tão doce, que não queríamos parar nenhum pouco. Até os amigos de Genevieve começaram a gritar, espantados e surpresos. Apenas rimos com a situação.

E foi naquele momento que descobrimos que nos amávamos. Que tudo estava sendo construído para que déssemos certo.

Naquele momento eu soube o quanto o meu coração queria Genevieve. O quanto eu queria ela por perto. O quanto eu a amava.

Porém, foi o que eu pensei que fosse.



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